Clipping 3 de novembro de 2021

Manchetes

Governo ameaça punir deputados para gastar (Folha)

‘Plano B’ de extensão de auxílio ganha força entre deputados (Estadão)

Sob pressão, Brasil adere a acordo sobre gás metano (O Globo)

Custo da dívida sobe R$ 360 bi com inflação e decepção fiscal  (Valor)


AutoData

Volkswagen, Raízen e Shell selam parceria por biogás, novo etanol e eletropostos

A Volkswagen, a Raízen e a Shell anunciaram na sexta-feira, 29, iniciativa conjunta que visa a acelerar o processo de descarbonização. A parceria prevê o fornecimento de gás natural renovável pela Raízen, gerado por resíduos da cana de açúcar, para substituir parte do uso de gás natural das fábricas da Volkswagen no Brasil. Trata-se de projeto pioneiro na indústria automobilística.

O projeto contempla, ainda, o desenvolvimento de potenciais novas fórmulas de etanol pela Raízen, licenciada da marca Shell, para serem testadas em veículos Volkswagen: a empresa já está trabalhando com testes programados. A montadora adotou a postura de utilizar apenas etanol para abastecer sua frota.

A proposta também engloba o fornecimento de energia para rede de concessionárias da marca por meio das usinas de geração de energia renovável da Raízen e a instalação de rede de eletropostos, a começar por São Paulo. As medidas serão adotadas até 2023.

De acordo com Ricardo Mussa, CEO da Raízen, todo biogás tem origem no resíduo que vem da própria produção de etanol, o que antes não era aproveitado: “Essa é a economia circular. Fizemos investimento enorme em Piracicaba, que injetará diretamente na rede que abastecerá a Volkswagen”.

A Raízen aportou pouco mais de R$ 250 milhões em estrutura que não atenderá apenas à montadora. Segundo Raphaella Gomes, diretora de transição energética e renováveis da Raízen, o pioneiro nessa história é a visão holística ao compreender as capacidades de todas as empresas envolvidas num projeto de redução de emissões:

“Estamos provando que a descarbonização é possível hoje e com produtos que já existem, usando o etanol para os carros e os resíduos do etanol, que são a vinhaça e a torta de filtro, para produzir o biogás que gerará nosso gás renovável e abastecerá as fábricas da Volkswagen”.

Quando se compara o gás natural com o gás renovável, disse Gomes, têm-se mais de 90% de descarbonização. “Com um produto que é essencialmente a mesma molécula, uma substituição fácil de fazer”.

Com a iniciativa a Volkswagen deixará de emitir 19 mil toneladas de CO2 por ano. O presidente e CEO da Volkswagen América Latina, Pablo Di Si, constatou que isso coloca a marca à frente e contribui para o programa global da companhia, WayToZero, que pretende, até 2050, torná-la neutra em carbono. Di Si citou que o fato de apenas abastecer a frota da montadora com etanol já reduziu 1,7 mil tonelada de carbono.

Atualmente, de acordo com Mussa, quase 90% da frota nacional é flex, mas apenas 52% abastecem com etanol: “Temos ainda muito a fazer. Por isso incentivamos o uso do etanol: além de trazer grande benefício ao meio ambiente, quanto mais usado mais resíduo gera para abastecer a produção de eletricidade renovável”.

Com relação ao fornecimento de energia limpa às concessionárias o CEO da Raízen afirmou que consegue ter escala nacional devido à aposta em biogás, nas pequenas centrais hidrelétricas e em energia solar, esta última matriz que, segundo ele, já compõe mais de cinquenta projetos de geração de energia em andamento na companhia, que em meados de outubro adquiriu a Gera Energia: “Hoje conseguimos distribuir energia renovável e com custo competitivo. Toda essa eletricidade trará para o nosso cliente, neste caso o concessionário Volkswagen, redução no custo da conta de luz e redução das emissões”.

Produção – Di Si ressalvou que, pelo fato de a geração de gás renovável ser algo relativamente novo no Brasil, é preciso haver mais investimento e capacidade industrial para democratizar seu uso, à medida que a matéria-prima é abundante.

O potencial brasileiro de produção de gás renovável é de 120 milhões de m3 por dia, informou Raphaella Gomes, o que se trata de algo “gigantesco”, equivalente a cinco vezes o potencial estadunidense: “E metade desse potencial está na indústria da cana, que tem grande parte situada no Estado de São Paulo. Então São Paulo está sentado em cima de uma reserva gigantesca de gás natural renovável e a Raízen também. E essa parceria ajuda a tirá-lo do solo para criar essa indústria e favorecer o acesso ao combustível, substituto imediato dos fósseis e com aplicação industrial”.

A demanda atual é de 50 mil m3 a 60 mil m3 de gás, o equivalente a uma planta da Raízen, o que varia conforme a disponibilidade de vinhaça, disse a diretora: “A vinhaça que atenderá à Volkswagen não vem só do etanol de primeira geração. Porque o etanol celulósico, a partir do bagaço da cana, também produz vinhaça. Temos tecnologia que permite elevar a produção de etanol em 50%. O biogás, portanto, será de terceira ou quarta geração. É o resíduo do resíduo”.

Elétricos – Dentro dessa parceria das três empresas a Shell instalará rede de eletropostos no País, começando por São Paulo e, posteriormente, expandindo para outros grandes centros. A ideia é estabelecer a infraestrutura em corredores como São Paulo – Belo Horizonte e São Paulo – Rio de Janeiro, disse Mussa: “Não temos números finais dos investimentos, mas junto com a Volkswagen, que está trazendo nova linha de elétricos, o ID.3 e o ID.4, queremos acompanhar a evolução desse mercado”.

Lauran Wetemans, vice-presidente de negócios de downstream da Shell para a América Latina, destacou que a empresa não acredita em uma só via, se a aposta deve ser nos carros elétricos ou no hidrogênio: “No mundo inteiro vimos discutindo que há várias opções. E a alternativa que temos no Brasil é fantástica. Traz muitos benefícios para a sociedade e para o consumidor”.

Wetemans mencionou que a Shell possui, no mundo, frota de 500 mil carregadores em operação: “A velocidade da carga é importante quando você está na rota, não dá para carregar com 11 kW: é preciso ter uma carga rápida, e estamos aprimorando isso também para oferecer aqui”.

Automotive Business

Vendas avançam pouco, outubro é o segundo pior mês do ano

Foram emplacados apenas 150 mil veículos leves, forte queda de 27% sobre igual mês de 2020

Apesar de um tímido avanço sobre setembro (+5,4%), até agora o pior resultado mensal de 2021, outubro seguiu duramente afetado pela falta de chips na produção e fechou com apenas 150 mil emplacamentos de veículos leves e foi o segundo desempenho mais baixo do ano, de acordo com números antecipados pela Autoinforme.

Com esse resultado, outubro registrou forte queda, de quase 27%, sobre o mesmo mês de 2020 (205 mil emplacamentos), consolidando que a falta global de semicondutores para produção de veículos está causando mais estragos do que a pandemia de coronavírus no ano passado, quando a esta altura o mercado de carros e utilitários já girava acima das 200 mil unidades mensais.

Além da falta de componentes, outra explicação para o fraco desempenho é o mês mais curto para emplacamentos: outubro teve 31 dias corridos mas apenas 20 úteis e uma emenda de feriado com baixo volume de licenciamentos. Assim média diária de 7,5 mil lacrações subiu 10,6% sobre setembro e foi a maior desde junho.

No acumulado de 10 meses do ano, com 1,62 milhão de veículos leves emplacados, o resultado ainda segue positivo, mas em alta de apenas 7,7% sobre o mesmo período de 2020 – com a falta de semicondutores, esse porcentual vem caindo mês a mês e aponta para um fraco desempenho anual, um pouco acima do ano passado e insuficiente para recuperar as perdas já acumuladas.

AutoData

Bosch investe 400 milhões de euros para produzir mais semicondutores

Poucos meses após abrir sua fábrica de semicondutores em Dresden, Alemanha, a Bosch anunciou investimento de € 400 milhões para expandi-la, para ampliar a capacidade em Reutlingen, também na Alemanha, e para criar um novo centro de testes de para semicondutores em Penang, Malásia.

Dresden ficará com a maior parte do aporte, cuja expansão virá antes do planejado. Em Reutlingen os espaços das salas limpas, locais onde são feitos os semicondutores, serão ampliados de 4 mil m² para 35 mil m².

“As demandas por semicondutores crescem em uma velocidade vertiginosa”, afirmou, em nota, Volkmar Denner, CEO da Bosch. “Por causa dos desenvolvimentos recentes estamos expandindo exponencialmente a nossa produção de semicondutores para atender aos nossos clientes da melhor forma.”

Automotive Business

Mercedes-Benz define novo presidente no Brasil

O alemão Achim Puchert assume no lugar de Karl Deppen a partir de janeiro

A Mercedes-Benz anunciou nesta sexta-feira, 29, que o alemão Achim Puchert será o novo presidente da empresa no Brasil, sendo responsável pela operação de caminhões e ônibus na América Latina. O executivo de 42 anos vai assumir o cargo a partir de 1º de janeiro de 2022.

Atual head de vendas da Daimler Trucks & Buses Overseas (DTO) e head de vendas internacionais, marketing e serviços ao cliente da Daimler Trucks Asia, Puchert substitui Karl Deppen, 55 anos, que vai integrar o conselho de administração da Daimler Truck AG a partir de 1º de dezembro de 2021, sendo responsável pelas operações asiáticas da companhia.

A mudança reforça a rapidez da passagem de Deppen no País: ele assumiu a presidência em julho do ano passado, substituindo Philipp Schiemmer, que ficou no comando da montadora no Brasil por sete anos.

“Achim Puchert é um dirigente com experiência internacional e altamente especializado no setor de veículos comerciais”, disse Karin Rådström, CEO da Mercedes-Benz Trucks, ao lembrar que a nova organização de vendas DTO foi fundada sob sua liderança, com o objetivo de unificar sob um único teto todos os produtos e serviços da Daimler Truck para os principais mercados de exportação.

“Ele realizou um importante trabalho de desenvolvimento e colocou em movimento muito do necessário para todas as marcas da Daimler Truck alcançarem uma ótima posição em mais de 130 mercados. Acredito que seu amplo conhecimento, expertise internacional e qualidades de liderança o tornam a melhor escolha para conduzir nossos negócios no Brasil”, finalizou Rådström.

Puchert começou na área de vendas de caminhões e vans da Daimler Escandinávia em 2002, antes de entrar no programa internacional de trainees em 2006.

Depois ele passou pela Daimler Europa Central e Oriental, África e Ásia (DCAA) e pela operação na Rússia. Em 2015, assumiu como chefe das operações e cooperações internacionais da Mercedes-Benz Caminhões.

Em 2019, o executivo foi promovido a diretor de vendas internacionais, marketing e serviços ao cliente da Daimler Trucks Asia e, um ano depois, também assumiu como head de vendas da Daimler Trucks & Buses Overseas (DTO).

Puchert assumirá uma empresa com mais de 10 mil funcionários, fábricas em São Bernardo do Campo, Campinas e um campo de provas de veículos comerciais em Iracemápolis, em São Paulo, além da planta de Juiz de Fora (MG).

Automotive Business

Volkswagen anuncia mudanças no comitê executivo

Miguel Sanches assume operações e Joern Kuch cuidará da área de qualidade

A Volkswagen anunciou nesta segunda-feira, 1º, duas novidades no comitê executivo da montadora no Brasil, que assumirão as áreas de operações e de qualidade em datas diferentes.

A partir do dia 1º de dezembro, Miguel Sanches será o novo vice-presidente de operações da VW do Brasil e Região SAM, que compreende América do Sul, Central e Caribe. Ele vai substituir António Pires, que irá se aposentar.

A partir de hoje, Joern Kuch assumirá o posto de diretor de qualidade assegurada da VW do Brasil e Região SAM. Ele vai substituir Jorge Paulo, que foi promovido a chefe da qualidade assegurada da FAW-Volkswagen China.

Formado em engenharia de materiais, Miguel Sanches, 52 anos, iniciou a carreira na Autoeuropa em Palmela (Portugal), em 1993. Ocupou vários cargos de gestão na montagem e carroceria até 2009, além do cargo de chefe da produção. Em 2011, mudou-se para a VW México, como chefe de produção. Ainda no México, em 2014, tornou-se vice-presidente de produção e logística. Desde 2016, comanda a Autoeuropa em Palmela.

Formado em engenharia mecânica e com MBA em administração, Joern Kuch, 53 anos, iniciou a sua carreira como consultor interno de Lean Management na VWAG Alemanha, em 2009. Entre 2014 e 2017, atuou na fábrica de motores na Rússia como diretor de produção e da planta. Em 2017, assumiu a área de qualidade central em Wolfsburg, Alemanha.

R7

Após revisão, número de empregos criados em 2020 cai pela metade

Resultado, amplamente comemorado pelo governo em meio à pandemia, foi, na verdade, 46,8% inferior ao anunciado

O número de vagas de trabalho com carteira assinada criadas em 2020 foi 46,82% inferior ao anunciado em janeiro, com muita comemoração, pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e toda a equipe econômica. A atualização, fruto das revisões apresentadas pelo Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), derruba de 142.690 para 75.883 o saldo de vagas formais abertas ao longo dos 12 meses do ano passado.

A diferença é resultado de um número 2,2% maior de demissões (de 15,023 milhões para 15,361 milhões) e apenas 1,8% superior de admissões (de 15.023.531 para 15.361.234) após a inclusão das revisões nos cálculos oficiais.

“A grande notícia para nós é que, em um ano terrível em que o PIB caiu 4,5%, nós criamos 142 mil novos empregos”, comemorou Paulo Guedes ao divulgar os dados do Caged, no dia 28 de janeiro. Ele atribuiu o resultado positivo ao BEm (Benefício Emergencial para Preservação do Emprego e da Renda), criado para limitar as demissões durante a pandemia do novo coronavírus.

A maior discrepância registrada entre os dados divulgados e atualizados, de 177,2%, foi apurada no mês de junho. No período, foi comunicado que o Brasil havia cortado 10.984 postos formais de trabalho, mas, na verdade, a perda foi ainda maior, de 30.448 vagas.

Em termos absolutos, a principal diferença foi contabilizada no mês de abril, quando ocorreram 963.703 demissões a mais do que contratações com carteira assinada, número que traz 103.200 mais perdas em relação aos 860.503 cortes inicialmente anunciados.

Algumas das revisões também resultaram em volumes mais significativos de contratações, como o ocorrido em janeiro e fevereiro, os dois últimos meses sem o impacto da pandemia do novo coronavírus na economia. Os novos resultados são, respectivamente, 76,4% (de 66.818 para 117.893 postos formais) e 19,5% (de 188.869 para 225.648 vagas) maiores do que os inicialmente anunciados.

Em nota enviada ao R7, o Ministério do Trabalho e Previdência, pasta agora responsável pela divulgação dos dados do Caged, afirma que as diferenças levam em conta as declarações feitas pelas empresas fora do prazo. O processo pode reduzir ainda mais o saldo final de empregos criados no ano passado.

“Os dados do painel consideram as declarações feitas fora do prazo. Elas são incorporadas às estatísticas até 12 meses após a movimentação acontecer. Assim, até dezembro de 2021 podem ser incorporados dados que vão impactar o saldo de 2020”, destaca o comunicado.

Estadão

Lira insiste com precatórios, mas deputados falam em ‘plano B’ para o Auxílio Brasil

Após o próprio presidente Jair Bolsonaro acenar com o “plano B” da prorrogação do auxílio emergencial, lideranças governistas tentam manter vivo o “plano A” para tirar do papel o Auxílio Brasil, sucessor turbinado do Bolsa Família.

Nas últimas horas do feriado, as negociações se intensificaram em busca de um acordo com a oposição para votar nesta quarta-feira o texto da PEC dos Precatórios, que abre espaço de R$ 91,6 bilhões no Orçamento de 2022, dos quais R$ 83,6 bilhões “livres” para serem destinados à ampliação do programa social e outras demandas, como o auxílio diesel a caminhoneiros e emendas parlamentares. Mas, no Congresso, vem ganhando força a ideia de prorrogação do auxílio emergencial, cuja última parcela foi paga no domingo.

A PEC dos Precatórios foi enviada ao Congresso com o objetivo de limitar o pagamento de dívidas judiciais e abrir espaço para o Auxílio Brasil, inicialmente de R$ 300. Mas depois acabou sendo modificada para incluir a mudança na fórmula de cálculo do teto de gastos, a regra que limita o crescimento das despesas do governo, o que abriria espaço para gastos bem maiores. Mas sua aprovação na Câmara está longe do consenso.

Segundo apurou o Estadão/Broadcast com três fontes do Congresso envolvidas nas discussões, está na mesa uma proposta de acordo para fatiar o pagamento das dívidas judiciais (os precatórios) da União com Estados decorrentes do Fundef, fundo para a educação básica que vigorou até 2006. A dívida responde por cerca de R$ 16 bilhões dos R$ 89 bilhões em precatórios inscritos para o ano que vem e é um dos motivos da queda de braço entre governistas e oposição para a votação da PEC.

A proposta original, na prática, adia a quitação dos débitos relativos ao Fundef para depois de 2022. Por isso, na última semana, governadores de Estados que têm recursos a receber (Bahia, Pernambuco e Ceará) fizeram corpo a corpo com deputados para tentar barrar a proposta.

Como o governo ainda não consegue sozinho garantir os 308 votos necessários à aprovação da PEC na Câmara, diante de resistências dentro de partidos como MDB e PSDB, o presidente da Casa, Arthur Lira (Progressistas-AL), tem dialogado com a oposição em busca de um acerto.

Em uma dessas opções de acordo, seriam pagos 40% do valor dos precatórios do Fundef (cerca de R$ 6,4 bilhões) ainda em 2022, mas fora do teto de gastos. Outros 30% seriam quitados em 2023, e os 30% restantes, em 2024. Outra possibilidade seria fatiar o pagamento em 60% em 2022 e 40% em 2023, também fora do teto de gastos.

Segundo uma liderança aliada do governo ouvida pela reportagem, várias alternativas são estudadas, e a que for “mais sólida em termos de votos” deve prevalecer. No entanto, essa fonte admite que chegar aos 308 votos necessários “é o maior desafio”. O Ministério da Economia defende que o texto seja aprovado sem modificações.

O teor do texto final da PEC dos precatórios não é o único impasse que cerca a votação desta quarta-feira. Parlamentares governistas e de oposição manifestam desconforto com a possibilidade de mudanças no relatório da PEC em plenário ocorrerem sem o devido respaldo em emendas já apresentadas, como manda o regimento.

“Acho que não se pode abrir tanto precedente, o regimento é para ser cumprido”, afirma o primeiro vice-líder do MDB na Câmara, Hildo Rocha (MA). Membros da oposição também criticam o risco de se “rasgar o regimento” e afirmam que o governo, ao acenar com o acordo, está tentando “vender terreno na Lua”.

Há ainda uma preocupação com o quórum de deputados na volta de um feriado prolongado. Nos bastidores, as apostas se dividem entre grande número de ausentes e presenças em quantidade suficiente, mas sem ter votos para assegurar a aprovação.

Destoando dos prognósticos mais pessimistas, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-PR), afirma que a PEC deve ser aprovada em dois turnos ainda esta semana. Nos cálculos do governo, o assunto precisa ser liquidado nas duas Casas até a metade de novembro para viabilizar o pagamento dos benefícios. “Estou trabalhando para trazer a base para aprovar sem oposição.

Mas a oposição está conversando com o relator (deputado Hugo Motta)”, diz Barros. Segundo ele, Lira também está auxiliando nessas conversas. Para o líder do governo, a oposição está “muito desconfortável” em votar contra uma PEC que abre caminho à ampliação de políticas sociais e, por isso, haveria chance de acordo. “Para eles é complicado politicamente”, afirma.

O líder da oposição na Câmara, Alessandro Molon (Rede-RJ), refuta a tese de desconforto e diz que a bancada “não tem nenhum problema em votar contra” a PEC. Segundo ele, os deputados opositores votariam a favor de um crédito extraordinário para prorrogar o auxílio emergencial – medida que já está sendo analisada pelo Palácio do Planalto, como mostrou o Estadão/Broadcast. “Somos favoráveis ao auxílio e não temos medo desse debate”, diz Molon.

“Eles não têm voto. Nós da oposição somos contra (a PEC) porque é um calote nos brasileiros que ganharam na Justiça o direito de receber seus recursos, retira bilhões da educação por meio do adiamento dos precatórios do Fundef e destina mais dinheiro ao governo do que ao Auxílio Brasil”, afirma o líder da oposição, em relação às emendas parlamentares.

O líder do PT na Câmara, Bohn Gass (RS), também critica o uso do espaço aberto no teto de gastos para turbinar as chamadas emendas de relator, usadas pelo governo para distribuir recursos a aliados sem a devida transparência e equidade entre parlamentares.

Segundo ele, não há possibilidade de acordo com a oposição, uma vez que parte do dinheiro iria para essas emendas – como mostrou a reportagem, o Congresso quer um “piso” de R$ 16 bilhões em emendas de relator para distribuir a seus redutos em ano eleitoral. “Isso não é democrático e não é aceitável”, diz Bohn Gass. “Falam que o PT foi o governo da gastança, mas agora, em período eleitoral, eles querem fazer demagogia.”

Nos bastidores, há relatos de que as emendas de relator estão sendo usadas pelo comando da Câmara na tentativa de angariar votos favoráveis à PEC, inclusive na oposição. Por outro lado, há por parte de deputados o temor de a aprovação da proposta fortalecer ainda mais Lira e Bolsonaro às vésperas de 2022.

Valor

Custo da dívida sobe R$ 360 bi com inflação e decepção fiscal

Cálculo, feito pelo economista Sergio Goldenstein, da Renascença DTVM, considera apenas o custo do estoque da dívida pública mobiliária, que hoje ronda a casa dos R$ 5 trilhões

Ao falar em “licença” para gastar além do teto de gastos, o que aumentou muito a desconfiança dos agentes do mercado com a política fiscal do governo, o Ministério da Economia também elevou o custo para o próprio financiamento do Brasil, manejado pelo Tesouro. Após as declarações do ministro Paulo Guedes sobre a licença, ou “waiver”, para gastos com o Auxílio Brasil, o secretário do Tesouro Bruno Funchal – visto como um dos principais “fiadores” da política econômica – anunciou sua saída do cargo.

O aumento do temor fiscal elevou o “prêmio” pedido pelo mercado para comprar títulos brasileiros e deve contribuir para esticar o movimento de alta dos juros. Se a taxa Selic subir os nove pontos percentuais previstos no ciclo iniciado pelo Banco Central em março e o IPCA ficar 5,75 pontos acima da meta de inflação, o custo adicional ficará em R$ 360 bilhões por ano, considerando que o estoque da dívida pública mobiliária ronda a casa dos R$ 5 trilhões.

O cálculo, feito pelo economista Sergio Goldenstein, da Renascença DTVM, considera apenas o custo do estoque. Não se sabe qual será a estratégia para rolar a dívida de R$ 1,1 trilhão que vencerá em 2022, mas é certo que o Tesouro terá que lidar com taxas mais altas nas emissões de papéis prefixados, uma vez que os juros futuros são negociados com taxas superiores a 12% em praticamente todos os vencimentos a partir de 2023.

Da mesma forma, as NTN-Bs pagam juros reais perto de 5,5%, muito acima do juro neutro, estimado entre 3% e 4%. “Os preços que achávamos que iríamos bater na eleição estamos vendo agora”, diz Luiz Eduardo Portella, da Novus.

Ele observa que os juros futuros apontam para uma Selic de 14% em 2023, o que carrega uma dose importante de prêmio de risco. Nesses momentos, há duas saídas para o Tesouro: fazer emissões mais curtas – o que gera um risco de rolagem – ou ampliar a oferta de papéis pós-fixados, as LFTs, que podem ser mais demandadas em tempos de alta da taxa básica, mas pioram o perfil da dívida.

Valor

Indústria perde intensidade tecnológica nas exportações

Vendas de menor valor agregado crescem, mas déficit comercial do setor persiste

A alta de preços das commodities contribuiu para um valor recorde de exportação de bens manufaturados de menor intensidade tecnológica neste ano, mas a ajuda não foi suficiente para evitar o avanço do déficit na balança comercial da indústria de transformação. No acumulado do ano até setembro, o saldo negativo foi de US$ 37,3 bilhões, o maior para o período desde 2013. A luz amarela fica principalmente para os ramos de maior intensidade tecnológica, mais sensíveis aos choques resultantes da pandemia.

Dados da série histórica mostram, porém, perdas relacionadas a questões estruturais domésticas que podem dificultar a inserção da indústria no rearranjo em curso das cadeias produtivas globais e na corrida tecnológica para manter competitividade. De 2018 até este ano a exportação dos ramos de alta e média-alta tecnologia perdeu praticamente dez pontos percentuais de participação no embarque total da indústria de transformação.

Levantamento do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostra que a exportação de bens da indústria de transformação atingiu US$ 104,6 bilhões de janeiro a setembro deste ano, com alta de 26,6% contra igual período do ano passado e de 10,6% em relação a 2019, antes da pandemia.

A recuperação, porém, se deu principalmente pelo desempenho de ramos industriais menos intensivos em tecnologia. As indústrias de média e média-baixa tecnologia tiveram exportação recorde de toda série histórica desde 1997 considerando sempre o período de janeiro a setembro, com embarques de US$ 21,6 bilhões e de US$ 54,5 bilhões, respectivamente.

Rafael Cagnin, economista-chefe do Iedi, diz que destacam-se nesses grupos os ramos de metalurgia, de alimentos e derivados de petróleo, que incorporaram a alta de preços de commodities metálicas, agrícolas e energéticas. O risco para esses ramos, diz o economista, é a vulnerabilidade em relação ao ritmo de crescimento da economia chinesa, que impacta os preços de commodities.

Ele lembra que Pequim sinaliza uma transição de modelo de crescimento mais voltado à qualidade, com compromissos como a agenda ambiental, exemplifica, que podem levar a uma desaceleração econômica. Esse dinamismo dos ramos de menor intensidade tecnológica, diz Cagnin, faz parte de uma mudança de composição na pauta de exportação da indústria de transformação.

Nela, os segmentos mais intensivos em tecnologia perderam espaço. Ainda que os embarques dos ramos da alta tecnologia tenham crescido 14,2% de janeiro a setembro deste ano em relação a iguais meses do ano passado, há ainda uma queda de 36,7% em relação a 2019.

Cagnin destaca que não há apenas um impacto da pandemia nesse conjunto de ramos de alta tecnologia. O grupo é composto por setores com comportamento volátil, como a indústria farmacêutica e o complexo eletrônico, além da fabricação de aeronaves, setor mais afetado pela crise sanitária. Desde 2018, antes da pandemia, porém, frisa o economista, esse grupo tem exportação com variação negativa sistemática nas comparações trimestrais, na margem. A única exceção, diz Cagnin, foi o segundo trimestre deste ano.

A série histórica do setor levantada pelo Iedi revela que a alta tecnologia ficou com fatia de 3,8% da exportação total da indústria de transformação de janeiro a setembro deste ano, a menor participação desde 1997. Em 2018 era de 7,8% e em 2001, de 14,1%, sempre considerando os mesmos nove meses. “A queda de participação brutal mostra a dificuldade de assegurar competitividade desses ramos mais sensíveis à concorrência internacional”, comenta. “Estamos com participação, que já era minoritária, extremamente marginal, frente a uma revolução tecnológica de produtos e processos da qual tendemos a ficar ainda mais escanteados.”

O valor exportado pela alta tecnologia de janeiro a setembro deste ano pelo país, ressalta Cagin, foi de US$ 4 bilhões, quase metade dos US$ 7,6 bilhões em igual período de três anos atrás. A média-alta tecnologia, que inclui o setor automotivo, sofre ainda efeitos da pandemia e do estrangulamento das cadeias globais de suprimentos, aponta Cagnin.

Mas os dados mostram que esse grupo também perdeu espaço ao longo do tempo. De janeiro a setembro a média-alta tecnologia exportou US$ 24,5 bilhões, o equivalente a 23,4% do embarque total da indústria de transformação. Em 2019 a fatia em iguais meses foi de 26,23% e, há dez anos, de 29,7%.

A perda de espaço dos grupos de alta e média-alta intensidade tecnológica, diz Cagnin, representa uma perda de oportunidade para dar maior dinamismo à produção industrial do país. Esses, explica, são os ramos que têm atividade com maior inserção nas cadeias globais de valor que estão em transformação. “E hoje se discute a capacidade de resiliência dessas cadeias, já que os eventos extraeconômicos que impactam a organização da produção tendem a não se restringir à pandemia, mas se estendem a mudanças climáticas e desastres naturais”, indica.

“Essa busca de resiliência se faz num primeiro momento por uma mera recomposição de estoques e flexibilização de processos, mas há indícios de tentativas de regionalização das cadeias de suprimentos e de diversificação de fornecedores”, diz o economista, destacando que esse movimento de redefinição deve demandar muitas políticas públicas.

Para José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), ressalta que a evolução das importações também mostra a dificuldade de manter competitividade na indústria de maior intensidade tecnológica. Apesar do câmbio e dos preços altos em dólar em razão do estrangulamento da cadeia global de suprimentos, a importação aumenta porque não há alternativa de fornecedor no mercado doméstico, diz.

Parte da cadeia de fornecimento interna se perdeu ao longo dos anos, avalia. Segundo os dados do Iedi, a importação em bens da indústria de alta tecnologia somou US$ 30,6 bilhões de janeiro a setembro deste ano, com aumentou 26,7% contra iguais meses de 2020. Na média-alta tecnologia foram US$ 70,5 bilhões, com avanço foi de 36,5%.

A dinâmica das exportações, diz Welber Barral, sócio da Barral M Jorge, reflete as dificuldades de se produzir no Brasil, com condições piores de competitividade, falta de inovação e de qualificação de mão-de-obra. Para ele, ex-secretário de comércio exterior, a recuperação da exportação de setores importantes e que trazem dinamismo para a economia, como o automotivo, demanda ampliação de acordos, dada a dificuldade por que ainda passa a Argentina, tradicional parceiro comercial nesse segmento.

Caso uma maior competitividade nas exportações não seja alcançada, destaca, o Brasil corre risco de perder mercado inclusive na América do Sul, dado o avanço do fornecimento de países asiáticos na região.

O Globo

Brasil aderiu a compromisso sobre metano na COP-26 por pressão dos EUA

Numa reunião em setembro, ministérios da Agricultura e Meio Ambiente se manifestaram contrários à adesão ao acordo, que é político e não vinculante juridicamente

Foi através de um tuíte do Itamaraty em português e em inglês que a comunidade internacional — e boa parte do governo brasileiro — soube que o Brasil iria aderir à iniciativa de cortar emissões de metano liderada pelos Estados Unidos com apoio da União Europeia (UE). O governo brasileiro era contrário e cedeu à pressão dos EUA.

“Como parte das negociações da COP-26 o Brasil irá aderir ao Compromisso Global do Metano. O Brasil é parte da solução dos desafios da mudança do clima”, diz o texto, publicado na segunda-feira.

Mais de 100 países, entre eles o Brasil, anunciaram nesta terça-feira, durante a COP-26, que se juntaram à proposta de cortar emissões de metano em 30% até o final da década, em relação aos níveis de 2020.

Metano é um poderoso gás-estufa, muito mais nocivo do que o CO2. Em 2020, o Brasil emitiu 20,2 milhões de toneladas de metano, sendo 72% da agropecuária, 16% de resíduos e  9% de mudança de uso da terra. O Brasil emite 14,5 milhões de toneladas de metano na agropecuária. Deste volume, 97% vêm de fermentação entérica — o arroto do boi — e manejo de dejetos de animais.

A iniciativa começou a ser formatada pelos Estados Unidos há alguns meses. O governo de Joe Biden enfrenta dificuldades domésticas para aprovar o pacote de recursos para o clima e tem emissões de metano na exploração de gás de xisto. A iniciativa foi anunciada pelo presidente Biden na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, em setembro, mas não teve muita adesão.

Os esforços de convencimento de outras nações foram acelerados. Na COP-26 houve a adesão de mais de 100 países. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) manifestou-se inicialmente contrário à iniciativa. As emissões de metano do Brasil vêm, primordialmente, da pecuária. Para reduzi-las, seria necessário diminuir o rebanho ou investir no melhoramento da pecuária.

Em setembro, uma reunião com representantes dos ministérios da Agropecuária, Meio Ambiente, Relações Exteriores, Energia e Ciência, Tecnologia e Inovações foi feita para avaliar se o Brasil deveria juntar-se ou não à aliança. Todos se manifestaram contrários.

Os EUA, contudo, pressionaram fortemente o Brasil via Departamento de Estado. Nos últimos dias, o embaixador brasileiro em Washington, Nestor Forster, convenceu o Itamaraty a aderir à iniciativa, segundo o Valor apurou. Assim surgiu o tuíte.

O impacto, em algumas áreas do governo, foi de assombro e a decisão não foi bem recebida. Entre técnicos, contudo, há o entendimento de que é geopoliticamente importante o Brasil fazer parte da coalizão.

O compromisso de cortar as emissões em 30% é global e não há divisão de percentuais entre os signatários. Ou seja, não se diz quanto o Brasil teria que cortar. O outro ponto é que se trata de uma declaração política, algo que tem a força de um acordo de cavalheiros em termos de acordos internacionais.

Claro que quem aderiu e depois não cumpre tem que arcar com os danos na imagem — que é o que vale para consumidores e investidores. Para a proteção do clima, cortar emissões de metano é excelente. A atividade humana responde por 60% das emissões do gás metano, que responde por 30% do aquecimento global.

Valor

Biden não convidou Bolsonaro em Roma

Passagem desastrosa do presidente por Roma indica piora em sua imagem no exterior

O presidente Jair Bolsonaro teve uma passagem desastrosa no G20, no fim de semana em Roma, a ponto de alguns perguntarem se não teria sido melhor ele ter seguido o exemplo do russo Vladimir Putin e do chinês Xi Jinping e ficado mesmo no Palácio da Alvorada. A cara do Brasil no exterior é seu presidente, e a percepção sobre Bolsonaro pareceu só piorar. Em Roma, além das imagens mostrarem um presidente praticamente ignorado por seus colegas no G20, Bolsonaro tampouco foi chamado para outro evento de líderes, esse organizado pela Casa Branca.

O governo dos Estados Unidos deixou de fora o Brasil de um encontro para tratar das disrupções nas cadeias globais de abastecimento, para buscar soluções a esse problema que entrava a economia global e tem provocado alta de inflação em diferentes regiões do mundo.

Logo depois da cúpula do G20, o presidente Joe Biden promoveu uma espécie de cúpula paralela “sobre resiliência da cadeia de abastecimento mundial” no mesmo centro de convenções La Nuvola. Isso foi quase ao mesmo tempo em que, a 15 quilômetros dali, o presidente Jair Bolsonaro fazia um passeio pelo centro de Roma marcado por agressão de seguranças a jornalistas.

Participaram do evento de Biden a União Europeia e 14 países “like-minded” (com disposição e propósitos semelhantes), conforme os termos da Casa Branca: Austrália, Canadá, Alemanha, Indonésia, Índia, Itália, Japão, México, Coreia do Sul, Cingapura, Espanha e Reino Unido. Além da Holanda e da República Democrata do Congo, que tinham acompanhado o G20 como convidados da Itália. Dos membros do G20, não participaram Brasil, China, Rússia, Argentina, África do Sul, Arábia Saudita, Turquia e França.

No caso do Brasil, o Valor confirmou que o governo sabia do encontro, mas não recebeu convite dos americanos. Quanto aos outros, fontes não responderam se houve convite ou não. Uma alta fonte brasileira minimizou, porém, o não convite, dizendo que o Brasil não é problema em cadeia de abastecimento, “ao contrário, o país advoga abertura e tem contribuído com extraordinária resiliência no suprimento de bens, especialmente agrícolas”. Mas não se pode ignorar que o não convite ao Brasil evitou Biden de ser fotografado com Bolsonaro, por exemplo.

Em termos de inquietação sobre as disrupções nas cadeias de abastecimento, elas são bem reais também no Brasil. Uma das posições do país, que tem uma das inflações mais altas no G20, levada a Roma foi justamente de defender medidas para ajudar numa retomada global mais bem coordenada, para evitar os sobressaltos atuais, e que isso passa por redirecionar recursos para aumentar a oferta e reduzir os gargalos logísticos.

Os EUA enfrentam dificuldades com as disrupções no abastecimento mundial que, desde a retomada da atividade econômica, provocam aumento de preços e alimentam temores de inflação mais forte e uma possível reação do Federal Reserve (o banco central americano) mais rápida com subida dos juros. A inflação nos EUA chegou a 5,4%, na Alemanha passou de 4,1%.

O professor Stéphane Garelli, da Universidade de Lausanne, nota que mais de 500 navios estavam ao largo de portos no mundo para serem descarregados, e que as estimativas na Europa são de que o velho continente necessita de 400 mil caminhoneiros para distribuir as mercadorias.

Ao lado do primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, do presidente sul-coreano Moon Jae-in, do australiano Scott Morrison e outros, Joe Biden afirmou que “agora que vimos como essas linhas de comércio global podem ser vulneráveis, não podemos voltar aos negócios como de costume”. O plano americano delineado em Roma é de promover uma maior cooperação internacional sobre as dificuldades a curto prazo das cadeias de abastecimento e considerar o fortalecimento e diversificação desse ecossistema a longo prazo, desde matérias-primas a bens intermediários e acabados, fabricação, expedição, logística, armazenagem e distribuição.

Para Biden, a cadeia de abastecimento deve ser diversificada, “para que não dependamos de uma única fonte que possa causar um fracasso”; segura contra as ameaças naturais e artificiais, incluindo ataques cibernéticos e criminosos, como os resgates; transparente, para que tanto o governo como o setor privado possam antecipar e responder melhor aos problemas, e sustentável, para garantir que as cadeias de abastecimento estejam livres de trabalho forçado e infantil, e em conformidade com objetivos climáticos.

O secretário de Estado Antony Blinken e a secretária do Comércio Gina Raimondo vão organizar uma cúpula no ano que vem que incluirá companhias, sindicatos e organizações internacionais para continuar tratando de resiliência das cadeias de abastecimento. Não está claro se os EUA irão então convidar o Brasil, até porque a representação dos governos será a nível de ministros.

É preciso levar em conta também que a delegação técnica brasileira no G20 sempre tem papel ativo. E não foi diferente em Roma. Alguns participantes confirmaram que representantes brasileiros ajudaram a conciliar posições em vários momentos e em temas diversos.

O ministro das Relações Exteriores, Carlos França, e o e secretário de Comércio Exterior e de Assuntos Econômicos do Itamaraty, embaixador Sarquis J. B. Sarquis, se reuniram com a diretora-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, tratando da conferência ministerial que começa no fim do mês em Genebra. A expectativa é de uma agenda centrada em reforma e revitalização da Organização; entendimento sobre comércio e saúde; acordo sobre disciplinas para subsídios à pesca; e, com menor chance, definição de possível plano de trabalho para negociações futuras em agricultura.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, se reuniu com a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Acertaram trabalhar mais juntos nas agendas global e bilateral. A proteção da Amazonia foi levantado por Yellen, numa demonstração da importância que o governo Biden dá ao tema. Guedes apresentou o plano de crescimento verde. Também foi confirmado em Roma que o Brasil vai presidir o G20 em 2024 e com isso sediará naquele ano a cúpula dos líderes. Isso ocorrerá num novo mandato presidencial.

Assis Moreira é correspondente em Genebra.

Folha de SP

Bolsonaro isolado na festa dos poderosos é símbolo da ruína selvagem do Brasil

Presidente faz do país um lugar tão repulsivo quanto seu comportamento

Nos encontros do G20, Jair Bolsonaro se comportou como o grosseirão que é, incapaz de conversas humanas e um provinciano da pior espécie. Foi desprezado (por Mario Draghi, Itália), tratado com tédio desinteressado (por Recep Erdogan, Turquia) ou condescendente (por Angela Merkel, Alemanha).

E daí? Para os interesses do país, tamanho vexame faz diferença? Pouca. Por vezes, a proximidade entre governantes pode ajudar a desembaraçar um aspecto de uma crise grande ou facilitar um início de negociação. No mais, interesses econômicos e projetos nacionais de domínio, paz ou guerra (mesmo por outros meios) determinam o grosso de relações internacionais, tendo como pano de fundo a inércia de história, geografia, cultura ou religião.

Aquelas situações constrangedoras, porém, são sintomáticas. Para começar, lideranças que não sejam amigas de selvagerias não querem aparecer em bons termos com Bolsonaro. É um risco político, ainda que pequeno, além de desagradável. Isso que está na cadeira de presidente do Brasil é um projeto de tirano, um líder da destruição ambiental e um inimigo da diversidade humana.

Apesar de não serem propriamente intelectuais, Angela Merkel, Emmanuel Macron ou até Boris Johnson fazem parte das elites educacionais de seus países; outros foram bem formados e têm longas carreiras na lida com assuntos de Estado ou na liderança de movimentos importantes da sociedade. Bolsonaro não tem outras inteligências, sabedorias ou formação; não sabe e não quer saber (não querer saber é a definição de ignorância).

Criou problemas com os principais parceiros do Brasil: China, França e União Europeia, os EUA de Joe Biden, o Mercosul. Não tem aliados afora autocratas, neofascistas ou chefetes da internacional da extrema direita. O caráter humana e democraticamente repulsivo do “networking” bolsonarista diminui o Brasil.

Mais do que promover a destruição ambiental e ser um propagandista da intolerância, da ignorância e da violência física, Bolsonaro é um inimigo da diplomacia. Não há pragmatismo no que faz, a não ser do ponto de vista da destruição.

Dado ainda por cima que a ruína econômica não tem prazo para acabar, o Brasil se torna entre irrelevante e infeccioso, a não ser que sirva de elemento menor das estratégias dos Estados Unidos, por exemplo. O Brasil de Bolsonaro pode ser marionete da política americana contra a China. Caso Biden colocasse um cabresto no terror ambiental do bolsonarismo, faria um ponto mundial.

Bolsonaro ficou isolado não apenas porque é repugnante ou incapaz de cumprir um roteiro escrito por diplomatas (tentar umas conversas redigidas por assessores, por exemplo). Fica em um canto principalmente porque o Brasil desce a ladeira, agora de modo acelerado pelo bolsonarismo. Quanto mais durar, mais essa estupidez terá consequências.

Se inconfiável, o Brasil pode deixar de ser fornecedor preferencial de matérias-primas de países como a China. Caso a “transição verde” avance, o que resta de indústria brasileira pode se tornar obsoleta (carros elétricos já estão no comércio; os biocombustíveis perderam a vez). A produção de commodities ambientalmente incorretas é um problema evidente para o futuro próximo (petróleo, para começar, mas também boi etc.: “carnes” e outras comidas “de laboratório”). Transformar floresta e cerrado em gases de estufa já é um problema crítico.

Um país longínquo, ignorante, meio pobre e incivilizado em quase tudo (violento, desigual e de pouca escola e ciência) será mais marginal. O isolamento vexaminoso de Bolsonaro na festa dos poderosos é a metáfora da nossa irrelevância selvagem crescente.

O Globo (coluna)

Falta de agendas de peso de Bolsonaro no G20 é criticada até por integrantes do governo

BELA MEGALE

A falta de agendas de peso do presidente Bolsonaro na reunião da cúpula dos países do G20, em Roma, foi alvo de críticas até entre integrantes do Palácio do Planalto. Membros do governo afirmaram à coluna que a falta de reuniões bilaterais de peso de Bolsonaro foi um “fato ruim” e notado pelas demais lideranças.

Bolsonaro só teve dois encontros bilaterais, sendo um deles com o presidente da Itália, Sergio Mattarella, que foi protocolar. É praxe que o chefe do Estado anfitrião do G20 tenha reuniões com os presidentes dos países presentes. A outra agenda bilateral de Bolsonaro foi com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann.

Um integrante do governo disse à coluna que o isolamento do presidente brasileiro “era esperado”, mas enfatizou que a ausência de agendas de peso com líderes internacionais foi “muito negativa”. O desempenho do chanceler Carlos França também foi alvo de queixas por integrantes do governo, que o culparam pelo baixo número dos encontros. Afirmaram, porém, que a imagem internacional de Bolsonaro não facilita o trabalho do ministro das Relações Exteriores.

Em 2019, no último encontro presencial de G20, Bolsonaro teve nove reuniões bilaterais com líderes do Japão, França, Estados Unidos, Índia, Indonésia, Arábia Saudita, Singapura, representantes da OCDE e do Banco Mundial.

As conversas de Bolsonaro com os nomes de maior destaque do G20 neste ano, como a primeira-ministra alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, o presidente da Turquia, Tayyip Erdogan e o presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, deram-se de maneira informal e em eventos que reuniram todos os líderes.

Folha de SP

A diplomacia miliciana de Bolsonaro

Presidente brasileiro foi a Roma durante o G20 para brigar na rua

ELIO GASPARI

As cenas da passagem da comitiva de Bolsonaro por Roma foram um aperitivo do que pode acontecer durante a campanha eleitoral do ano que vem. Ganha uma viagem a um garimpo ilegal da Amazônia quem souber de uma ideia apresentada pelo capitão durante sua passagem pela cidade e pela reunião do G20.

Pisou no pé da chanceler alemã Angela Merkel, teve uma conversa desconexa com o presidente turco, conversou com garçons e, por não usar máscara nem tomar vacina, ficou sem o aperto de mão do primeiro-ministro Mário Draghi.

Bolsonaro aproveitou a viagem para seguir um roteiro sentimental e na segunda-feira foi a Pádua. Lá aconteceu um choque de manifestantes com a polícia que bloqueou uma marcha. Quem viu as cenas testemunhou um encontro de militantes organizados, e mesmo agressivos, com forças da ordem civilizadas. A polícia usou o canhão de água e cassetetes para conter a passeata. Uma só manifestante foi detida. Usou-se a força sem violência indiscriminada. Isso em Pádua.

Em Roma, na véspera, milicianos agrediram jornalistas com socos na barriga, empurrões intimidadores e a clássica apropriação indébita de um aparelho celular. Como bem disse um jornalista agredido: “Tá maluco?”

Bolsonaro foi à Itália com cinco ministros e preferiu bispar a reunião da COP26 de Glasgow. Se tivesse recorrido a um aluno do primeiro ano do curso de formação de diplomatas, teria conseguido uma agenda mais robusta, ainda que vaga. Para isso existem os diplomatas. Em 1971 o presidente Emílio Médici foi a Washington com uma agenda declaradamente vazia, porém cerimonialmente dignificante.

É verdade que 15 chefes de Estado foram à Fontana di Trevi para uma cena ridícula durante a qual jogaram no laguinho suas moedas da sorte. Logo naquele delírio barroco celebrizado na cena noturna de Marcello Mastroianni com Anita Ekberg no filme “La Dolce Vita”.

A agenda romana do capitão poderia ter dispensado seu momento miliciano. As manifestações contra Bolsonaro são organizadas, as dos seus apoiadores, com balões verdes e amarelos, também. É o jogo jogado, mas uma senhora bolsonarista foi jogada no chão pela milícia.

A ação de milicianos em manifestações públicas tem tudo para vir a ser um ingrediente tóxico na campanha eleitoral do ano que vem. A existência dos celulares será um inibidor dessas práticas, desde que as autoridades policiais estejam dispostas a reprimir violências. É sempre bom lembrar que ao terrorismo de esquerda, disparado no Recife em 1966, juntou-se, em 1968, o terrorismo de direita contra teatros, tripulado por agentes do Estado.

Assim como o ministro Alexandre de Moraes tornou-se o xerife da legislação eleitoral no controle das milícias eletrônicas, a imprensa e o Judiciário poderiam buscar uma fórmula para conter as milícias urbanas.

Em junho do ano passado, quando o inesquecível general Eduardo Pazuello resolveu mexer nas estatísticas da pandemia, a pronta e inédita formação de um consórcio de veículos passou a computar diariamente os números que o negacionismo queria manipular. Deu certo e ninguém pergunta quais são os dados do pelotão sanitário de Brasília, atualmente comandado pelo “coronel” Marcelo Queiroga, aquele que pretende passear na Haia para debochar da CPI.

Folha de SP (Painel)

Governo conta com recuo do PT para aprovar PEC dos Precatórios, e Gleisi chama proposta de escândalo

Discurso é que demandas dos governadores do Nordeste foram atendidas e não há mais motivo para ser contra

Integrantes do governo contam com recuo do PT para aprovar a PEC dos Precatórios. O discurso é que demandas dos governadores do Nordeste foram atendidas e, portanto, não há mais motivo para ser contra o texto, que abre espaço para o Auxílio Brasil.

A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, diz ao Painel que a posição continua a mesma, de ser contra a PEC. Ela diz que a proposta é um “escândalo”, porque “não é só para atender o povo, mas para emendas de relator.” O PT tem reunião às 14h desta quarta (3). “Não acredito que tenha mudança”, completa.

As contas nesta terça (2) mostravam cenário apertado. Com lotação máxima na Casa, haveria dez votos além do necessário para aprovar a PEC. Segundo parlamentares, o governo tem jogado pesado, ameaçando não transferir emendas impositivas para quem não comparecer.

Ataque a assentamento do MST é barbárie, diz presidente de consórcio de governadores do Nordeste

Vinte homens fizeram reféns, incendiaram ônibus e depredaram casas em Prado, no sul da Bahia

Presidente do consórcio de governadores do Nordeste e governador do Piauí, Wellington Dias (PT) chamou de barbárie e crueldade o ataque de homens armados a assentamento do MST na cidade de Prado, no sul da Bahia, no domingo (31).

Dias diz que o Brasil reviveu seus piores dias e fala em ação de terrorismo. “O povo nordestino, assim como toda a solidária população brasileira, repudia a violência e a intolerância contra as e os trabalhadores do campo e da cidade. Lutaremos contra os retrocessos vividos por dignidade aos nossos trabalhadores rurais”, afirma o governador, em nota.

Segundo a coordenação do MST, vinte homens fizeram assentados de reféns, incendiaram dois ônibus, depredaram casas e atiraram em veículos. Não houve feridos.

Valor

Novo surto faz China pedir que as pessoas estoquem comida

Governo chinês teme alta no número de casos de covid-19

A China alertou seus cidadãos para estocar alimentos e outros itens essenciais em casos de emergências, no momento em que as autoridades apertam drasticamente os controles contra um pequeno surto de covid-19. As já duras políticas de “covid zero” do governo ficaram ainda mais restritivas depois do aumento dos casos de coronavírus no país, apesar dos “lockdowns” direcionados. As autoridades informaram nesta segunda-feira 54 novos casos transmitidos localmente.

O Ministério do Comércio da China não citou surtos de covid ou possíveis lockdowns como motivos para as pessoas estocarem mais suprimentos. Mas pediu às autoridades encarregadas das áreas de lockdown a divulgar rapidamente informações sobre onde e como a população pode conseguir itens essenciais.

Preços de alimentos são voláteis na China e geralmente aumentam com a aproximação do inverno. Os preços das hortaliças subiram nas últimas semanas por causa de chuvas pesadas e inundações. O “Economic Daily”, controlado pelo Comitê Central do Partido Comunista chinês, conclamou os leitores a não se alarmarem com o conselho do Ministério, mas também observou que muitas famílias foram pegas pelos lockdowns contra a covid sem suprimentos adequados de arroz e hortaliças.

Em Pequim, as autoridades pediram a todas as pessoas que viajarem ou estiverem longe de casa, que não retornem, ao mesmo tempo em que restringiram as partidas. Servidores públicos e funcionários de empresas estatais geralmente são proibidos de viajar durante os surtos. Embora Pequim tenha relatado apenas 31 novas infecções desde a metade de outubro, as autoridades fecharam alguns cinemas e outros locais de entretenimento, colocando ao mesmo tempo grandes áreas residenciais sob quarentena.

O mais novo surto de covid-19 na China também chegou a Xangai, onde as autoridades fecharam a Disneylândia. Na noite de domingo, mais de 30.000 pessoas que tiravam fotografias com Mickey Mouse e assistiam a exibições de fogos de artifício foram fechadas dentro do parque para testagem em massa por profissionais de saúde que vestiam trajes de segurança.

O fechamento da Disneylândia foi ordenado depois que uma pessoa que esteve no parque testou positivo. As regras rígidas da China ajudaram a conter surtos do coronavírus, que são muito pequenos pelos padrões internacionais, e reduziram o número de mortes causadas pela pandemia. Mas os lockdowns contínuos e outras restrições começaram a afetar o crescimento econômico, especialmente depois que a altamente contagiosa variante Delta ganhou força na China no terceiro trimestre.

Zhong Nanshan, um dos principais especialistas em coronavírus da China e assessor do governo, disse à imprensa estatal que a abordagem “covid zero” tem um “custo relativamente baixo”. “Essa política prosseguirá por um período de tempo relativamente longo e dependerá de como o resto do mundo controlará a pandemia”, disse Zhong. Mas alguns comentaristas no Weibo, o equivalente chinês do Twitter, discordaram: “O custo pode ser baixo para o governo, mas e para as pessoas comuns?”, perguntou um usuário.

O número de pessoas pegas em quarentenas forçadas aumentou depois que as autoridades ampliaram o isolamento forçado para ele incluir os possíveis contatos de pessoas que testaram positivo. Gabriel Corsetti, um expatriado em Pequim, disse que foi colocado em quarentena doméstica por 11 dias com um sensor preso à sua porta, depois que ele entrou em um hotel e pediu ajuda na recepção.

Uma pessoa que testou positivo para a covid também esteve no hotel. “Eu disse a eles que fiquei no hotel por poucos minutos. No meu escritório de menos de 20 pessoas, vários colegas estão em quarentena”, afirmou.

As autoridades também detiveram 26 pessoas no distrito de Changping em Pequim, onde se concentra o surto na capital, por violação das regras da covid-19 desde a metade de outubro. As políticas rigorosas vêm tendo implicações nas interações da China com o mundo. O presidente Xi Jinping não viaja ao exterior desde janeiro de 2020 e enviou um discurso por escrito para a COP26 em Glasgow. Lu Xiang, um especialista em política externa da Academia Chinesa de Ciências Sociais, disse que a covid é “o único motivo” de Xi não ter ido à COP26 e à reunião de cúpula do G20 em Roma.