Invasão chinesa vira destino de fábricas ociosas de montadoras tradicionais

Nos últimos anos, o Brasil passou a ocupar um papel central na estratégia de expansão das montadoras chinesas. E esse movimento está longe de ser discreto. Com anúncios públicos, cifras bilionárias e articulações de alto nível, empresas como GWM, BYD, Geely e GAC Motor estão reativando fábricas que foram deixadas por gigantes tradicionais – como Ford e Mercedes-Benz – ou ocupando linhas de montagens ociosas, redesenhando o mapa industrial do setor automotivo no país.

A GWM (Great Wall Motors), por exemplo, comprou em 2021 a fábrica desativada da Mercedes-Benz em Iracemápolis, interior de São Paulo. A planta, que já foi símbolo de ambição premium da marca alemã no Brasil, agora se prepara para um novo capítulo. No Nordeste, em Camaçari (BA), a antiga fábrica da Ford, que fechou as portas em 2021, está sendo transformada pela BYD em um complexo para produção de veículos elétricos, híbridos e também baterias.

Já a Geely optou por um caminho diferente. Em vez de comprar uma fábrica, firmou uma parceria com a Renault do Brasil e se tornou acionista minoritária da operação nacional da marca francesa. A ideia é usar parte da capacidade ociosa da planta em São José dos Pinhais (PR), em uma espécie de “coworking industrial”.  E o movimento mais recente vem da GAC Motor, que anunciou um investimento de US$ 1,3 bilhão (cerca de R$ 7,4 bilhões) para iniciar sua operação industrial no Brasil a partir de 2026.

O local escolhido foi Catalão, em Goiás, onde funciona atualmente a fábrica da HPE Automotores, responsável pela produção dos veículos da Mitsubishi. Apesar de a Mitsubishi ter deixado claro que sua planta não está à venda, a parceria pode ser parecida com a estabelecida entre Renault e Geely, usando a capacidade ociosa. A movimentação das montadoras chinesas não apenas reativa fábricas que estavam abandonadas ou subutilizadas – como também joga luz sobre uma questão incômoda: o Brasil está preparado para competir com uma China altamente produtiva, automatizada e com custos mais baixos?

Do UOL