Trump quer vender carros americanos, mas a Europa não vai comprá-los
Presidente americano descreve regras de segurança do bloco como ‘tarifa não monetária’; ofensiva ignora mercado complexo e histórico do setor
F-150 é o carro mais vendido nos EUA. É um monstro de 405 cavalos e 2,5 toneladas, que no Brasil, em versão luxuosa, custa R$ 545 mil. O modelo não é ofertado na Europa. Não é uma questão de preço, mas de mercado. A picape não atende exigências de consumo e alguns parâmetros de regulação do bloco. Não caberia também na maioria das vagas de estacionamento do continente.
Das tantas apostas que as tarifas de Donald Trump carregam, a de que o mercado automobilístico da Europa vai mudar por decreto é uma das mais altas. Desde quinta-feira (3), a chegada de veículos importados aos EUA é taxada em 25%. A União Europeia discute um pacote de reação, mas estabeleceu um prazo para as negociações depois que o presidente americano anunciou, na quarta-feira (2), uma sobretarifa de 20% sobre produtos do bloco de 27 países.
Na segunda-feira (7), Trump afirmou a jornalistas na Casa Branca que os carros americanos não eram vendidos na Europa porque o o bloco estaria usando as regulações de segurança como “tarifas não monetárias”. Exagerou na argumentação ao descrever um crash test que nem um veículo europeu superaria. “Criam regras e regulamentos que são projetados apenas por um motivo: para que você não possa vender seu produto nesses países”, declarou.
Especialistas do setor, porém, afirmam que o problema está nos modelos americanos, que não se submetem aos muitos requisitos de mercados externos. No sentido inverso, modelos europeus se adaptam ao consumidor dos EUA, dinâmica que vem desde os anos 1970 e 1980, quando as marcas japonesas invadiram o país.
Da Folha de São Paulo