Metalúrgicas do ABC levam voz e resistência à 2ª Marcha das Mulheres Negras em Brasília

Mobilização reuniu mais de 300 mil participantes de todo o país, reafirmou o lema “por reparação e bem viver” e cobrou políticas urgentes de enfrentamento ao racismo

Fotos: Dino Santos_25_11_2025.

Brasília amanheceu coberta por vozes, cores e passos firmes que pareciam carregar séculos de resistência. A 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras na última terça-feira, 25, transformou a Esplanada dos Ministérios em um território de afirmação política e cuidado coletivo. E, mais uma vez, as Metalúrgicas do ABC marcaram presença onde a história acontece.

Para a diretora executiva e coordenadora de Comissões, Andrea Sousa, a Nega, o retorno à capital federal trouxe mais que emoção: trouxe a certeza de missão cumprida. “Não foi uma marcha só para as metalúrgicas participarem. Estivemos na organização das sete regiões, estruturamos cada etapa, fizemos bingo, rifa, mobilizamos parceiros — vereadores, deputados, sindicatos, pessoas comuns — tudo para garantir que as companheiras estivessem em Brasília. Isso mostra nossa unidade enquanto movimento, de pessoas negras e não negras. Marchamos por reparação e bem viver porque ainda somos vistos pela cor da nossa pele. Isso precisa acabar”, afirmou.

Fotos: Dino Santos_25_11_2025.

A marcha reuniu mais de 300 mil pessoas, segundo a organização. Vieram mulheres de todas as partes do Brasil e de mais de 40 países, movidas por um mesmo chamado: denunciar desigualdades, exigir políticas públicas e ocupar espaços de poder. Conectar territórios tão diversos em torno de um único projeto político, o bem viver, tornou a mobilização ainda mais potente. Inspirado em saberes afro-diaspóricos e latino-americanos, o conceito defende uma sociedade que prioriza dignidade, cuidado e soberania coletiva.

Ao longo da manhã, a concentração no Museu Nacional e a sessão solene no Congresso reforçaram a força simbólica de um movimento que carrega a memória da histórica marcha de 2015, mas se projeta para o futuro. Dez anos depois, a mensagem segue urgente: sem mulheres negras no centro do debate, não há democracia plena.

Reparação histórica

O coordenador da Comissão de Igualdade Racial e Combate ao Racismo do Sindicato, Clayton Willian, o Ronaldinho, lembrou que a marcha também integra os 21 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres e do Racismo. “A mulher preta está na base da pirâmide: é quem mais trabalha, quem menos ganha e quem mais precisa de políticas afirmativas. Participar desse ato foi colocar o dedo na ferida. A reparação histórica ainda não aconteceu, e precisamos convidar toda a sociedade para esse debate”, destacou.

Fotos: Dino Santos_25_11_2025.

Para Andrea, a luta é longa, mas inegociável. “Se for preciso fazer dez, vinte marchas, nós estaremos nas ruas. Não aceitamos ser tratadas como pessoas de segunda classe. Somos médicas, professoras, sindicalistas, operadoras de máquina, somos tudo isso junto a toda a sociedade. Isso é reparação”, reforçou.

Entre reencontros, abraços, cantos e palavras de ordem, a Marcha das Mulheres Negras reafirmou que não há bem viver possível enquanto persistirem a violência, o racismo e as desigualdades. E as Metalúrgicas e Metalúrgicos do ABC seguirão firmes, lado a lado, na construção de um país mais justo, igualitário e verdadeiramente democrático.