Numa canetada, Trump golpeia indústria mexicana e plano de descarbonização dos veículos

Ações do presidente dos EUA atingem indústria automobilística em meio a robustos programas de investimentos em eletrificação e afetam o maior exportador para o mercado americano

Pelo menos duas das decisões tomadas pelo presidente Donald Trump em seu primeiro dia de governo dos Estados Unidos acendem um sinal vermelho na indústria automobilística. A iniciativa de taxar produtos importados do México provoca impacto direto em uma das principais fontes de abastecimento do setor nos EUA.

Além disso, a suspensão de subsídios para carros elétricos obriga as montadoras a rever planos de investimentos e de desenvolvimento de produtos que haviam se baseado num programa que Joe Biden, antecessor de Trump, preparou para durar até 2032. Com quase 4 milhões de veículos, o México encerrou 2024 como o quinto maior produtor de veículos do mundo, atrás de China, Estados Unidos, Japão e Índia. Mas quase 80% dos veículos que saem de suas fábricas seguem para os Estados Unidos.

Em 2024, 2,8 milhões cruzaram a fronteira. Um volume maior do que toda a produção do Brasil no mesmo ano (2,5 milhões). Em território mexicano se espalham 37 fábricas de veículos, motores e transmissões de montadoras que estão também nos EUA e no Brasil, entre as próprias americanas, europeias e asiáticas, num total de 84 mil empregos. Sem contar as dezenas de fabricantes de componentes que também abastecem linhas de montagem nos EUA.

Se por um lado, a postura do novo presidente dos Estados Unidos pode ter sido um alívio para as montadoras, pressionadas por legislações cada vez mais rígidas, por outro, atinge o setor em meio a robustos programas de investimentos em eletrificação. E, ainda, põe por terra um ousado e meticuloso programa preparado por Biden para conduzir os Estados Unidos a uma posição de destaque entre os países mais comprometidos com as metas de redução dos gases de efeito estufa no transporte.

Do Valor Econômico