Você aposta?

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Foto: Divulgação

Com 15 anos, João (nome fictício) foi a uma psicóloga. Ele conheceu os sites de apostas esportivas — as bets — por um amigo da escola e só pensava nisso. Com bons resultados no início, passou a se dedicar ao estudo dos jogadores e dos times. Até começar a perder.

Desesperado e sem coragem de contar aos pais o que estava acontecendo, João ficou cada vez mais obcecado para recuperar o dinheiro perdido. Foi então que ele soube de um receptador e roubou as joias da mãe e da avó para tentar pagar as dívidas. Esse é um caso clínico levado em um congresso recente no Rio de Janeiro e reflete um problema crescente na nossa sociedade.

Sempre tivemos a loteria federal, a esportiva e a (para surpresa de alguns, ilegal) jogo do bicho.Só que as bets estão autorizadas desde 2018, pelo Temer, que achou que as bets tivessem sede fora do país e só oferecessem serviços pela internet (é golpe ou não?). Foi apenas para apostas esportivas, mas muitas empresas disponibilizavam jogos de azar, como cassinos e bingos (jogo do Tigrinho). Esses jogos no Brasil configuram prática de contravenção penal.

No final do ano passado saiu a regulamentação. As bets têm de ter sede ou representante legal no Brasil, lastro mínimo e recolher impostos na origem. Claro que isso não resolve as inúmeras fraudes desse setor, procure por Gaeco e Heads Bet, EsporteNet e Fortaleza, Betzord e Lucas Tylty.

Tudo é vendido como um grande ganho para a nossa sociedade e há um projeto coletivo de marketing para as bets, com patrocínio de times de futebol e endosso de celebridades, investindo na ideia de que apostar ou não é uma questão de escolha individual. Além disso, o marketing de indução (promoções e cashback) fortalece uma “fantasia de que tudo é feito para não perder”. E todos sabemos que isto não é verdade.

As pessoas estão inseridas em um contexto de dependência de internet e têm acesso facilitado pelo celular, com estímulos constantes, propaganda, e-mail e as terríveis redes sociais.

No vício, a rapidez do reforço (quando você ganha ou quase) determina o potencial de dependência do fator (substância ou comportamento). As máquinas caça-níquel, por exemplo, são viciantes devido ao reforço imediato. E as plataformas das bets são como um “caça-níquel ambulante, presente no seu celular o tempo todo. Se não está rolando futebol, tem vôlei. Você pode jogar o tempo todo.

E vício, todos sabemos, acaba com a vida de pessoas e de famílias.

Departamento de Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente