Expansão do elétrico chinês acirra disputa dentro do setor automotivo
Anfavea aponta alta do estoque de importados chineses; ABVE defende respeito às regras
Nos próximos dias, a Anfavea, associação que representa as montadoras no Brasil, encaminhará à Camex (Câmara de Comércio Exterior) pedido para a aplicação imediata da alíquota máxima do Imposto de Importação para carros elétricos e híbridos. A mesma solicitação já havia sido encaminhada ao Ministério da Fazenda. O presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, diz não estar preocupado porque não acredita que a Camex “vai quebrar regras”.
Desde 2016, carros 100% elétricos estavam isentos do Imposto de Importação e nos híbridos incidia alíquota reduzida. No fim de 2023, o governo decidiu retomar a tributação de forma gradual. As duas primeiras fases do ajuste foram em janeiro e julho. As alíquotas agora estão em 18% para 100% elétricos, 25% para híbridos e 20% para híbridos “plug-in”, que também permitem carregamento em tomada. O cronograma vai até julho de 2026, quando passará a valer a alíquota máxima de 35%, que a Anfavea pede que seja aplicada já.
Durante a apresentação do desempenho do setor em agosto, na quinta-feira (5), o presidente da Anfavea, Márcio de Lima Leite, exibiu um gráfico que mostra a elevação no nível de estoques de carros híbridos e elétricos importados, provenientes, sobretudo da China. Segundo ele, em junho, na véspera da segunda etapa de aumento gradual do tributo, o estoque desses veículos estava em 86,2 mil unidades, o equivalente, segundo ele, a nove meses de vendas. Em julho permaneceu ainda alto, em 81,7 mil.
A ABVE não tem esse dado. “Acho que deve haver espiões nos portos de Suape, Itajaí e Vitória contando carros”, diz Bastos. O dirigente acredita que o número real de estoque de elétricos importados não deve ser muito diferente do que foi apresentado pela Anfavea. “É natural que as empresas tenham importado mais na véspera do aumento de imposto”, afirma. O nítido racha entre associações, que não é de hoje, deixa dúvidas de como essa indústria se organizará quando as marcas chinesas começarem a produzir no país. A BYD está prestes a erguer o primeiro galpão industrial em Camaçari (BA) e a GWA (Great Wall Motor) acaba de se habilitar no programa federal Mover, que concede incentivos fiscais a fabricantes locais.
Do Valor Econômico