A formação multiétnica da classe trabalhadora 

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É comum vermos associados, quase que exclusivamente, a forte presença do trabalhador imigrante europeu como personagem na formação da classe trabalhadora no processo de transição do trabalho escravo para o trabalho livre.

Embora a presença imigrante tenha sido relevante nos primórdios da industrialização, especialmente em São Paulo, ela não traduz a totalidade da realidade do mundo do trabalho no Brasil e omite a participação dos trabalhadores nacionais que incluíam os negros e os mestiços nas suas diversas variantes, tanto antes, como depois, da abolição da escravidão. 

Livros clássicos como da ‘Senzala à Colônia’ de Emília Viotti da Costa e o ‘Escravismo colonial’ de Jacob Gorender, publicados em 1966 e 1978, respectivamente já haviam chamado atenção para o emprego de cativos em vários ramos industriais no Rio de Janeiro. Vários estudos de caso, têm mostrado a presença de trabalhadores escravizados em fábricas no século XIX, como foi o caso da Fábrica de Pólvora da Lagoa, empresa estatal que empregava cerca de 100 escravos. 

Eram comuns o emprego de escravos em fábricas de sabão, manufaturas chapeleiras, vidro, curtumes, entre outras. Os “escravos de ganho” exerciam diversas atividades especializadas de carpintaria, gesso e vitrais, embora o trabalho escravo fosse sempre associado à utilização somente da força física. Mais recentemente, têm surgido pesquisas sobre greves de trabalhadores escravizados no Rio de Janeiro, na Bahia e em Pernambuco. 

À justa valorização do legado dos trabalhadores imigrantes europeus na formação da classe trabalhadora deve-se incorporar também à bagagem de luta dos trabalhadores africanos, afrodescendentes e mestiços que deram seu suor e seu sangue para resistir à opressão do trabalho no campo e na cidade.

Departamento de Formação