Sindicatos Metalúrgicos ampliam debate sobre falta de políticas industriais no país
Movimento em defesa dos trabalhadores destaca falta de ações para fortalecer a indústria automotiva brasileira e levanta debate sobre a discussão do futuro dos motores na indústria 4.0
A participação da indústria no emprego formal brasileiro é de 20,9%; no PIB passa de 22%. Além disso, 32,9% dos tributos federais arrecadados no Brasil vêm do setor, mas o fato é que o governo Bolsonaro opta por ignorar políticas industriais nacionais, priorizando a importação e afetando a cadeia produtiva nacional da pior maneira possível.
Na luta oposta, o movimento sindical coloca essa discussão na mesa e propõe uma reflexão à sociedade, em ano eleitoral, quando uma mudança à frente do Governo Federal poderá abrir espaço para uma virada que pode permitir um debate mais amplo sobre uma política que incentive e aumente a participação da indústria automotiva no crescimento do país.
Leandro Soares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e região (SMetal), destaca que Sorocaba é a cidade que mais exporta veículos no país e para que a situação atual seja revertida, é preciso levantar questionamentos. “O governo que está aí não propõe nenhum tipo de política que nos fortaleça, pelo contrário, vai comprar veículo da China, importar, e deixar de desenvolver nossa própria tecnologia. Precisamos fortalecer o emprego dos trabalhadores brasileiros e isso só é possível se valorizarmos a nossa cadeia produtiva. Trazer esse debate à tona é o nosso dever”.
E não é só em Sorocaba e região que os efeitos dessa falta de projeto refletem na economia. Para Max Pinho, secretário-geral e diretor financeiro da Federação Estadual dos Metalúrgicos da Central Única dos Trabalhadores (FEM-CUT/SP), vivemos esse retrocesso no país desde 2017.
“Bolsonaro carrega isso desde o Michel Temer, com o fim do Programa de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), uma política industrial criada no governo Dilma. Na época o movimento sindical pediu uma renovação, e simplesmente fomos ignorados. Logo em seguida, quando o atual governo assume, vem o acordo da União Europeia com o Mercosul, dando incentivo às importações e isso agravou mais ainda nossa situação”, explica Pinho.
Max reforça que esse acordo gera um impacto negativo na produção nacional e muitas empresas, se não fecharam, poderão fechar portas. “Além de não gerar emprego, gera desemprego, e isso afeta a classe trabalhadora e o desenvolvimento do país. O movimento sindical tem se organizado e questionado, mas em nenhum momento o governo ouviu as centrais sindicais”.
Wellington Messias Damasceno, diretor Administrativo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, reforça essa visão e ressalta que o que se pratica hoje é uma escolha de quem está no poder.
“A opção do governo foi privilegiar rentistas do setor financeiro e a especulação internacional, o presidente abriu as portas do país. E a falta de uma estratégia de desenvolvimento prejudica a soberania nacional inclusive na tecnologia. Temos capacidade de sermos polo entre os maiores produtores do mundo, para exportar tecnologia, conhecimento, valorizar a base de pesquisa e desenvolvimento do país, que está sendo sucateada”, afirma.
Motor híbrido/etanol: futuro da indústria automotiva
A indústria automotiva brasileira é a 9ª maior do mundo, gera mais de 1,2 milhão de empregos diretos e indiretos e corresponde a aproximadamente 2,5% do PIB do país. Só estes dados são suficientes para ressaltar a importância do setor.
Entre os debates levantados pela Federação e seus sindicatos metalúrgicos do Estado de SP, ganha destaque a preocupação em discutir o futuro da indústria automotiva no país, indo na contramão do governo que deixa de lado o setor.
Um dos pontos é ampliar o debate sobre como desenvolver um motor que combine a segunda maior produção de etanol do mundo, a brasileira, e os motores elétricos, já em fase mais avançada no hemisfério Norte e China. É por isso que, em 2021, a direção do SMetal participou e apoiou o debate “Híbrido Etanol – o motor do futuro”, que aconteceu em Araraquara no mês de outubro.
Silvio Luiz Ferreira da Silva, secretário-geral do SMetal, destaca que as empresas vão ter que se adequar em relação à emissão de poluentes. “Principalmente quando tomamos como base as experiências internacionais e falamos de indústria 4.0 e de inovação. O próprio Tratado de Paris e os compromissos reafirmados na COP-21, como aqueles que dizem respeito ao reflorestamento, em incentivar uma matriz energética sustentável, reforçam essa necessidade. Tratar desse debate é uma questão global e não estimulada pelo governo brasileiro, que anda na contramão do mundo. Por outro lado, o motor elétrico por si só foge da nossa realidade, do ponto de vista da proteção do emprego, justamente por isso temos que pensar numa medida protecionista para que possamos garantir emprego, renda e o futuro do país. E nesse sentido de soberania, o híbrido/etanol é o que enxergamos como grande potencial para gerar tudo isso”, explica.
Damasceno destaca que o Brasil é o segundo maior produtor de etanol no mundo, mas é o primeiro a usar para mobilidade urbana, por isso a importância de ocupar esse espaço de debate.
“Só nós abastecemos etanol puro. Esse debate tem que ser puxado porque é uma transição que dialoga com o Brasil, sem deixar de vista a eletrificação, mas dando passos por meio de uma transição mais coerente com nosso país, garantindo emprego, gerando novos, renda e ampliando nossa base de conhecimento com investimentos na ciência”.
É por isso que ainda para este semestre, o SMetal planeja um evento que vai ampliar a discussão sobre o tema. “Com um governo em que não existe uma política industrial, é papel do SMetal fomentar esse debate junto à academia, às empresas e os trabalhadores, para que a gente possa trazer a sociedade para dentro dessa discussão para enxergar o que a gente espera desse futuro. O sindicato tem um papel importante nesse cenário, ocupando até um lugar que o Estado deveria ocupar”, completa Silvio.