Luta pelo voto: Dois séculos de luta para os trabalhadores serem ouvidos: a luta continua!
Estamos inaugurando uma série de textos até a próxima sexta-feira, 4, tratando sobre as questões relacionadas à luta dos trabalhadores para colocarem em prática o principal fundamento da democracia moderna que é a soberania popular. Nesse primeiro texto, abordaremos, sobre o movimento cartista dos trabalhadores ingleses para a conquista do voto universal, no berço da Primeira Revolução Industrial. Amanhã falaremos por que os trabalhadores decidiram criar os seus próprios partidos políticos. A seguir, falaremos sobre as motivações pelas quais os trabalhadores devem se organizar, e, finalmente, trataremos sobre a era neoliberal e os ataques aos direitos dos trabalhadores.
Uma das principais consequências da primeira revolução industrial na Inglaterra foi a mobilização dos operários reivindicando melhores condições de trabalho e direito a votarem e a serem votados. Os trabalhadores não tinham direito ao voto e, tão pouco, de concorrerem às eleições. O voto era censitário, pois era necessário ter propriedade fundiária com determinado valor como condição para elegibilidade.
Esse movimento em torno da participação política dos trabalhadores ficou conhecido como “cartismo” porque em 1838 a Associação Geral dos Operários de Londres, fundada em 1835, liderada por William Lovett, elaborou um documento com seis reivindicações que ficou conhecido como “A Carta do Povo”. Os seis pontos eram: a) sufrágio universal para todos os homens maiores de 20 anos sem processos criminais e saudáveis mentalmente; b) renovação anual do Parlamento; c) remuneração para os parlamentares de origem operária; d) eleições por voto secreto para evitar intimidação patronal e corrupção eleitoral; e) colégios eleitorais iguais para garantir representações equitativas e f) supressão da exigência de renda e propriedade para ser elegível.
O movimento por reformas políticas já havia surgido desde 1780, mas ganhou força a partir de 1830 com grandes manifestações populares. Em 1832, cerca de cem mil pessoas protestaram em Londres exigindo reformas na lei eleitoral. Porém, a pressão pelo voto universal masculino levou a população a apoiar o movimento cartista e a Carta do Povo em 1838 que teve um caráter mais radical, com diversos confrontos com a polícia reunindo milhares de pessoas. Também se incorporou as reivindicações do movimento, a jornada pelas 10 horas diárias de trabalho e a oposição a nova leis dos pobres de 1834, que perseguia os pobres e criminalizava a pobreza.
O movimento cartista entrou em declínio no final da década de 1840, mas foi fundamental para plantar a semente das reformas políticas que permitiram a participação dos trabalhadores no sistema eleitoral, alargando, desta forma, o horizonte da democracia e servindo de inspiração para os demais países. Depois de várias reformas, finalmente o voto universal masculino foi conquistado em 1914.
O voto feminino na Inglaterra foi alcançado para as mulheres com mais de 30 anos com a Lei de 1918 sobre a representação popular, depois de uma longa trajetória do movimento sufragista iniciado em 1897 com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino. Em 1928, as mulheres tiveram seus direitos igualados aos dos homens e puderam votar a partir dos 21 anos.
Departamento de Formação dos Metalúrgicos do ABC