“Campanha Novembro Azul não é só para refletir, mas para salvar vidas. Detectar o câncer de próstata de forma precoce é fundamental”

Só em 2023, foram registrados 17.093 óbitos pela doença no Brasil, ou seja, 47 mortes por dia.  Sindicato realiza mais uma edição da campanha para conscientização na base

O prognóstico para o câncer de próstata não é nada animador. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2023 foram registrados 17.093 óbitos pela doença, ou seja, 47 mortes por dia. Tendo em vista esse cenário preocupante, os Metalúrgicos do ABC realizam mais uma edição na base da campanha Novembro Azul, ao alertar para a importância do cuidado da saúde masculina, com a realização periódica de exames e consulta com o especialista, o que pode detectar a doença, até mesmo em estágio inicial, aumentando as chances de cura.

“A Campanha Novembro Azul não é só para refletir, mas para salvar vidas. O aumento de casos não pode ser evitado apenas com mudanças no estilo de vida ou intervenções de saúde pública, e os governos precisam preparar estratégias para lidar com essa situação. Muitos casos são diagnosticados em estágio avançado, quando o tratamento é apenas paliativo. Esta é uma doença do envelhecimento masculino, então estar ciente do seu risco e detectá-la de forma precoce é fundamental”, alertou o diretor-executivo do Sindicato responsável pelo departamento DSTMA (Saúde do Trabalhador e Meio Ambiente), Genildo Dias Pereira, o Gaúcho.

Foto: Adonis Guerra

Segundo o dirigente, durante todo o mês o Sindicato segue em campanha na base metalúrgica conversando com os trabalhadores para manterem seus exames em dia. “O mês de novembro não é apenas para conscientização, mas para ficarmos atentos ao cuidado diário. A entidade realizará atividade com um médico urologista do Cerest [Centro de Referência em Saúde do Trabalhador] no próximo dia 14, às 9h30, na Regional Diadema, para conversar com trabalhadores da categoria. E, no dia 21, aos companheiros na Revoluz, também em Diadema”, afirmou.

Fique atento!

O câncer de próstata é o segundo tumor mais incidente entre os homens, com exceção do câncer de pele. Estimativas do INCA (Instituto Nacional de Câncer) apontam para 71.730 novos casos da doença em 2024, ou seja, 196 por dia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia, na fase inicial, quando as chances de cura beiram 90%, o câncer de próstata não costuma apresentar sintomas.

Apesar de não serem sintomas exclusivos, em fases mais avançadas podem surgir: sangue na urina ou no sêmen, micção frequente e noctúria (levantar-se diversas vezes à noite para urinar), fluxo urinário fraco ou interrompido, disfunção erétil, dores ósseas e no baixo ventre. Homens a partir de 50 anos, mesmo sem apresentar sintomas, devem procurar um profissional especializado para avaliação individualizada, tendo como objetivos o esclarecimento e diagnóstico precoce.

Papo com especialista

Foto: Adonis Guerra

Em entrevista à Tribuna, o médico urologista e membro titular da Sociedade Brasileira de Urologia, José Braz Filho, lembra que muitos homens costumam negligenciar o cuidado com a saúde e ficam alheios à rotina de exames preventivos, como se trata de um assunto delicado, com tabus, preconceitos e machismo, é fundamental que todos entendam o valor da saúde do ser humano e se cuidem.

Tribuna Metalúrgica – Boa parte dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pelo toque retal. Ainda há muito preconceito apesar de todas as campanhas?

José Braz Filho – Felizmente, o preconceito em relação ao exame da próstata diminuiu muito com as campanhas feitas pela SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) junto aos meios de comunicação e demais entidades em todo o país. Houve uma maior conscientização da população masculina referente aos cuidados com a saúde, não somente relacionado à próstata, mas como um todo.

TM – Quais os exames que devem ser feitos para prevenção e diagnóstico do câncer de próstata?

José – O exame físico é uma parte importantíssima da avaliação de um paciente e o toque retal faz parte dessa avaliação. Ele fornece importantes informações como consistência, mobilidade, características da superfície, dentre outros fatores. Os exames laboratoriais, como PSA e ultrassonografia, são complementares ao exame clínico, importantes, mas não devemos deixar de lado o exame físico, pois em algumas situações podemos ter falso negativo no PSA. O diagnóstico se dá a partir da biópsia da próstata, que será solicitada caso haja risco aumentado de câncer de próstata clinicamente relevante.

TM – De quanto em quanto tempo o homem precisa fazer essa prevenção?

José – O termo prevenção não é o mais adequado, mas sim detecção precoce. Os exames não previnem, prevenir seria impedir o aparecimento. No entanto, o termo prevenção acabou se consolidando pelo uso. A importância do diagnóstico precoce se deve ao fato de que, quanto mais cedo sabemos sobre a doença, melhor e mais resolutivo será o tratamento. Devemos ter em mente que um em cada seis homens será acometido por câncer de próstata.

TM – O senhor poderia dar algumas dicas de prevenção com relação ao câncer de próstata? Como dieta e hábitos?

José – Não há especificamente o que se possa fazer para impedir o aparecimento do câncer de próstata, porém considera-se que levar uma vida saudável, com alimentação balanceada, evitando excessos. Esta é e sempre será uma boa medida para se evitar não só o câncer de próstata, mas ter uma melhor qualidade de vida. Estudos sugerem que a obesidade, por exemplo, está associada a formas mais agressivas da doença e a maiores taxas de mortalidade. Evitar o consumo excessivo de álcool e o tabagismo é essencial, pois esses hábitos estão ligados à piora dos resultados do tratamento e a um risco aumentado de outras condições de saúde que podem complicar o manejo do câncer de próstata. Atividades como o exercício físico regular também têm impacto positivo na saúde mental, reduzindo o estresse e a ansiedade, fatores que podem melhorar a adesão ao tratamento e o bem-estar geral do paciente.

CÂNCER DE PRÓSTATA

O QUE É?

A próstata é uma glândula masculina na parte abaixo do abdômen. Tem a forma de uma noz e fica logo abaixo da bexiga e à frente do reto. O órgão envolve a porção inicial da uretra, tubo pelo qual a urina é eliminada da bexiga.

INCIDÊNCIA

No Brasil, estimam-se 71.730 casos novos de câncer de próstata para cada ano do triênio 2023-2025. Esse valor corresponde a um risco estimado de 67,86 casos novos a cada 100 mil homens. Sem considerar os tumores de pele não melanoma, o câncer de próstata ocupa a segunda posição entre os tipos mais frequentes de câncer. Entre os homens, é o câncer mais incidente no país e em todas as regiões, com risco estimado de 77,89 casos a cada 100 mil homens na Região Sudeste; 73,28 casos a cada 100 mil na Região Nordeste; 61,60 casos a cada 100 mil na Região Centro-Oeste; 57,23 casos a cada 100 mil na Região Sul; e 28,40 casos a cada 100 mil na Região Norte.

SINTOMAS

A doença pode não apresentar (ou apresentar poucos) sintomas em sua fase inicial. Em alguns casos, os sinais são parecidos com os do crescimento benigno da próstata (dificuldade de urinar, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite). Na fase mais avançada, o paciente pode ter dores nos ossos, sintomas urinários ou, nos casos mais graves, infecção generalizada ou insuficiência renal.

RISCO E RECOMENDAÇÃO

A idade é um fator de risco significativo para o câncer de próstata, já que a incidência e a mortalidade aumentam após os 50 anos. Quando há casos da doença em pai ou irmão antes dos 60 anos, o risco de desenvolvê-la também é de três a dez vezes maior em comparação com a população em geral. Está comprovado também que uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, grãos e cereais integrais, com menos gordura, reduz o risco de câncer e de outras doenças não-transmissíveis. Recomenda-se também realizar, pelo menos, 30 minutos de atividade física por dia, manter o peso adequado à altura, diminuir o consumo de álcool e não fumar.

DIAGNÓSTICO

Homens a partir dos 50 anos devem procurar um médico para exames de rotina. Quem tem histórico familiar da doença deve informar. O toque retal é o teste mais utilizado, apesar de somente a porção posterior e lateral da próstata poder ser apalpada. É recomendável fazer a análise do nível de PSA, a partir de um exame de sangue, que pode identificar aumento de proteína produzida pela próstata, o que seria indício da doença. Para o diagnóstico preciso, é necessário analisar parte do tecido da glândula com biópsia.

TRATAMENTO

O médico pode indicar radioterapia, cirurgia ou até tratamento hormonal. Para doença com metástase, o tratamento escolhido é a terapia hormonal. A escolha do tratamento mais adequado deve ser definida após médico e paciente discutirem os riscos e benefícios de cada um.