COP26 duvida de promessa de governo brasileiro. ‘Pedalada climática’
Deputado Nilto Tatto relata reação da comunidade internacional ao anúncio de aumentar meta para redução de gases poluentes para 50% até 2030
Ceticismo é a palavra que resume a reação da comunidade internacional ao anúncio feito pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, de elevar para 50% meta de redução de gases de efeito estufa até 2030. O compromisso foi assumido ontem (1º) na COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas, que ocorre em Glasgow, na Escócia. Nesta terça-feira (2), o deputado federal Nilto Tatto (PT-SP), integrante da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados, falou ao Jornal Brasil Atual sobre sua participação na COP26 e o descrédito do governo brasileiro.
“Tanto é que (a meta anunciada) foi apelidada como ‘pedalada climática’”, conta o parlamentar. “Você pode falar que pode assumir meta de redução, colocar qualquer número achando que o mundo todo vai acreditar. Na medida em que assume uma meta diferente do que o Brasil vinha assumindo – e é importante que o faça – precisa dizer como vai chegar a isso”, cobra o parlamentar. Isso porque, como lembrou o parlamentar, todas as medidas adotadas no âmbito federal nos últimos três anos indicam que o governo brasileiro não vai cumprir o que prometeu.
Se pretendesse realmente atingir a meta de redução de gases poluentes para 50% até 2030, avalia Tatto, o governo Jair Bolsonaro deveria estar demarcando terra indígena, território quilombola, recriando todo programa de controle do desmatamento na Amazônia. Deveria estruturar novamente o ICMBio, o Ibama. “Enfim, um conjunto de medidas que faz com que vai atingir essa meta. O que o governo está fazendo é passar uma narrativa, mas faz completamente o contrário dentro do país”, critica o deputado.
Vexame oficial
O resultado esperado da COP26 é que os países digam concretamente como vão atingir as metas com as quais estão se comprometendo. “É esse o grande problema do Brasil. A crítica que se faz é que se estipulou uma meta, mas não diz como vai fazer. Por isso estamos aqui. Para dizer que o Brasil precisa fazer sua parte, de fato fazer a redução das emissões. Para isso precisa controlar para não ter mais desmatamento na Amazônia, repensar todo o modelo de agricultura. ”
Tatto diz que todos esperam que os demais países não cometam o mesmo vexame que o Brasil está fazendo de forma oficial.
“O governo brasileiro está tentando dar um passa-moleque no conjunto dos países. Mas estamos aqui participando vários parlamentares de oposição, movimentos populares, ONGs, todos para mostrar que o Brasil é sério, tem compromisso, quer fazer sua parte. Mas temos um problema muito sério que é um governo que não está à altura do povo brasileiro e das responsabilidades que o Brasil pode assumir nesse debate das mudanças climáticas. ”
Tatto comentou ainda a maquiagem que o Brasil tenta fazer sobre o tema em seu stand oficial na COP26, com uma narrativa de política sustentável que não é real e é derrubada por todos os dados do setor. Além disso, falou sobre a importância da participação de governadores, prefeitos, parlamentares e movimentos que realmente trabalham em defesa do ambiente.