Diretor do Sindicato analisa que situação pode durar o ano todo, gerar paralisações e agravar a desestruturação da indústria nacional

Empresas americanas têm menos de cinco dias de estoque de semicondutores. No Brasil, outros produtos também estão em falta e prejudicam a produção

Foto: Adonis Guerra

A falta de semicondutores e de outros produtos que afeta a indústria global desde o início da pandemia e tem impacto direto também no Brasil, pode seguir pelo ano todo e gerar paralisações e demissões nas fábricas. A avaliação é do diretor administrativo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno. 

Na última terça-feira, 25, o Departamento de Comércio dos EUA informou que empresas americanas têm uma média de menos de cinco dias de semicondutores em estoque, nível que as deixa vulneráveis a paralisações de produção se o fornecimento for interrompido. 

Wellington ponderou que além da falta de semicondutores, a indústria automotiva sofre com outras baixas e ressaltou a dificuldade no Brasil com os itens importados e a falta de políticas industriais. 

“O setor automotivo está com muitos problemas de fornecimento, de pneu, de aço, de resina. Há dificuldade das empresas fornecedoras em produzir, pois não conseguem acessar a matéria-prima. Além disso, sofrem com a falta de produtos importados, pois além do fechamento de portos por conta da Covid-19, os países que produzem estão segurando estoque para suas próprias manufaturas, e o que estão mandando para o Brasil é insuficiente. Até porque o Brasil, por falta de políticas de indução e fortalecimento da indústria, tem perdido importância perante outros polos de produção”. 

“A tendência é passarmos o ano inteiro com esse problema. Não temos perspectivas nenhuma de que o atual governo vá adotar as medidas necessárias que garantam matéria-prima e insumos para a produção no país. O mercado global está com problema principalmente por conta do agravamento da pandemia e fechamento dos portos, o que coloca em risco a chegada desses insumos. Isso pode gerar paradas na produção, fechamento de empresas e, como consequência, demissões”, avaliou. 

Falta de política industrial 

O dirigente ressaltou que a situação do desabastecimento tem a ver diretamente com a falta de política industrial. “Não temos políticas que direcionem os investimentos e que viabilizem a competitividade de exportações, ou menos ainda que garantam o básico para a produção no país. No início da pandemia, propusemos e discutimos importância da reconversão e nacionalização de empresas para a produção de insumos médico-hospitalares. Isso abriria uma possibilidade de nacionalizarmos também produtos dos mais variados setores que temos no país, inclusive o automobilístico. Hoje o Brasil é muito dependente de conteúdo importado, e não só de peças com valor agregado”.

“Por exemplo, algumas montadoras deixam de comprar peças aqui para fazer compras globais. Estão cada vez mais centralizando as compras, por estratégia da empresa, mas também levando em consideração as políticas de cada país. No nosso caso brasileiro, onde o Estado não exige nenhum compromisso por parte das empresas, ficamos à mercê das decisões das matrizes, e elas não levam em consideração os interesses dos trabalhadores e do Brasil”, completou.