Novas regras fazem de carro caro o novo normal do Brasil

Preço do zero-quilômetro subiu 30% nos últimos 12 meses, diz consultoria

O carro popular que custava R$ 45 mil em 2020 hoje é vendido por R$ 70 mil, e presidentes de montadoras anunciam o reposicionamento das marcas. O mercado automotivo nacional mudou com a pandemia, e há várias razões para isso. O primeiro motivo já é conhecido: a escassez global —e o encarecimento— de peças, com a consequente falta de estoques. Ninguém escapou desse desarranjo causado pela Covid-19, e mesmo os EUA veem a inflação do carro beirar os 20% do início de 2020 até agora.

Contudo a situação é mais complicada no Brasil. O país passa por mudanças nas regras ambientais. A partir de janeiro, carros novos nacionais terão de atender à sétima etapa do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares), com reduções nos níveis de ruídos e de emissões. Além disso, deverão trazer controle de estabilidade como item de série ao longo dos próximos dois anos, além de outras exigências para aumentar a proteção aos ocupantes. São investimentos que já estão em andamento.

Ainda há o terceiro elemento: a desvalorização do real, resultado de questões econômicas e políticas. “O dólar em alta elevou de forma demasiada o preço dos veículos. O cenário de baixa produção e a demanda relativamente mais alta contribuem para esse aumento”, diz Milad Kalume, gerente de desenvolvimento de negócios da Jato Dynamics Brasil. Paulo Cardamone, sócio da consultoria Bright, afirma que os valores cobrados por carros novos devem continuar a subir durante o próximo ano, que ainda será impactado pelos problemas de hoje.

Mas não será possível retomar a produção em larga escala sem que haja veículos de preços mais acessíveis no mercado. Segundo cálculos da Bright, o tíquete médio atual dos veículos novos vendidos no Brasil é de R$ 110 mil. A consultoria levantou que o aumento médio acumulado nos últimos 12 meses já está em torno de 30%. Ao reposicionar modelos mais em conta ou parar de produzir compactos menos equipados, o mercado automotivo corre o risco de perder volume.

Da Folha de São Paulo