Com desemprego, inflação e desconfiança em alta, FGV revê projeções para baixo
A estimativa para o PIB do ano que vem, por exemplo, caiu de 1,5% para 0,7%. Um quarto das famílias de menor renda está endividado
Apesar do eterno otimismo estampado nas declarações de Paulo Guedes e afins, o cenário da economia brasileira é preocupante. E desse modo, leva a revisões das habituais projeções, especialmente para 2022 – que é ano eleitoral. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), por exemplo, prevê crescimento menor para este ano e o próximo. A confiança das empresas e das pessoas também cai, e a entidade espera um 2022 no mínimo “desafiador”.
Segundo os professores e pesquisadores Armando Castelar Pinheiro e Silvia Matos, do FGV Ibre, indicadores recentes confirmam expectativa de baixo crescimento no terceiro trimestre. São esperados resultados negativos no comércio e na indústria, enquanto o setor de serviços é exceção. Dados do IBGE corroboram essa observação. Assim, a alta do PIB deste ano foi revista para baixo (4,8%) e a de 2022, de 1,5% para 0,7%.
Economia parada
Quando muito, o resultado do PIB de 2021 vai de certa forma compensar a queda do ano anterior (-4,1%, a maior da série do IBGE). O país vem acumulando resultados fracos, mostrando quadros de recessão ou estagnação. Os dados do terceiro trimestre deste ano serão divulgados em 2 de dezembro.
“A exceção nesse quadro de queda na confiança setorial era o setor de serviços, cuja evolução favorável vinha sendo a boa notícia deste final de ano. Também esta, porém, começa agora a dar sinais de enfraquecimento”, diz boletim do Ibre-FGV. “A forte aceleração inflacionária e a piora das condições financeiras são fatores determinantes para esse quadro de deterioração do cenário econômico doméstico.” A inflação oficial no Brasil, medida pelo IPCA-IBGE, já atinge os dois dígitos no acumulado.
“O espalhamento das pressões inflacionárias desancora as expectativas e torna a tarefa da autoridade monetária mais desafiadora, exigindo juros mais altos para conter o avanço dos preços, o que por outro lado contribui para arrefecer o crescimento da economia, dificultando a geração de empregos e renda”, afirmam ainda os analistas.
Incerteza e pessimismo
Além disso, eles citam a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição 23, a PEC dos Precatórios, como fator de incerteza fiscal, tornando o cenário e as projeções para 2022 ainda mais “nebulosos”. Com pedido de vista coletiva, a discussão no Senado foi postergada.
Já a confiança na economia parece estar abalada, conforme prévia divulgada pelo FGV Ibre. O Índice de Confiança Empresarial recuou 2,5 pontos em setembro, teve leve alta no mês seguinte (0,4) e agora caiu 4,3, para 96 pontos. Já o índice referente ao consumidor perdeu 6,5 em setembro, avançou 1 ponto em outubro e agora ficou praticamente estável (-0,1), “passando a melancólicos 76,2 pontos”. A escala vai até 200.
Segundo o FGV, até um quarto das famílias de menor renda, aquelas com rendimento mensal de até R$ 2.100, se apresentam como endividadas. “Grande parte teve alguém na família que perdeu o emprego, essas famílias tipicamente já esgotaram seus recursos de poupança quitando despesas, percebem os efeitos da inflação mais alta e registram a maior proporção desde o início da série histórica dos que definem sua situação orçamentária atual como ‘endividado’ (24,5%).” Entre as maiores renda (acima de R$ 9.600), essa taxa cai para 6,4%.