Como a Lecar perdeu a oportunidade de não virar piada no Salão do Automóvel
Ao renovar prazos e apresentar terceiro modelo sem nunca ter feito um carro funcional, Lecar usa o Salão do Automóvel para amplificar dúvidas sobre sua operação
Faz mais de dois anos que a Lecar divulga sua proposta de criar um carro nacional eletrificado. Porém, está cada vez mais evidente que tudo o que a empresa apresenta ainda são conceitos pouco desenvolvidos – de empresa, de carro e de estratégia – e que não seguem um cronograma minimamente lógico para quem pretende ingressar na indústria automotiva.
Jornalistas e executivos que acompanharam a coletiva da marca no Salão do Automóvel ou ficaram constrangidos ou se sentiram desrespeitados com tamanho amadorismo da apresentação. O problema não foi apenas o uso de imagens geradas por IA, mas falhas básicas como a falta de som e o nome do fundador, Flávio Figueiredo, exibido de forma incorreta nos telões.
Sem roteiro definido e com frases desconexas, o próprio Figueiredo tentou apresentar um terceiro modelo — ainda virtual — e exibiu uma gravação da maquete da futura fábrica, cuja conclusão está prevista apenas para o fim de 2027. Enquanto isso, um modelo de isopor e madeira da picape Campo, com rodinhas presas às rodas traseiras, permaneceu ao canto do palco. Meses antes, a promessa era exibir um protótipo funcional e que poderia ser dirigido no evento.
A Lecar afirmou, durante a coletiva, que terá 150 concessionárias no Brasil até 2026, um ano antes de sua fábrica ficar pronta. Embora o número impressione, a empresa pretende considerar lojas de usados e representantes — equivalentes a correspondentes bancários — como concessionários, terceirizando as oficinas. Os poucos carros vendidos na pré-venda só devem ser entregues em 2028.
Da Quatro Rodas