Ex-trabalhadores na Ford celebram 42 anos da conquista da primeira Comissão de Fábrica em montadora

Encontro aconteceu no último dia 21 de julho no Centro de Formação Celso Daniel, ao lado da Sede, e reuniu a militância da fábrica

Foto: Adonis Guerra

A organização no local de trabalho para defender os interesses dos trabalhadores mudou o autoritarismo que imperava na Ford, em São Bernardo, em 1981. Quarenta e dois anos depois, ex-representantes se reuniram, mais uma vez, no dia 21 de julho, para celebrar a conquista da primeira Comissão de Fábrica em uma na montadora na base e pela manutenção da luta, apesar do fechamento da fábrica em 2019.

“Nós que somos de uma geração seguinte a essa aprendemos muito com esses companheiros e, principalmente, a questão dos nossos valores. O mundo do trabalho muda, a tecnologia avança, temos a indústria 4.0, a internet das coisas, mas a luta em cima dos valores que acreditamos permanece”, disse o presidente do Sindicato, Moisés Selerges, durante encontro no Centro de Formação Celso Daniel, ao lado da Sede.

“Somos um Sindicato forte por conta da nossa base e a entidade tem que investir em formação política, essa é a nossa responsabilidade. Vocês são a prova mais fiel que essa entidade é imortal. E quando olhamos para vocês, percebemos que não estamos sozinhos e isso dá tranquilidade para seguir a luta na nossa categoria”, afirmou Moisés, que agradeceu a participação de todos, a presença de ex-dirigentes e do ex-presidente do PT, José Genoíno.

A Ford anunciou o fechamento da sua planta em 19 de fevereiro de 2019 e as máquinas no antigo prédio do bairro do Taboão pararam de funcionar em outubro do mesmo ano, depois de 52 anos em atividade.

Foto: Adonis Guerra

Luta

O ex-presidente dos Metalúrgicos do ABC e presidente do TID-Brasil (Instituto Trabalho, Indústria e Desenvolvimento), Rafael Marques, lembrou aos ex-companheiros de fábrica que com as mesmas práticas, com as mesmas formas de luta, a classe trabalhadora vai responder a esse mundo novo. “É importante ter isso em mente. Precisamos ter muito mais gente fora da institucionalidade construindo a luta popular, construindo a luta na periferia, avançando a partir da resistência. Isso que vamos continuar fazendo”, disse.

Foto: Adonis Guerra

Comissão de Fábrica

O ano de 1981 foi um dos mais terríveis para a economia brasileira, o país experimentou a pior recessão desde 1947 com uma retração do PIB de 4,3%. A categoria foi atingida com 35 mil demissões em São Bernardo e Diadema. Na Ford não foi diferente e, no dia 3 de julho, a empresa anunciou a demissão de 450 trabalhadores. Três dias depois os trabalhadores decidiram cruzar os braços exigindo a readmissão dos demitidos e o reconhecimento da Comissão de Fábrica.

Na ocasião, o Sindicato estava sob intervenção federal e os trabalhadores entravam normalmente na fábrica, batiam o ponto, dirigiam-se ao posto de trabalho onde permaneciam parados sem ligar a máquina até o fim do expediente. Depois faziam novamente o ritual de marcar o cartão e voltavam para a casa. Os grupos de militantes faziam passeatas no interior da fábrica com faixas e gritando palavras de ordem em todos os turnos.

A conquista da Comissão de Fábrica no acordo firmado em 21 de julho de 1981 representou o início de uma nova era que se tornou um símbolo da luta dos metalúrgicos do ABC: a força do Sindicato no local de trabalho.