Clipping 19 de novembro de 2021
Manchetes
Covid elevou registros de mortes no Brasil em 15% (Folha de SP)
Amazônia registra o maior índice de desmate em 15 anos (estadão)
Área desmatada da Amazônia é a maior em dos últimos 15 anos (O Globo)
Frete marítimo mais caro ameaça retomada global (Valor)
Valor
Toyota apresenta seu 1º carro 100% elétrico
Após obter larga experiência em carros híbridos, sendo pioneira no segmento com o Prius (lançado em 1997), a Toyota passa a apostar nos elétricos. Com um nome pra lá de esquisito, a fabricante japonesa acaba de apresentar seu primeiro SUV movido totalmente a eletricidade: o bZ4x (assim mesmo, misturando maiúsculas, minúsculas e um número). Isso porque o modelo pertence à submarca de elétricos da Toyota chamada bZ (“beyond zero”, algo como “além de zero”) – uma família à parte, como a EQ da Mercedes-Benz, por exemplo.
O carro segue os passos do conceito revelado no início do ano e é construído na nova plataforma e-TNGA da marca, dedicada a veículos elétricos. Essa nova arquitetura traz uma bateria de 71,4 kWh no assoalho que oferece autonomia de 450 km. A empresa diz ainda que essa bateria é capaz de manter 90% de sua capacidade na primeira década de uso.
Serão duas opções de motor. A primeira, que será oferecida com tração dianteira, terá 201 cv e 27 kgfm, o que faz com que o carro atinja os 100 km/h em 8,4 segundos. Como a plataforma foi desenvolvida em conjunto com a Subaru, conhecida por seus veículos 4×4, haverá uma opção com tração integral equipada com dois motores (um em cada eixo) que, somados, entregam 215 cv e 34,3 kgfm. O zero a 100 km/h é feito em 7,7 segundos.
Outra novidade é a bateria mais fina, que ajuda a manter o centro de gravidade mais baixo, a aumentar a rigidez da carroceria e o espaço interno. Para melhorar ainda mais a sensação de amplitude, o bZ4x vem com teto panorâmico. A cabine tem ainda painel de instrumentos digital com tela de TFT de sete polegadas e nova central multimídia que pode ser atualizada com a tecnologia Over-The-Air (OTA). O porta-malas leva 452 litros.
Por fora, o design é marcado por faróis afilados e para-choque que se prolonga onde seria a grade dianteira, já que o motor elétrico não precisa da mesma refrigeração que os a combustão. As rodas de 20 polegadas são pintadas de preto e as lanternas se unem por uma faixa de LED na tampa do bagageiro. As reservas do modelo, na Europa serão, começam em dezembro, mas o preço ainda não foi divulgado
Valor
BMW investe em novos carros a combustão
Montadora de carros de luxo anunciou ontem investimento de R$ 500 milhões na fábrica de Araquari (SC) nos próximos três anos para renovar modelos
Na Europa, o grupo BMW tem se mostrado um dos mais arrojados no plano de reduzir a produção de veículos movidos a combustíveis fósseis. Mas, ao anunciar, ontem, seu próximo investimento no Brasil – voltado à produção de carros a combustão – a direção da companhia alemã adotou um tom sincero para dizer que a velocidade da eletrificação não pode ser a mesma em todos os paises e que o Brasil ainda deixa desejar em termos de infraestrutura.
Ao mesmo tempo em que trouxe uma boa notícia, ao anunciar investimento de R$ 500 milhões na fábrica de Araquari (SC) nos próximos três anos, a direção da montadora frustrou expectativas ao não incluir no plano projetos de carros elétricos ou híbridos. Afinal, a BMW, líder do segmento de automóveis premium no Brasil, é também uma das que lidera a eletrificação – no caso, com carros importados.
O novo investimento será direcionado à renovação de modelos, a produção de um carro totalmente novo – e cujas características são mantidas em sigilo – e nos trabalhos da engenharia local. Recentemente, o grupo BMW anunciou, na Europa, que até 2030 em torno de 50% das suas vendas globais serão veículos eletrificados. Mas, ultimamente, tem deixado claro que os números podem variar dependendo de cada mercado e do quanto cada país evolui em termos de expansão da infraestrutura de carregamento das baterias.
Está claro, no entanto, que a empresa fundada há 105 anos apoia uma mudança radical para veículos com emissão zero. “Ao final do dia, sabemos que os veículos terão de ser elétricos”, disse, ontem, o presidente da BMW na América Latina, Alexander Wehr.
“Na Europa têm sido gastos bilhões e bilhões de euros (na eletrificação) porque as regras (de emissões) são apertadas”, destacou o executivo alemão, que mora no México e ontem esteve na fábrica catarinense, de onde anunciou o novo investimento. Para ele, incentivos governamentais à eletrificação, que não precisam necessariamente ser financeiros, estabelecem “novo plano de negócios”.
O executivo enumerou, ao mesmo tempo, ações que têm sido tomadas em Araquari, para redução de Co2 no processo de manufatura. Em Araquari, serão produzidas todas as versões a combustão das novas gerações dos modelos X3 e X4. A empresa não revelou, porém, nenhum detalhe de como será o modelo inédito previsto no mesmo plano de investimentos e que, segundo Wehr, será anunciado em breve pela matriz, na Alemanha.
Algumas montadoras têm mostrado a intenção de fazer do Brasil um centro de produção de veículos a combustão para venda local e também para exportação para países onde a eletrificação levará mais tempo. À primeira vista, a BMW poderia ser mais uma.
Mas a exportação ainda não está nos planos da empresa alemã. “Estamos investigando as oportunidades”, destacou o presidente da empresa no Brasil, Aksel Krieger. Por isso também não está prevista expansão da fábrica de Araquari, que conta com capacidade para produzir 32 mil veículos por ano. O volume de produção este ano, de 10 mil unidades, deve se repetir em 2022, segundo Krieger.
A unidade catarinense, onde trabalham 700 dos cerca de mil empregados da BMW no Brasil, tem características diferentes da fábrica de San Luis Potosi, no México. Inaugurada em 2019 e com cerca de 3 mil funcionários, a operação mexicana vende no mercado externo quase 90% da produção.
Desde que foi inaugurada, em setembro de 2014, a fábrica em Santa Catarina já recebeu R$ 1,8 bilhão em investimentos, incluindo o plano anunciado ontem. Trata-se de uma das quatro fábricas de carros de luxo construídas mais ou menos na mesma época, quando o governo brasileiro decidiu impor taxas extras em carros importados por montadoras sem fábricas no Brasil.
Depois do impasse em torno da pendência de benefícios fiscais prometidos pelo poder público, duas empresas decidiram encerrar a produção de carros no país este ano: Audi e Mercedes-Benz. Além da BMW, a Land Rover manteve sua fábrica em Itatiaia (RJ). A direção da Audi deixou o espaço que ocupava na fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais (PR) e a Mercedes recentemente vendeu a unidade erguida em Iracemápolis, no interior de São Paulo, à montadora chinesa Great Wall.
Em visita ao Brasil, há três meses, Wehr disse que o grupo BMW havia aprendido com a volatilidade da América Latina. Ao anunciar o novo investimento, ontem, o executivo reconheceu a dificuldade das variáveis macroeconômicas, como alta dos juros, desvalorização da moeda local e a pressão inflacionária. “Mas isso é parte do jogo”, destacou. Segundo o executivo, o Brasil já mostrou potencial para ser um mercado maior do que é hoje. Por isso, é uma região “estratégica no longo prazo”. “Estamos comprometidos com esse país”
AutoIndústria
Gargalos na produção prejudicam as autopeças
Transtornos são provocados pela escassez de semicondutores e alta dos preços, informa o Sindipeças
Pesquisa conjuntural relativa ao mês de setembro publicada no site do Sindipeças reforça as dificuldades que montadoras e fornecedores vêm enfrentando em função da alta dos preços e de gargalos na produção, em especial os decorrentes da escassez de semicondutores.
Com recuo de apenas 0,8% no comparativo de setembro com agosto, o faturamento líquido nominal das autopeças, na análise da entidade, ficou estável na passagem mensal. As vendas para montadoras e para o mercado de reposição, que têm maior participação na receita do setor, mantiveram nível similar nos dois meses.
As exportações, contudo, retrocederam 2,4% e as vendas intrassetoriais caíram 12,9%. O desempenho mensal é explicado, em parte, pela sazonalidade característica do período e por fatores relacionados à escassez de insumos e matérias-primas.
“A nosso ver, o recuo mais forte das vendas intrassetoriais parece exprimir as dificuldades que as montadoras e as autopeças enfrentam para garantir o suprimento de insumos essenciais à produção”, avalia o Sindipeças. “Preços mais altos e gargalos específicos, como no caso dos semicondutores, seguem causando transtornos para o desempenho da indústria”.
A pesquisa conjuntural indica ainda que o comparativo interanual segue prejudicado pela dinâmica recessiva de 2020 provocada pela Covid-19, que comprimiu fortemente a receita do setor. Nos nove primeiros meses do ano, a variação acumulada alcançou 73,5%, enquanto nos últimos 12 meses – melhor medida para se compreender a dinâmica atual dos fabricantes de autopeças – houve crescimento de 58,3%.
“Apesar da estabilidade na receita, o uso da capacidade instalada cresceu e atingiu 74% em setembro, contra os 72% do mês anterior. Importante ressaltar que a pandemia gerou marcante alteração no uso das instalações fabris”, reforça o Sindipeças. A criação de postos de trabalho ficou estável em setembro com relação a agosto, mas há alta de 5,1% no acumulado do ano e de 2,4% nos últimos 12 meses.
Folha de SP
PT diz que proposta de Bolsonaro de dar reajuste a servidor é eleitoreira, enganosa e oportunista
Apesar de o funcionalismo formar sua base política, partido ressalta que medida precisa ter amparo fiscal e orçamentário
Apesar de o funcionalismo ser uma importante fatia de sua base de apoio, o PT classificou como eleitoreiro, enganoso e oportunista o anúncio do presidente Jair Bolsonaro de dar um reajuste para todos os servidores federais, com base na folga orçamentária com a possível aprovação da PEC dos Precatórios.
Congressistas do partido ouvidos pela Folha ressaltam a reforma administrativa proposta pelo governo como exemplo de que Bolsonaro jamais se preocupou com os servidores e dizem que o anúncio feito agora representa apenas a tentativa de reduzir sua alta rejeição popular.
“Recebemos como oportunismo político e medida eleitoreira. Depois de mandar a PEC 32 [reforma administrativa] para desestruturar o serviço público e criminalizar o servidor, ele vem com essa?”, afirmou a deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT.
Parte da base eleitoral do PT é formada pelo funcionalismo, construída por governos que lançaram concursos públicos para preencher cargos vagos ou criados por novos ministérios. As administrações petistas também foram marcadas por uma política de ganho real para o salário mínimo.
Bolsonaro disse na terça-feira (16), no Bahrein, que pretende usar eventual aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) dos Precatórios, que dá calote em dívidas da União reconhecidas pela Justiça, para dar reajuste a todo o funcionalismo, sem exceção. “Não é o que eles [servidores] merecem, mas é o que nós podemos dar”, disse Bolsonaro na ocasião.
A PEC dos Precatórios libera cerca de R$ 90 bilhões do Orçamento por meio de artifícios como a mudança na forma como o teto de gastos —regra que limita o crescimento das despesas— é calculado, além de permitir o parcelamento do pagamento de precatórios, que são dívidas decorrentes de sentenças judiciais.
A emenda já foi aprovada na Câmara, mas enfrenta mais dificuldades no Senado, onde precisa passar por dois turnos de votação, com o apoio de ao menos 60% dos congressistas (49 de 81). Se alterada, terá de passar por nova votação na Câmara.
“Ele quer dar calote em dívida que já existe, é uma medida demagógica. Nós não somos contra dar aumento a funcionalismo, mas tem de ser visto dentro de um processo financeiro e fiscal do Brasil. Vindo dele, a gente sabe que não é porque ele tem o serviço público como importante para o Brasil, ele tem como importante para cabalar votos”, disse Gleisi.
Líder da bancada do PT na Câmara, o deputado Bohn Gass (RS) afirmou não considerar séria a proposta. “O PT sempre é a favor de reajuste para servidor, mas essa do Bolsonaro se trata de politicagem de quem sempre foi contra o servidor”, afirmou o congressista, que também defendeu a retirada da reforma administrativa.
Enviada pelo governo em 2020, a reforma sempre foi vista como uma das mais difíceis de serem aprovadas por causa do forte lobby dos funcionários públicos no Congresso. Aprovada em comissão especial da Câmara em setembro, ela está atualmente sem perspectiva de ser votada em plenário. Na terça, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou não notar nem na sociedade nem no governo “disposição de enfrentar esse tema agora”.
Para o líder da bancada do PT no Senado, Paulo Rocha (PA), a proposta de Bolsonaro de usar a PEC dos Precatórios para reajustar salários de servidores não passa de enganação. “Ele está se ferrando e quer se recuperar no funcionalismo, nas pessoas mais pobres.”
O PT é atualmente o principal partido de oposição, tem a maior bancada da Câmara (53 deputados, mesmo número do PSL) e seis senadores. Seu candidato ao Palácio do Planalto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lidera as pesquisas eleitorais.
Outros congressistas do partido também manifestaram considerar eleitoreira a proposta de Bolsonaro. “Não que o servidor não mereça, mas lançar isso sem planejamento, sem algo pensado, é uma ação de puro desespero”, disse o deputado Alencar Santana Braga (PT-SP).
“É apenas oportunismo político, uma medida eleitoreira, demagógica, até porque eles são autores da PEC que desestrutura o servidor público”, afirmou Reginaldo Lopes (MG), que assumirá a liderança da bancada do PT na Câmara em 2022.
Para o deputado Rogério Correia (PT-MG), trata-se de mais “uma fake news presidencial”. “Ele quer deixar como legado uma PEC [reforma administrativa] que permite cortar 25% do salário do servidor e quer agora dar reajuste com folga que será provisória? É apenas demagogia em véspera de eleição.”
Bolsonaro não detalhou qual o percentual de reajuste pretende dar aos servidores nem a partir de quando. O Ministério da Economia estuda há pelo menos três meses a possibilidade de um aumento para servidores. O impacto fiscal decorrente de uma medida do tipo era estimado de R$ 5 bilhões a R$ 15 bilhões no começo das discussões, de acordo com interlocutores da equipe econômica ouvidos pela Folha.
A PEC dos Precatórios dribla o teto de gastos e permite ao governo gastar mais R$ 91,6 bilhões em 2022 sem a necessidade de cortar outras despesas —o que eleva o déficit nas contas públicas e o endividamento do país.O Brasil está no vermelho desde 2014, sua dívida passa de R$ 5,4 trilhões e os custos com juros são pagos pela sociedade como um todo.
Folha de SP
Pequena indústria espera volta dos negócios, mas desconfia de retomada da economia
Micro e pequenos empresários sentem alta da inflação, falta de insumos e alinham operação a conceitos ESG
Há dez meses consecutivos, as micro e pequenas indústrias do estado de São Paulo enfrentam aumento nos custos de produção. A alta no preço de matérias-primas e insumos é observada por 84% delas, enquanto 50% registram falta desses itens.
Ainda assim, a maioria (54%) avalia que o seu negócio ou que o seu setor (53%) vai melhorar nos próximos meses, um otimismo que contrasta com as expectativas sobre a economia do país, já que apenas 37% confiam na melhora da situação macroeconômica. Para 54%, não se sabe quando a economia voltará a crescer.
Os dados pertencem à pesquisa Indicador de Atividade da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo, feita em outubro pelo Datafolha para o Simpi (Sindicato da Micro e Pequena Indústria do Estado de São Paulo).
“Os empresários estão acreditando mais neles, nas empresas deles, nas alternativas que eles têm em mãos e menos nas promessas que são feitas na área econômica”, disse à Folha Joseph Couri, presidente do Simpi. “Os micro e pequenos industriais sentem a dificuldade de crédito e a ameaça, permanente, de aumento de carga tributária, com o fim do Simples Nacional”.
As micro e pequenas indústrias paulistas somam 298 mil e representam cerca de 42% do total de MPIs no Brasil. A imensa maioria da indústria nacional (97%) é formada por micro e pequenas empresas. “Em São Paulo, elas estão, principalmente, nos setores de vestuário, calçados e construção civil”, afirma Couri.
Na visão do executivo, as empresas estão em um momento de retomada ainda frágil, tendo em vista o aumento do preço de insumos fundamentais para a atividade, como energia elétrica, gás e combustíveis.
“O aumento de preços é generalizado e as empresas aos poucos vão repassando os custos”, afirma. “O ritmo de retomada varia conforme o segmento ao qual a indústria se dedica. Aquelas voltadas ao consumo estão com negócios mais aquecidos”.
É o que justifica, por exemplo, que 49% das empresas ouvidas no levantamento de outubro tenham uma avaliação positiva dos negócios, contra 42% do mês anterior. Já a avaliação ruim ou péssima caiu de 21% para 13% no período.
O levantamento apontou que as micro e pequenas indústrias do interior apresentam indicadores melhores que as das situadas na região metropolitana. No interior paulista, 58% das empresas consideram sua situação ótima ou boa, frente a 38% da capital, onde 28% avaliam o próprio faturamento como ótimo ou bom, indicador que chega a 43% no interior. Na região metropolitana, 23% apresentaram uma margem de lucro ótima ou boa, diante de 37% no interior.
De acordo com a pesquisa Datafolha, 84% das empresas sentiram alta nos custos e 50% registram falta de insumos, cujo recebimento está atrasado para 47% delas. “Um quinto das empresas perceberam uma perda de qualidade na matéria-prima”, afirma Couri.
EMPRESÁRIOS PROCURAM ALINHAR OPERAÇÃO AOS PRECEITOS ESG
Na visão de Couri, o empresariado está cético com o governo e procura reagir a esse cenário, tomando iniciativas que valorizem o seu negócio. Neste sentido, parte dos empresários têm feito a lição de casa a fim de tornar seus negócios mais alinhados aos conceitos ESG (boas práticas de governança ambiental, social e corporativa).
“Alguns empresários já despertaram para a necessidade de alinhar sua operação a esses conceitos, que podem inclusive abrir novas linhas de crédito e estão em sintonia com uma viso mais moderna do negócio”.
Do ponto de vista ambiental, por exemplo, mais empresas estão procurando melhorar o tratamento dos resíduos industriais e adotar o uso de energias limpas, como a solar. “Isso aumenta a sua competitividade entre os fornecedores de grandes indústrias”, afirma.
No âmbito social, o Simpi anunciou nesta quarta-feira (17) uma parceria com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, que prevê o acesso de mulheres em situação de vulnerabilidade a um curso de empreendedorismo, por meio da plataforma Kaptár, de ensino a distância. “Serão atendidas 24 mil mulheres ao ano em todo o Brasil”, diz Couri. As inscrições podem ser feitas pelo site do projeto Qualifica Mulher, do ministério federal.
Valor
Freio na indústria e varejo leva Itaú a reduzir alta do PIB
Movimento explica por que reequilíbrio da procura acima da oferta no setor não deve trazer impulso positivo para o PIB
O recuo observado recentemente tanto na produção industrial quanto nas vendas no varejo indica que o setor de bens já está em contração neste segundo semestre de 2021, o que levou o Itaú Unibanco a uma revisão de suas projeções para a atividade econômica. O banco cortou a projeção para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano de 5% para 4,7%, enquanto manteve inalterada a estimativa de contração de 0,5% em 2022.
“A produção industrial já vinha recuando desde o segundo trimestre devido a restrições de oferta em parte causadas por falta de insumos, mas também porque alguns setores atingiram o limite de sua capacidade de produção”, dizem os economistas. “Nos últimos meses, a demanda por bens começou a desacelerar também, como visto nas quedas das vendas no varejo em agosto e setembro”, prossegue o texto.
A equipe do Itaú espera que o recuo continue em outubro e em novembro. As projeções do banco indicam crescimento nulo do PIB tanto no terceiro quanto no quarto trimestre do ano, o que indicaria uma alta de 4,5% no PIB de 2021.
Os economistas, porém, esperam um crescimento de 4,7% “por acreditar que a esperada revisão dos dados de mercado de trabalho da Pnad Contínua gerará uma revisão altista na série do PIB deste ano”. Já em relação a 2022, o Itaú manteve a estimativa de um recuo de 0,5% no PIB, devido à contração esperada na demanda agregada, em decorrência do aumento dos juros.
O cenário do banco para a política monetária também sofreu alterações, e os economistas passaram a projetar a Selic em 11,75% no fim do ciclo de aperto, em março, e ao longo de 2022. Antes, a estimativa era de que a taxa básica terminasse o ciclo em 11,25%.
“Apesar de não ter ocorrido uma deterioração expressiva do cenário fiscal desde a última reunião [do Copom], a pressão inflacionária segue intensa e disseminada, contaminando as expectativas de inflação e as próprias projeções do Banco Central, justificando uma taxa Selic terminal mais elevada. Acreditamos que a manutenção do ritmo de ajuste de 1,5 ponto e a Selic em patamar significativamente contracionista ajudarão no processo de desinflação, mesmo que não sejam suficientes para garantir a convergência da inflação para a meta em 2022”, aponta o Itaú.
O banco passou a esperar que o IPCA encerre este ano em 10,1%, ao indicar que a inflação segue pressionada, ao ser impactada pelos preços de combustíveis, alimentos in natura e alguns serviços, além da maior persistência do choque de bens. “Da leitura pouco acima de 10% para o IPCA projetado para este ano, quase 7 pontos percentuais (p.p.) são resultado da pressão em combustíveis, energia elétrica e alimentos”, dizem os economistas do banco. Eles notam, ainda, que as medidas de núcleo da inflação também seguem pressionadas.
Diante da maior persistência do choque de bens, o Itaú elevou sua estimativa para o IPCA de 2022 de 4,3% para 5%. O banco continua a esperar que a bandeira tarifária em dezembro do próximo ano seja vermelha no patamar 1, além de manter as estimativas para o dólar em R$ 5,50 tanto no fim deste ano quanto no fim de 2022.
Folha de SP
Aproximação de Lula gera mal-estar entre aliados de Alckmin
PSD não terá candidato em SP se tucano topar vice, atrapalhando estratégia do PT e do PSB
A aproximação proposta por PT e PSB a Geraldo Alckmin, sugerindo que o ainda tucano poderia ser o vice de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022, está gerando insatisfação entre os aliados potenciais do ex-governador paulista.
Há dois tipos de irritação na praça. Primeiro, há um incômodo nas hostes dos dois partidos que podem dar guarida a esse projeto, o PSD e a União Brasil (fusão DEM-PSL em curso), com a indefinição de Alckmin. A todos seus interlocutores ele diz que “está para decidir” seu futuro em breve.
Segundo, entre aqueles que acreditam que o fato de Alckmin não ter rejeitado com um agradecimento a piscadela de Lula possa ter repercussões eleitorais negativas caso ele dispute o Governo de São Paulo.
Na semana retrasada, como revelou a Folha, emergiu o balão de ensaio da aliança Lula-Alckmin. Ele foi gestado por dois interessados em tirar Alckmin do páreo em São Paulo, seu aliado Márcio França (PSB) e o rival Fernando Haddad (PT), que juntaram o ex-presidente e o ex-governador na conversa. Fiel a seu estilo, o ainda tucano não rejeitou o namoro. Isso impactou o grupo já inquieto com a protelação de Alckmin e teve dois efeitos imediatos.
O PSD, partido do qual ele estava mais próximo para se filiar, avisou que não terá candidato a governador em São Paulo se Alckmin aceitar ser vice do Lula. Isso afeta França e Haddad, ambos à espera do apoio da sigla. Neste caso, o foco do partido de Gilberto Kassab será a candidatura ao Planalto de Rodrigo Pacheco (MG), o presidente do Senado, e o pleito pelo Senado do apresentador José Luiz Datena.
No PSD, a ideia eventual de ter Alckmin filiado e na vice de Lula é descartada, pois reduziria o poder de barganha da sigla no segundo turno. De todo modo, a sigla ainda trabalha com um cenário em que a chapa paulista será composta por Alckmin e França, que foi seu vice de 2015 a 2018, quando assumiu o governo e acabou derrotado nas eleições por João Doria (PSDB).
Já na União Brasil, a metade PSL da criatura tem se mostrado cada vez mais refratária a Alckmin, preferindo manter o apoio a Doria no estado. O temor de não controlar a sigla e, principalmente, recursos dos fundos partidário e eleitoral, foi o que evitou a filiação do ex-governador até aqui.
O plano de Alckmin após a submersão posterior à sua humilhação nas urnas em 2018, quando amealhou a pior votação presidencial da história do PSDB, era voltar a disputar o governo paulista, que ocupou de forma mais ou menos ininterrupta por duas décadas.
Só que o atual governador tinha outros planos. Visando seu projeto presidencial em 2022, ele elegeu-se com o compromisso de entregar o governo para o vice, Rodrigo Garcia, então no DEM —partido que ficaria amarrado ao roteiro, num arranjo que incluía o MDB. Não deu muito certo quando o DEM implodiu, no começo deste ano, com a derrota do grupo de Rodrigo Maia na disputa da Câmara dos Deputados para Arthur Lira (PP-AL), um dos cônsules do centrão.
Doria operou um rearranjo, filiando Garcia ao PSDB para lhe garantir a legenda em 2022. Maia tornou-se secretário de seu governo e tem sido instrumental no mapeamento e conversão de deputados tucanos arredios ao governador paulista nas prévias presidenciais do PSDB, marcadas para domingo (21).
Com isso, o espaço de Alckmin tornou-se exíguo na sigla que ajudou a fundar. Isso, nas palavras de aliados, o deixou com um inusual “sangue nos olhos” —tanto que cometeu o que é visto até por eles como um erro político, que foi credenciar-se para votar nas prévias, só para atormentar Doria.
O ex-governador pode esperar uma eventual derrota do desafeto para Eduardo Leite (RS) nas prévias para retomar uma disputa interna, mas o fato é que o PSDB paulista está todo fechado por Doria.
O canto de sereia petista surge nesse contexto. Alguns aliados de Alckmin dizem que o impacto potencial no eleitorado paulista, de extração antipetista em sua maioria, poderá ser grande se ele disputar o Palácio dos Bandeirantes.
Até antigas críticas de Alckmin ao PT, sigla contra a qual o tucano disputou a Presidência em 2006 (Lula) e 2018 (Haddad), estão circulando para relembrar o passado da relação. Na campanha de 2018, por exemplo, o tucano disse no Twitter ao rival na corrida presidencial: “Caro Fernando Haddad, não é o meu partido que é comandado de dentro de um presídio. Nem minha campanha foi lançada na porta de penitenciária. Em São Paulo, bandido pega cana dura.”
A Folha colheu um exemplo anedótico desse mal-estar em um almoço com políticos próximos de Alckmin em um tradicional reduto da elite paulistana, nesta semana. O dono do lugar aproximou-se dos comensais e, após mesuras, cobrou duramente aqueles aliados sobre “a traição do Geraldo com o PT”.
Outros, contudo, dão de ombros e dizem que o desgaste é pontual, desde que o namoro fique onde está. Eles avaliam que o balão de ensaio, contudo, ganhou voo o suficiente para dar tempo a Alckmin para tomar sua decisão. Se o ainda tucano resolver topar a empreitada, uma incógnita mesmo para aqueles mais chegados a ele, a montanha a ser escalada será outra.
No PT, há aqueles que alimentam a chapa como uma saída para ampliar tanto a base eleitoral de Lula no Sudeste e no Sul contra Jair Bolsonaro, quanto para ajudar a montar uma governabilidade que estaria ameaçada de saída em 2023.
Mas uma maioria ruidosa na sigla, ciosa de perda de espaço, já lança teses delirantes segundo a qual o “mercado”, aí com aspas compulsórias, vê Alckmin como um “cavalo de Tróia” que facilitaria a derrubada de Lula no futuro. É uma teoria que, além de desconectada da realidade política, ignora que agentes do mercado financeiro nunca gostaram de Alckmin e tiveram fases de grande enriquecimento sob Lula. Mas reverbera, em especial nas alas mais ideológicas do PT.
Folha de SP
Guru de Moro, Pastore diz que auxílio emergencial foi pago a mais gente do que deveria
Na Câmara, economista cita restrição a teto de gastos, critica Lira e afirma que PEC dos Precatórios é ‘clientelismo político’
Primeiro nome apresentado por Sergio Moro como auxiliar na área macroeconômica de sua possível candidatura à Presidência da República em 2022, o ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore afirmou nesta quinta-feira (18) que o auxílio emergencial de R$ 600 foi pago a muito mais gente do que deveria, se mostrando um dos principais exemplos de erros do governo Jair Bolsonaro na área fiscal.
Em audiência pública na Câmara dos Deputados, à qual participou de modo virtual, Pastore também afirmou ter restrições ao teto de gastos, fez críticas ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e classificou a tentativa de usar parte da folga orçamentária com a aprovação da PEC dos Precatórios de “clientelismo político de péssima qualidade”.”Não preciso ir muito longe para dizer que houve um enorme desperdício na utilização dos recursos”, afirmou o economista na audiência, cujo tema era a discussão sobre a dívida pública brasileira.
“Em um país que é avaliado por um economista que é o criador do Bolsa Família, chamado Ricardo Paes de Barros, que estima a pobreza absoluta no país, olhando por cima, em algo como 25 milhões de habitantes, foi dado os R$ 600 para 66 milhões de pessoas. Quer dizer, tinha gente que não tinha que receber”, afirmou Pastore em sua exposição.
Ele comparou o gasto em relação ao PIB de outros países desenvolvidos durante a crise da Covid, argumentando ser este um exemplo de “gasto mal feito, de um erro de dimensionamento para aquilo que o governo podia gastar”.
O auxílio emergencial teve início em abril de 2020 como forma de atenuar os impactos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus.Seu valor inicial foi de R$ 600, diminuído no segundo semestre daquele ano para R$ 300. O programa foi suspenso em dezembro e retomado em abril deste ano, com valores de R$ 150 a R$ 375.
Em 2020, o auxílio emergencial chegou a mais de 68 milhões de pessoas. Com a mudança das regras para 2021, que só permitiu o recebimento para uma pessoa por família, o número caiu a quase a metade.
Em seu discurso de filiação ao Podemos, no dia 10, ocasião em que esboçou parte de suas propostas para eventual candidatura, Moro ressaltou a criação de uma “força tarefa” para erradicação da pobreza, afirmando ser possível atingir essa meta sem furo do teto de gasto ou outra irresponsabilidade fiscal.
“Uma das prioridades do nosso projeto será erradicar a pobreza, acabar de vez com a miséria. Issojá deveria ter sido feito anos atrás. Para tanto, precisamos mais do que programas de transferência de renda como o Bolsa Família ou o Auxílio Brasil. Precisamos identificar o que cada pessoa necessita para sair da pobreza”, discursou o ex-juiz.
Sem detalhar como pretende atingir essa meta, afirmou apenas que “mesmo quando se quer uma coisa boa, com esse aumento do Auxílio Brasil ou do Bolsa Família (…) vem alguma coisa ruim junto, como o calote de dívidas, o furo no teto de gastos e o aumento de recursos para outras coisas que não são prioridades”.
“Não é, e nem precisa destruir o teto de gastos ou a responsabilidade fiscal para fazê-lo. Nós podemos erradicar a pobreza e esse é o desafio da nossa geração”, completou Moro, em uma fala interpretada como tentativa de mandar recado à base eleitoral do ex-presidente Lula (PT).
Após fazer as considerações sobre o auxílio emergencial, Pastore fez nessa quinta críticas diretas a Arthur Lira, um dos principais oponentes de Moro no mundo político. “Do mesmo jeito [gasto desnecessári o] que está sendo feita agora, tem emenda de relator que está mandando dinheiro pra deputado cujo pai é prefeito de Alagoas [o pai de Lira é prefeito de Barra de São Miguel]. Desculpa ser duro. Mas esse é um cidadão que está vendo esse tipo de alocação de recursos e que se revolta”, afirmou o economista.
Lira liderou no Congresso, com o apoio de Bolsonaro, uma ofensiva para mudar pontos da legislação em resposta à Lava Jato, operação que teve em Moro a sua principal figura pública.
Moro, que se filiou ao Podemos com o intuito de disputar a Presidência em 2022, anunciou o nome de Pastore em entrevista ao Conversa com Bial, da TV Globo, exibida na madrugada de quarta-feira (17). Ele disse que o ex-presidente do Banco Central na gestão de João Batista Figueiredo, o último general-presidente, faz parte de um grupo que ele reuniu para discutir os rumos econômicos do Brasil. “É um dos melhores nomes do país”, afirmou.
Na audiência pública desta quinta, da qual participou também o ex-presidente do BNDES André Lara Resende, Pastore também afirmou ter restrições ao teto de gastos. “Não acho que esse é o melhor regime que o país podia ter. Ele não tem que ter uma rigidez dessa natureza, ele tem que ter obediência a critérios de como gastar, como retorno etc.”
Também em seu discurso na filiação ao Podemos, Moro fez menções rápidas ao teto de gastos, sempre no sentido de que é possível erradicar a pobreza sem que ele seja rompido. Em nenhum momento, o ex-juiz criticou o modelo.
Pastore também atacou nesta quinta a PEC dos Precatórios, prioridade do governo Jair Bolsonaro, de quem Moro foi ministro da Justiça durante quase 16 meses. “Não tenho nada contra você estourar um teto de gasto para fazer uma ajuda emergencial como foi feita agora, entre R$ 30 e R$ 40 bilhões. Mas eu tenho muito contra você dar um calote em cima de precatórios e abrir R$ 16,6 bilhões em emendas secretas, mais o fundo partidário. Isso não é forma de fazer política fiscal. Isso é clientelismo político de péssima qualidade, vocês deputados, me desculpe.”
A PEC dos Precatórios, já aprovada pela Câmara e em análise no Senado, dribla o teto de gastos e permite ao governo gastar mais R$ 91,6 bilhões em 2022 sem a necessidade de cortar outras despesas —o que eleva o déficit nas contas públicas e o endividamento do país. O Brasil está no vermelho desde 2014, sua dívida passa de R$ 5,4 trilhões e os custos com juros são pagos pela sociedade como um todo.
Além de abrir margem para o pagamento do Auxílio Brasil, que sucede o Bolsa Família, a proposta deve abrir margem para aumento das emendas orçamentárias controladas pela cúpula do Congresso, além de eventual aumento do fundo eleitoral destinado a partidos e candidatos na disputa de 2022.
Lira controla na Câmara a distribuição e execução das chamadas emendas de relator, cuja divisão atende a critérios estritamente políticos. Esse tipo de emenda teve sua execução suspensa pelo Supremo Tribunal Federal, mas o Congresso se articula para tentar reverter a decisão. O Congresso também deve tentar elevar a verba do fundo eleitoral, de R$ 2,1 bilhões. No começo do ano, já houve tentativa de triplicar essa verba.
Juiz da Lava Jato, Moro abandonou a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro, com quem se desentendeu —isso motivou seu pedido de demissão em abril do ano passado.
Neste ano, Moro sofreu uma dura derrota no STF (Supremo Tribunal Federal), que o considerou parcial nas ações em que atuou como juiz federal contra o ex-presidente Lula. Com isso, foram anuladas ações dos casos tríplex de Guarujá, sítio de Atibaia e Instituto Lula.
Na parte final da audiência desta quinta, Pastore afirmou ainda ser contra o “Estado mínimo”. “Eu acho que o Estado tem que fazer investimentos, o Estado tem que cuidar do bem-estar da sociedade. Agora, o Estado também tem que ser um emissor de seguros contra situações complexas, algumas das quais não são previsíveis. Ciclos econômicos existem, e quando nós entramos num ciclo econômico, a função do estado como gerador de seguros é fazer políticas contracíclicas.”
Nesse ponto, defendeu distribuição de renda, quando há situação de pobreza absoluta. “Você não dá o dinheiro de graça. Você faz com que essa mãe leve a criança para a escola, para a creche, para que ela [a mãe] possa ser lavadeira ou faxineira numa casa, tentar fazer com que o filho tenha uma capacidade de subir na sociedade melhor que ela”, afirmou, acrescentando: “O Brasil não tem política fiscal nenhuma, o Brasil gasta de acordo com grupos de pressão”.
Valor
PSB avaliza entrada de Alckmin na sigla e quer concessões do PT
Tucano negocia também com o PSD e se coloca como pré-candidato a governador em SP
Em reunião de cúpula em Brasília, as principais lideranças do PSB sinalizaram, na noite de quarta-feira, que o partido está de portas abertas para receber o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano, prestes a sair do PSDB, passou a ser citado como possível candidato a vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2022.
O ingresso de Alckmin no PSB seria parte da estratégia para o início da construção de uma união considerada ainda pouco provável no meio político. Uma ala mais orgânica da legenda avalia que a entrada do tucano traria um custo ao partido e que, por isso, o PT poderia ceder como contrapartida mais espaço nos Estados diante do arranjo eleitoral.
Há uma semana, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), que se coloca na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, conversou por telefone com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, sobre a possível entrada de Alckmin na sigla. Setores do PT, após sinais emitidos por Lula, passaram a estimular a ideia e já consideram que Haddad pode disputar o Senado na chapa com França.
No encontro de quarta-feira, que debateu cenários de alianças regionais a partir da suposta filiação de Alckmin, estavam presentes os três governadores do PSB: Paulo Câmara (PE), Flávio Dino (MA) e Renato Casagrande (ES). Além de Carlos Siqueira, também participaram da reunião, na sede do partido em Brasília, o ex-governador de São Paulo Márcio França, o prefeito do Recife, João Campos, e o ex-deputado Beto Albuquerque, pré-candidato ao governo do Rio Grande do Sul.
Um dos principais entusiastas da filiação de Alckmin ao PSB para integrar a chapa presidencial de Lula é Márcio França. Ele é pré-candidato ao governo de São Paulo. Sem Alckmin na disputa e com o apoio do PT, acredita que teria forças para derrotar o candidato do governador João Doria (PSDB), o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).
Fontes do PSB ouvidas pelo Valor lembraram que, em 2015, Alckmin teve uma conversa com Paulo Câmara em Brasília na tentativa de começar a construir uma aliança. Em 2016, o PSB apoiou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Dois anos depois, o PSB de Pernambuco, com peso histórico nas decisões do partido, resolveu caminhar ao lado de Fernando Haddad na disputa presidencial. Nacionalmente, a legenda adotou a neutralidade e isolou o então candidato Ciro Gomes (PDT), que pretendia ter o apoio da sigla.
No início de outubro, em reunião com Lula em Brasília, integrantes do PSB apresentaram uma lista de seis Estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e Acre – considerados prioritários para a sigla nas eleições do próximo ano. A expectativa é de que, até o início do próximo mês, os focos de maior resistência regional estejam dissipados e a união entre as duas agremiações, já dada como certa nos bastidores, selada.
No PSB, há setores que ainda não descartam a possibilidade de o partido lançar candidatura própria, embora admitam ser pouco provável. “O importante é que o partido está conversando e analisando todos os cenários. Não é descartada ainda candidatura própria, quem sabe com o próprio Alckmin”, diz, em reserva, um interlocutor da legenda.
Algumas lideranças petistas passaram a estimular internamente a ideia de ter o tucano na chapa. O entendimento é de que, além de fazer um aceno ao mercado, a união representaria o fortalecimento dos laços democráticos do país na tentativa de derrotar o bolsonarismo.
Algumas lideranças do PT olham com desconfiança o movimento em volta de Alckmin. Há também a possibilidade de o tucano migrar para o PSD, de Gilberto Kassab. Em viagem pela Europa, Lula postou nas redes sociais, no início da semana, quatro mensagens em que confirma sua aproximação com o político do PSDB.
O ex-presidente, que o derrotou no segundo turno da corrida presidencial de 2006, disse ter uma “extraordinária relação de respeito com o Alckmin”. “Fui presidente enquanto ele era governador. Não há nada que aconteceu entre nós que não possa ser reconciliado”, escreveu.
Valor (análise)
O momento para dar as costas a Bolsonaro ‘
O tempo para ficar mal com o presidente é ali na beirada da eleição’, diz um aliado do Centrão
CRISTIAN KLEIN
A perda de apoio de Jair Bolsonaro em sua base de simpatizantes tem sido demonstrada em estudos sobre engajamento nas redes sociais e pesquisas de avaliação de governo. A queda ocorre em proporção menor quando o assunto é a intenção de voto para 2022, embora isso não seja garantia de que o presidente chegará a um eventual segundo turno.
Tanto no nível dos eleitores quanto no da classe política, há crescente potencial para um “estouro da boiada” que pode inviabilizar o mínimo de competitividade para a reeleição. A rápida deterioração da economia, aliada à crise de personalidade pela vinculação explícita ao Centrão, seriam erros insustentáveis até para empedernidos bolsonaristas.
Está aí a chance de uma terceira via, que busca encontrar espaço antes que Lula avance a ponto de ganhar a disputa no primeiro turno, como começam a indicar alguns institutos.
Há muito chão pela frente, mas em nenhum horizonte a vida de Bolsonaro parece fácil para manter a cadeira no Planalto. Parte relevante de seu eleitorado em 2018 se arrependeu e debandou para a oposição, enquanto outra já não o defende com tanta força.
Nota-se, nas últimas semanas, a curiosa espiral de silêncio em se tratando de uma corrente política tão ruidosa e afeita ao fanatismo. Toda a energia envolvida na mobilização dos atos antidemocráticos de 7 de setembro aparentemente se dissipou.
Com o desfecho sem golpe e sem voto impresso, Bolsonaro ficou desprovido de cartadas, exceto as tradicionais do presidencialismo de coalizão, como a distribuição de cargos e de emendas parlamentares. Voltou ao ninho do Centrão, onde era um mero integrante do baixo clero, para decepção dos apoiadores que pregavam uma revolução. O pragmatismo solapa o bolsonarismo, que depende da ideologia histérica, violenta, anticientífica, não iluminista, para sobreviver.
O casamento com o PL e as demais legendas do bloco fisiológico, como PP e Republicanos, serve menos ao interesse de Bolsonaro – que poderia ir para qualquer sigla, vide as negociações anteriores com o nanico Patriota – do que a esses partidos. Governistas por natureza, extraem o que podem do corpo de um Executivo que sabem enfraquecido, incapaz de apresentar realização em três anos de administração.
Sem vocação para a gestão, Bolsonaro apostou no discurso da destruição e empurrou militantes para uma campanha permanente contra as instituições. Resta saber se haverá fôlego para a sua própria reconstrução eleitoral. Além do revés em pesquisas, a expectativa de desidratação, com defecções na base, já se mostra uma realidade diante da dificuldade de atrair apoios de governadores, prefeitos e parlamentares.
Aliados em Brasília declaram que a adesão a Bolsonaro não viajará do Congresso para os palanques de seus redutos eleitorais. O pagamento do governo em verbas e cargos encomenda apenas a entrega de votos no plenário. O pacote não inclui o preço de fazer campanha para um presidente cuja rejeição bate nos 69%, segundo o último levantamento Genial/Quaest.
A debandada, informa o prefeito de um grande município, filiado a uma sigla do Centrão, não pode ser agora, para que não haja retaliação do governo federal. Mas já está contratada. “Não quero ficar mal com o Bolsonaro antes do tempo. O tempo para ficar mal com ele é ali na beirada da eleição. Porque não tem condição de votar em Bolsonaro”, afirma o político, para quem “o Brasil não aguenta mais sofrer”.
“Isso é uma loucura muito grande o que a gente está vivendo. Tenho vergonha do que aconteceu na reunião do clima [COP26] e no G20. Foi patético. Não sou PT, mas Lula dava show, Obama dizia ‘Esse é o cara’. [Bolsonaro] é tudo de ruim, O Brasil entrou numa fase horrorosa, com inflação, economia que não vai para frente…”, critica o prefeito, que prefere não se identificar.
No Rio, prefeituras da Região Metropolitana têm sido irrigadas com recursos federais, como São Gonçalo, que apareceu na liderança de municípios do país que mais receberam dinheiro de emendas parlamentares do orçamento secreto, nos últimos meses. A cidade é comandada pelo policial militar reformado Capitão Nelson (PL), um bolsonarista que surpreendeu na eleição do ano passado ao vencer o petista Dimas Gadelha por 50,8% contra 49,2%, com diferença de 6 mil votos.
Apesar de acordos locais entre Bolsonaro e prefeitos da populosa Baixada Fluminense, a previsão é de uma disputa pelos cabos eleitorais entre o presidente e o seu maior adversário. “O pau vai quebrar”, reconhece o prefeito Waguinho, de Belford Roxo, à frente do futuro diretório do União Brasil, com a fusão em curso entre o PSL e o DEM.
Waguinho se diz bolsonarista e conta ter sido convidado para ser vice na chapa à reeleição do governador Claudio Castro (PL). Mas admite que o palanque estadual de Bolsonaro no Estado pode ser alvo de traições com o crescimento de um movimento Lula-Castro entre prefeitos, vereadores e deputados.
A filiação de Bolsonaro ao PL de Castro engessa o governador, que ficará obrigado a fazer campanha para o presidente, mas não segura o apoio daqueles que pretendem se vincular a Lula ou mesmo a uma candidatura da terceira via, como a do ex-juiz Sergio Moro (Podemos) ou de quem vencer as prévias do PSDB, se o governador de São Paulo, João Doria, ou o do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
No terceiro maior colégio eleitoral do país, o objetivo do PT é isolar ao máximo o bolsonarismo. Para isso, abre mão de lançar um nome a governador, vice ou mesmo ao Senado, onde por enquanto a prioridade do partido é com a pré-candidatura do presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano, também negociável. Tudo para atrair aliados e tirar votos de Bolsonaro.
As pontes com o governador já existem. Fiador da governabilidade de Castro, Ceciliano tem importantes espaços na administração estadual, como a pasta de Infraestrutura, compartilhada com o secretário Max Lemos (PSDB), cujo partido também está na corrida presidencial. É uma colcha de retalhos que mostra como é frágil o palanque de Bolsonaro, mesmo no único Estado onde o PL tem um governador.
Cristian Klein é repórter da sucursal do Rio
Folha de SP (análise)
‘Vacina ainda funciona para a quarta onda?’, perguntam-se alemães
NELSON DE SÁ
WSJ ressalta que recordes de infecção na Europa se devem em parte ao ‘aumento nas infecções entre vacinados’. Na Europa, países como Áustria, Bélgica e Holanda também enfrentam “taxas recordes” de infecção por Covid-19, mas é a Alemanha que concentra a atenção.
No alto de Frankfurter Allgemeine Zeitung e Süddeutsche Zeitung, entre outros alemães, são chamadas como “Acima de tudo, é preciso acelerar o ritmo do reforço”, “Efeito da vacina está se esvaindo” e “Vacina ainda funciona bem o suficiente? A proteção imunológica ainda é suficiente para superar esta quarta onda?” (abaixo).
O alarme chegou à imprensa americana, onde questionar vacina, sobretudo a mais usada nos EUA e na Europa, havia se tornado tabu. O alto do Wall Street Journal, sobre as restrições recém-retomadas por Alemanha e outros, ressaltou o “aumento nas infecções entre pessoas vacinadas”. Bares e restaurantes estão sendo fechados na Saxônia, o que pode se estender para outras regiões.
“A Alemanha tem uma taxa de vacinação completa de 70%, e mais de 45% dos pacientes hospitalizados com infecção haviam sido totalmente vacinados”, escreve o correspondente de Berlim, citando o Instituto Robert Koch, o centro de prevenção de doenças do país.
Nas últimas semanas, alguns governos regionais chegaram a determinar “restrições aos não vacinados, até confinando-os em casa, mas as medidas não conseguiram retardar o aumento das infecções”.
Segundo o WSJ, “embora os dados mostrem que as pessoas vacinadas têm uma probabilidade consideravelmente menor de contrair a doença, também está ficando claro que essa vantagem está diminuindo com o tempo e a redução gradual da resposta imunológica desencadeada pela vacina”.