Negociação entre Sindicato e Volks garante retorno dos trabalhadores em layoff e do 2º turno

Montadora retomará a produção em dois turnos a partir do próximo dia 2 de março

Foto: Adonis Guerra

Cerca de mil trabalhadores na Volks, em São Bernardo, que estavam em layoff (suspensão temporária de contrato de trabalho de até cinco meses), desde novembro do ano passado devido à falta de componentes eletrônicos, retornarão antecipadamente aos postos de trabalho. Com a decisão, negociada com o Sindicato, a planta da Anchieta volta a funcionar com dois turnos a partir do próximo dia 2 de março. Atualmente a Volks conta com cerca de 8 mil trabalhadores.

“Estamos a todo momento dialogando com a empresa e acompanhando o cenário. Para atravessar o período crítico de falta de semicondutores e outras peças em geral, buscamos negociações e acordos que priorizam a garantia do emprego, investimentos e instrumentos como o layoff, que nos ajudam a passar por situações como esta de incertezas, instabilidade econômica e política, e uma pandemia sem afetar os trabalhadores”, ressaltou o diretor administrativo do Sindicato e representante dos trabalhadores na fábrica, Wellington Messias Damasceno.

Foto: Divulgação/Adonis Guerra

Wellington destacou que o retorno do segundo turno é uma notícia que traz alento aos trabalhadores, porém lembrou que o setor automotivo ainda vive um momento instável. “Sempre que a produção aumenta é uma expectativa maior de tranquilidade e avanços, mas precisamos estar atentos ao que está acontecendo no país e valorizar nossos instrumentos produzidos a partir de negociações e esforços do Sindicato e dos trabalhadores”.

“Se os companheiros estão retornando agora ao trabalho é porque há um acordo que sustenta, garante e permite que quando há queda de produção os trabalhadores não sejam demitidos. E que no momento de retomada eles possam, inclusive, ter perspectivas de melhoria”, prosseguiu.

Adensamento na cadeia produtiva

Wellington destacou ainda que a volta do segundo turno não é importante somente para os trabalhadores na Volks, mas para toda a cadeia de fornecimento. “Essas empresas agora têm uma expectativa de dobrar a produção e isso também é garantia de emprego e até mesmo, em alguns casos, de contratações”.

Foto: Adonis Guerra

O coordenador-geral da representação na montadora, José Roberto Nogueira da Silva, o Bigodinho, também ressaltou a importância de, com o acordo, ajudar a manter os postos de trabalhos nas empresas fornecedoras. “Essa medida é muito importante para os trabalhadores, e está dando vida para essa fábrica tão significativa na região, no estado e no país e que fortalece uma grande quantidade de pessoas que trabalham em empresas fornecedoras. Além de manter empregos na Volks, possibilita o adensamento na cadeia produtiva”.

Crise dos semicondutores

A escassez de semicondutores não está afetando somente o mercado automotivo, mas todo o setor de tecnologia, já que o microchip é utilizado também na fabricação de computadores, celulares, videogames e televisores.

Para Wellington, o Brasil é refém de outros países e muitos componentes já poderiam ser produzidos no país se houvesse, de fato, uma política que privilegiasse a indústria, a geração de conhecimento e emprego nacional.

“Esses países estão privilegiando suas próprias produções, para depois exportar. Estamos ficando no final da fila. O papel do Sindicato é debater com as empresas a importância de valorizarem e privilegiarem a compra local, como também propor a discussão que fazemos com universidades e governos para o desenvolvimento de políticas públicas que deem conta de fazer uma reconversão estruturada para a atuação nesses nichos de mercado e ficar menos dependentes da importação, muitas vezes de insumos básicos de produção”, pontuou.