Neste 25 de Julho mulheres negras lutam por reparação e bem viver
O objetivo da data, surgida em 1992, é dar visibilidade às questões enfrentadas por essas mulheres, bem como celebrar conquistas
25 de julho é o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, no Brasil se instituiu o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Hoje marchas serão realizadas em diversas partes do país, sob o mote “Por reparação e bem viver”. Em São Paulo a 9ª Marcha das Mulheres Negras será com Cortejo do Bloco Ilú Obá de Min, a partir 17h30, na Praça da República.
A data surgiu em 1992, quando um grupo motivado em reverter os dados alarmantes de violência e desigualdade que atingiam a população negra, se reuniu e criou o primeiro Encontro de Mulheres Negras Latinas e Caribenhas em Santo Domingo (República Dominicana).
O objetivo é dar visibilidade às questões enfrentadas por essas mulheres, bem como celebrar algumas conquistas como o reconhecimento institucional e político, o fortalecimento de redes e organizações, avanços em políticas públicas, educação e empoderamento.
Segundo dados do IBGE, três a cada quatro pessoas que vivem na pobreza, são negras. Além dos dados alarmantes de racismo, desigualdade social, a violência contra as mulheres negras também são o foco para debate nesta data.
A diretora executiva do Sindicato, coordenadora do Coletivo das Mulheres Metalúrgicas do ABC, Andrea de Sousa, a Nega, destacou a luta para ocupar espaços.
“Nós, mulheres pretas metalúrgicas, temos muito a ver com esse dia de luta. Estamos em campanha salarial e umas das nossas pautas é por salário igual para função igual, conforme lei sancionada pelo presidente Lula. Temos muitas lutas na nossa categoria, mas essa é fundamental para que sejamos tiradas desse lugar de discriminação, fruto de uma sociedade comandada por homens brancos”.
Para ilustrar sua afirmação, Andrea lembrou a música cantada por Elza Soares. “Nós mulheres pretas nessa sociedade somos a carne mais barata do mercado, ganhamos menos em qualquer estudo”.
“Precisamos nos organizar, ter consciência de classe. Não podemos desanimar quando ouvimos que nossas reivindicações são mimimi. Precisamos ocupar o nosso lugar na sociedade em todos os espaços. Somos a potência deste Brasil e queremos apenas o que é nosso”.
Para concluir, a dirigente citou a frase da filósofa Djamila Ribeiro que enaltece lugar da mulher negra dentro da luta feminista. “Se eu luto contra o machismo, mas ignoro o racismo, eu estou alimentando a mesma estrutura”.
Desafio em números
De acordo, com dados do IBGE (2019), mulheres negras recebiam em média 44% de rendimentos, menos da metade de salário comparado a homens brancos, e segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) em 2018, apenas 17,1% das mulheres negras tinham ensino superior completo, comparado com 36,1% das mulheres brancas.
Dados indicam, a sub-representatividade das mulheres negras no mercado de trabalho, tendo menos cargos de liderança e menores salários, dificuldades e barreiras para acesso à educação, além da violência, que segundo o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) a taxa de homicídios de mulheres negras aumentou 12,4% entre 2008 e 2018, enquanto de mulheres não negras no mesmo período era de 11,7%.
Julho das Pretas
O mês é conhecido como Julho das Pretas, com o intuito de promover debates e atividades sobre a desigualdade de gênero e raça. A ação surgiu em 2013 por meio do Odara – Instituto da Mulher Negra.
Tereza de Benguela
Tereza de Benguela assumiu a liderança do Quilombo do Piolho, um dos maiores Quilombos do Mato Grosso, após o assassinato de seu marido José Piolho. O local abrigava, cerca de 100 pessoas, entre elas também havia indígenas. A líder resistiu durante duas décadas, comandando toda a estrutura econômica, administrativa e política do Quilombo.
Com informações do site Politize