Editorial: Resgatar a dignidade em 2022

Chegamos ao fim de mais um ano “diferente” e desafiador. Depois de muitos momentos difíceis, estamos experimentando, aos poucos, a sensação de uma quase volta à normalidade, com o arrefecimento da pandemia devido ao avanço da vacinação no Brasil.

Ainda que tardia – poderíamos ter sofrido bem menos se não fosse a demora do governo federal em adquirir os imunizantes – a vacinação no Brasil está diminuindo efetivamente o número de casos e de mortes por Covid-19, graças especialmente à eficiência do SUS (Sistema Único de Saúde), presente em todo o País, mesmo nas localidades mais distantes e de difícil acesso.

Além do controle da pandemia, outro destaque positivo deste ano em relação ao anterior foi o fato de que nossa categoria parou de diminuir e até mesmo cresceu em relação ao ano passado. Houve contratação no setor de caminhões, o que nos traz um alívio, especialmente num momento em que os números do desemprego no País seguem assustadores.

Em que pese o setor automotivo ter sido duramente afetado pelo problema mundial da falta de semicondutores – uma consequência da pandemia dado o aumento da demanda de produtos para o home office, como computadores e smartphones, concorrentes na compra desses componentes – conseguimos, com a adoção de instrumentos de flexibilização, reduzir o impacto sobre os trabalhadores, evitando as demissões em massa.

Outra conquista foi a nossa Campanha Salarial, ainda mais dura e exaustiva neste ano devido ao altíssimo índice de inflação que tivemos no período. Mesmo sem aumento real, garantir a reposição integral pelo INPC para a quase totalidade da categoria, neste cenário, foi bastante positivo, resultado do empenho dos companheiros.

Fica evidente, neste balanço, que tivemos um 2021 melhor que o ano anterior, em diversos aspectos, o que deve ser valorizado e comemorado. No entanto, sabemos que, apesar de conquistas importantes, temos um caminho longo a seguir. Infelizmente, não houve uma melhora na economia brasileira, no geral. Muito menos, para todos.

Muita coisa precisa ser resolvida no Brasil. A economia precisa voltar a gerar emprego. Precisamos parar de ver famílias inteiras nas ruas – cena a cada dia mais comum -, porque as pessoas não conseguem emprego, nem pagar contas, manter seus aluguéis, nem mesmo comer. Aquele índice de inflação que tanto dificultou nossa Campanha Salarial também ajudou a tirar do prato de boa parte da população até mesmo itens básicos de alimentação.

Se tem uma coisa que não mudou neste País é para quais interesses esse governo administra, para quem ele faz a gestão dos recursos do Estado. Com certeza, não é para o povo. A gestão criminosa e desastrosa da Petrobras, por exemplo, gerou como consequência o aumento exorbitante dos combustíveis e, dos demais produtos, tudo para garantir o lucro dos acionistas, em sua maioria grandes investidores internacionais, grupos econômicos europeus e americanos. Governa-se para uma pequena elite e o resultado é o aumento da pobreza e da fome. 

O combate à fome, aliás, foi um dos nossos focos neste ano de 2021. Intensificamos as campanhas de arrecadação de alimentos e, como sempre, pudemos contar com uma efetiva participação solidária da categoria.

Outro exemplo é a populista PEC dos Precatórios, em que a pretexto de oferecer um necessário auxílio emergencial, o governo faz isso às custas daqueles que têm direitos a receber do Estado. Lembremos que precatórios são resultado de processos ganhos na Justiça contra o Estado, muitos são de trabalhadores que ganharam processo contra o INSS, por exemplo.

O próximo ano, no entanto, é um ano de oportunidades. Muitas mudanças para melhor poderão ocorrer, mas elas passam por todos nós e por nossa mobilização. Coragem para lutar por um país mais justo é uma das marcas dos Metalúrgicos do ABC e sabemos que em 2022 estaremos juntos mais uma vez na luta por esse objetivo.

Em nossa categoria, majoritariamente voltada para o setor automotivo, temos que pensar na pauta ambiental e nas mudanças que ela trará para o setor. Não podemos ficar dependentes, nem permitir que a produção automobilística no Brasil seja extinta. As empresas estão investindo na nova motorização elétrica em seus países de origem – EUA, China e no continente Europeu – relegando ao hemisfério sul o papel de simples consumidores. Isso significaria jogar no lixo toda uma indústria que sempre foi muito importante para a economia brasileira.

Consciente deste cenário, o Sindicato tem se dedicado ao debate acerca do carro híbrido etanol-elétrico, uma oportunidade não só para nossa categoria e região, mas para todo o Brasil. Esta é uma tecnologia da qual o País detém 100% do conhecimento, com capacidade de se tornar, inclusive, base exportadora destes veículos para países que não estão sendo beneficiados com investimentos por parte das montadoras. Este deve ser o foco da nossa ação imediata, já projetando os próximos anos.

Aos companheiros e companheiras desejamos o merecido descanso de fim de ano, depois de um 2021 de tantas dificuldades e superações. Nestas festas, já poderemos ficar mais perto e mais juntos daqueles que amamos, sempre atentos para os cuidados de higiene e saúde. Vamos aproveitar para renovar as energias e nos preparar para os próximos desafios. A todos um Feliz Natal e um 2022 de mudanças para novos e melhores tempos.

Wagner Santana

Presidente