Sindicato cobra medidas contra tarifaço e defende soberania nacional em audiência na Alesp

Estudo do Dieese aponta até 700 mil postos em risco. Sindicato defende comissão de monitoramento e negociação coletiva

Os Metalúrgicos do ABC participaram, no último dia 25, do seminário ‘Tarifas e Incertezas Globais: desafios para as economias brasileira e paulista’, realizado na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). O encontro reuniu representantes de sindicatos, universidades e parlamentares para discutir os efeitos das tarifas de até 50% impostas pelo governo americano às exportações brasileiras.

A medida tem gerado forte preocupação no Brasil, em especial em São Paulo, estado mais industrializado do país. Estimativas da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) indicam que o impacto pode chegar a R$ 4,46 bilhões em perdas na balança comercial paulista, afetando setores como a indústria de transformação, o agronegócio e as exportações de commodities.

O diretor administrativo do Sindicato, Wellington Messias Damasceno, ressaltou que o tarifaço se soma a um cenário de transição global. “As cadeias de valor já estavam em reorganização. A transição tecnológica e energética é uma realidade, e sempre defendemos que seja feita de forma justa, garantindo emprego, soberania e desenvolvimento. O tarifaço imposto pelos EUA acelera um processo que não é apenas econômico, mas também político, ideológico e estratégico”.

Empregos e setores em risco

Segundo estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), entregue ao deputado estadual Paulo Fiorillo (PT), até 700 mil empregos podem estar em risco em todo o Brasil. O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) projeta ao menos 200 mil postos ameaçados. Como São Paulo concentra 40% da produção industrial, o estado pode concentrar também a maior parte das perdas. No pior cenário, seriam R$ 14 bilhões a menos na massa salarial e queda de 0,4% no PIB (Produto Interno Bruto).

O setor automotivo é o mais exposto. Só em 2023, São Paulo exportou US$ 7 bilhões em produtos metalúrgicos para os EUA, cerca de 30% do total. Máquinas, borracha, aeronáutica e equipamentos também estão na lista. Esses são setores estratégicos, que empregam mão de obra qualificada e concentram pesquisa e inovação.

Respostas urgentes

Para Wellington, o Plano Brasil Soberano, com R$ 30 bilhões em recursos (sendo R$ 10 bilhões do BNDES), é um passo importante, mas insuficiente. “Só crédito não resolve. Precisamos de programas que assegurem produção, exportação e emprego. O governo paulista anunciou R$ 200 milhões em apoio via ICMS, mas com teto de R$ 20 milhões, o que pode concentrar recursos em poucas empresas. Também é urgente resolver o acúmulo de créditos de ICMS, que hoje trava investimentos”.

O dirigente apresentou três propostas centrais durante a audiência pública: criar uma comissão de monitoramento no Estado; articular medidas conjuntas entre governos estadual e federal; e reforçar o papel do multilateralismo e da OMC (Organização Mundial do Comércio) para arbitrar disputas comerciais.

“Valorizar a negociação coletiva é central para defender, ao mesmo tempo, o desenvolvimento econômico e a preservação dos empregos. É hora de união em defesa da soberania, da indústria e do trabalho”, concluiu o dirigente.

Após audiência, Wellington visitou o SindAlesp (Sindicato dos Servidores Públicos da Assembleia Legislativa e do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) e conversou com o presidente da entidade, Filipe Carriço, e o diretor Maurício Nespeca.