A trava dos juros no setor automotivo
Segundo dados do Banco Central, o saldo nas carteiras de crédito com recursos livres para a aquisição de veículos atingiu seu maior patamar histórico em termos nominais, totalizando cerca de R$ 375 bilhões em fevereiro. Isso quer dizer que o sistema financeiro brasileiro nunca teve tanto dinheiro disponível para esse tipo de operação como agora.
Contudo, essa liquidez de recursos não chega na ponta, no potencial comprador. O motivo central é o alto custo dos juros praticados no país, pois a taxa média de juros ao ano nas operações de crédito para veículos ficou em 19,6% para pessoa jurídica e de 29,0% ao ano para pessoa física, segundo dados do Banco Central, também no mês de fevereiro.
A título de comparação, nos Estados Unidos, os juros atuais dessa modalidade estão em 6,5%, patamar já visto lá como ponto fora da curva, pois até 2021 essa taxa de juros estava em 3,85% ao ano.
Quando falamos de uma taxa de juros dessa ordem, entre 20% e 30%, os impactos são inevitáveis. O último boletim da ANEF (Associação Nacional das Empresas Financeiras das Montadoras) mostra que, em 2022, nada menos que 64% das compras de automóveis foram feitas com pagamentos à vista, enquanto as vendas à vista de caminhões também apresentaram elevação, com 36% das operações, lembrando que caminhões tem um valor muito maior que os automóveis.
Esse comportamento obviamente enfraquece o setor automotivo, funciona como barreira para uma retomada necessária e urgente desse mercado. As projeções para 2023 não são animadoras e reverter esse processo passa em primeiro lugar por reduzir as taxas de juros e destravar as condições de financiamento.
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