Metalúrgicos do ABC alertam para efeitos do ‘tarifaço de Trump’ à indústria brasileira
O Brasil, embora não seja o principal alvo, será afetado de forma indireta e preocupante, pois os EUA são o segundo maior destino das exportações no país

O recente aumento de tarifas por parte dos Estados Unidos, conhecido como ‘tarifaço de Trump’, representa uma ameaça significativa ao comércio internacional e, em especial, à economia brasileira. As novas tarifas atingem a maioria dos países com uma alíquota base de 10%, podendo chegar a 20% para a União Europeia e 104% no caso da China – esta última vigente a partir de hoje após o país asiático não desistir da retaliação dentro do prazo estabelecido pelo presidente americano.
O Brasil, embora não seja o principal alvo, será afetado de forma indireta e preocupante, pois os EUA são o segundo maior destino das exportações brasileiras, especialmente de produtos da indústria de transformação, como aço, aeronaves, autopeças e máquinas industriais.
“Acredito que devemos focar nos desequilíbrios que essa medida pode causar no comércio global, como o aumento da inflação, a elevação do protecionismo, dificuldades na obtenção de insumos para a produção e, consequentemente, o crescimento do desemprego, com impactos mais severos sobre os mais pobres e a classe trabalhadora”, explica o diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno. “Para reduzir os efeitos dessas tarifas, o Brasil precisa ampliar sua rede de parceiros comerciais, como já tem sido incentivado pela atual política externa do governo Lula”.
Segundo o dirigente, também causa espanto o silêncio da extrema direita, que apoiou Trump. “Alegaram que sua eleição seria benéfica para o Brasil, mas agora, diante das ações do presidente americano e de suas consequências para a nossa economia, simplesmente se omitem”, ressalta.
“Os Metalúrgicos do ABC estão dialogando com as empresas e o governo federal com o objetivo de minimizar os efeitos dessas tarifas e proteger os empregos e a renda dos trabalhadores. Diante da incerteza, é fundamental que as empresas evitem respostas precipitadas, como demissões, que penalizam diretamente a classe trabalhadora”, alerta.
Cenário
O Sindicato destaca que esse cenário evidencia a fragilidade das cadeias globais diante de políticas unilaterais e mostra como decisões externas podem ter repercussões profundas na economia brasileira. Por isso, reforça-se a necessidade de uma política comercial mais autônoma, com ampliação de acordos estratégicos e diversificação de mercados, a fim de reduzir a dependência do comércio com os Estados Unidos. “É hora de fortalecer o comércio multilateral e defender, com firmeza, os interesses da classe trabalhadora diante dessas ameaças”.
Outra preocupação é que, com o aumento das tarifas americanas, muitos produtos que seriam exportados para os EUA podem acabar sendo redirecionados ao Brasil, provocando uma enxurrada de importações e colocando em risco a produção nacional em setores estratégicos e geradores de empregos.
“Também é urgente que o governo atue de forma coordenada com as empresas e os sindicatos para mitigar os impactos negativos sobre o emprego e a renda. A resposta deve priorizar o diálogo, a proteção à produção nacional e o fortalecimento da indústria local frente à nova onda de protecionismo global”, afirma Wellington.
Comércio Brasil-Estados Unidos (2024)
Segundo a subseção do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) no Sindicato, hoje os Estados Unidos são o segundo maior destino das exportações do Brasil, sendo o principal da indústria de transformação e 18º fornecedor, atingindo um total de US$ 40,3 bilhões exportados em 2024. Entre os principais produtos estão combustíveis minerais – isentos de tarifa; ferro e aço; máquinas e aparelhos mecânicos, aeronaves e partes; café, chá, mate e especiarias.
No mesmo período, o país exportou US$ 16,5 bilhões em produtos metalúrgicos, com destaques para produtos semimanufaturados de ferro/aço, aeronaves e veículos espaciais, ferro fundido bruto e máquinas pesadas e escavadoras. Só o estado de São Paulo, atingiu o total de US$ 7 bilhões com aeronaves e veículos espaciais, máquinas e escavadoras e veículos automóveis e peças.
Importações
Os Estados Unidos foram a segunda maior origem das importações brasileiras, totalizando US$ 40,6 bilhões, enquanto o Brasil ocupou a nona posição entre os principais destinos das exportações americanas. Entre os produtos destacam-se os turborreatores e turbinas a gás, derivados de petróleo, gás liquefeito, polímeros de etileno em formas primárias e aeronaves e veículos espaciais.