Sindicato debate ataques à democracia e resistência da classe trabalhadora com professor da UERJ
Reunião da Diretoria Plena analisou desafios políticos e apontou mobilização como caminho de resistência

O Sindicato recebeu na última sexta-feira, 12, durante reunião da Diretoria Plena, o professor da UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) João Cezar de Castro Rocha. O encontro teve como objetivo refletir sobre os ataques à democracia e os desafios enfrentados pela classe trabalhadora no Brasil.
Na abertura, o presidente do Sindicato, Moisés Selerges, relacionou o tema à decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que condenou Jair Bolsonaro no último dia 11. “O sentimento que nós temos é de justiça. Justiça diante de alguém que ofendeu tanto, que foi responsável pela morte de milhares de brasileiros na pandemia, que atentou contra a democracia, esta mesma democracia pela qual o nosso Sindicato lutou durante a ditadura para redemocratizar o país”, afirmou.
Moisés destacou ainda que a categoria deve se diferenciar daqueles que pregam ódio e violência. “Eles comemoram a destruição. Nós não. A nossa alegria está na luta pela soberania, pela democracia e pela justiça social. Cada companheiro e companheira aqui é guerreiro e guerreira, e é nessa luta diária que encontramos razões para comemorar”, completou.

Organização sindical
O professor João iniciou sua fala ressaltando a centralidade da organização sindical no cenário atual. “Vocês são uma espécie em extinção que precisa permanecer. Desde 2016, a Justiça do Trabalho e os sindicatos passaram a ser tratados como inimigos. Cada vez que converso com trabalhadores organizados, sinto que estou diante de uma trincheira viva da democracia”, disse.
Ele lembrou que os ataques à democracia estão diretamente ligados ao modelo econômico vigente, sustentado pela exploração predatória da natureza, pela precarização e uberização do trabalho e por projetos políticos que buscam enfraquecer as instituições. “É uma engrenagem mundial que precisa ser entendida em toda a sua gravidade”, alertou.
Desafios no Brasil
Segundo João, a democracia brasileira enfrenta obstáculos estruturais. Um deles é a memória inconclusa da ditadura militar. “A Lei da Anistia blindou torturadores e naturalizou o golpismo. Tanto que Bolsonaro pôde homenagear o torturador Brilhante Ustra em 2016 sem qualquer consequência institucional”, observou.
Outro desafio é geracional. “A juventude dos anos 1990 cresceu sob governos progressistas, mas sem vínculos com sindicatos ou carteira assinada. Para eles, trabalho é sinônimo de instabilidade, aplicativos e empreendedorismo forçado. Nesse vácuo, oportunistas capturam os jovens com fake news, manipulação da fé e linguagem de redes sociais”, explicou.
Estratégia e resistência
Encerrando sua análise, João alertou para o próximo período político. Segundo ele, mesmo diante de derrotas eleitorais, a ofensiva contra as instituições seguirá com força, especialmente no Senado, onde projetos de erosão institucional podem ganhar terreno.
“É um projeto de corrosão da democracia por dentro. Por isso, precisamos estar atentos: a luta não se encerra no dia da eleição. A defesa da democracia será cada vez mais um trabalho cotidiano, feito nas fábricas, nos sindicatos, nas ruas e em todos os espaços da sociedade”, concluiu.