Trabalhadores na Mercedes param em protesto às 3.600 demissões anunciadas pela direção da fábrica
Produção, paralisada na tarde de ontem após aprovação em assembleia, retorna na segunda-feira. Na terça, o Sindicato se reúne com a empresa para iniciar as negociações
Reunidos em assembleia com o Sindicato na tarde de ontem, os trabalhadores e trabalhadoras na Mercedes, em São Bernardo, aprovaram a paralisação da produção até a próxima segunda-feira, 12. A atitude foi tomada em protesto ao anúncio feito pela direção da fábrica, na última terça-feira, 6, de que pretende demitir 2.200 trabalhadores diretos e 1.400 temporários.
O presidente do Sindicato e CSE na montadora, Moisés Selerges, afirmou que a paralisação é para começar a ensinar ao novo presidente da Mercedes como se negocia. Na terça-feira, 13, o Sindicato tem uma reunião com a direção da fábrica para iniciar a processo de negociação.
“Pelo fato de ele ser novo, precisamos ensinar algumas coisas para ele, mostrar que aqui em São Bernardo não é igual a Berlim, ou Stuttgart, não é igual na Alemanha. Precisamos mostrar que um processo de negociação se faz em torno de uma mesa. Muitas vezes num processo de negociação não vai prevalecer tudo que o Sindicato quer, mas também não vai prevalecer tudo o que a empresa quer”.
Moisés chamou os companheiros e companheiras para a mobilização e lembrou que a luta é de todos e todas. “O problema não é de áreas específicas, mas de todos nós, portanto a vitória será de todos nós também”.
O dirigente lembrou ainda a incoerência do comunicado, já que até a semana passada pessoas estavam sendo contratadas. “Então como é que funciona, contrata em uma semana e na outra solta um boletim dizendo que tem que demitir? Isso não é lógico, não é racional”.
Luta pelo emprego
“Vemos a situação do país com milhões de desempregados e não queremos fazer parte. Queremos lutar pelos nossos empregos e pelo futuro também dos companheiros de contrato temporário, a luta tem que ser de todos e não só das áreas envolvidas. Aqui não tem herói, tem gente comprometida para fazer a luta, e pode ser um processo longo, temos quer ter fôlego”, finalizou.
Mercado de caminhões e perspectivas
O diretor executivo dos Metalúrgicos do ABC e CSE na Mercedes, Aroaldo Oliveira da Silva, ressaltou que temas como a situação do mercado de caminhões, perspectivas, necessidade de reestruturação de áreas, falta de peças e semicondutores vêm sendo discutidos pelo Sindicato com a direção da fábrica já há algum tempo.
“Temos dialogado sobre essas questões. A direção da Mercedes começou a apresentar um cenário em que a empresa não tem dado o lucro esperado. A matriz teve que fazer um aporte no Brasil, e, segundo eles, era preciso começar a discutir a planta de São Bernardo para não acontecer o pior”.
“Temos enfrentado esse debate, segurado a cada momento e negociando o futuro dessa fábrica. É um desafio colocado, além de outros complicadores como o fato de o governo querer importar 3.500 ônibus elétricos e não termos uma regra para o regime automotivo brasileiro”, completou.
Aroaldo finalizou lembrando que só com união e solidariedade será possível passar por essa situação. “Sabemos que é um momento de insegurança, de muita angústia, mas precisamos estar unidos, organizados e solidários uns com os outros, só assim vamos conseguir atravessar este período”.