Montadoras exploram novo nicho e apostam no potencial do mercado de autopeças usadas

“É uma coisa que deixa a gente meio chocado no começo. O primeiro impulso é pensar ‘cara, isso é contraintuitivo”, diz o engenheiro Paulo Solti, vice-presidente de peças e serviços da Stellantis na América do Sul. “Depois você se acostuma, entende o negócio e o porquê da história.” Nas últimas três décadas, com breves interrupções, Solti trabalhou em montadoras de automóveis. Mas, desde agosto, sua missão é desmontar.

Ele está à frente da Circular Autopeças, primeira empresa de reciclagem de componentes ligada a um fabricante de automóveis no Brasil — a Stellantis, líder de mercado, dona de marcas como Fiat, Jeep, RAM, Peugeot e Citroën. Construída em um galpão em Osasco (SP), a linha de desmontagem desfaz de dez a doze carros por dia. “Para o próximo ano completo, a gente já tem uma capacidade para oito mil unidades”, afirma o executivo.

A Circular Autopeças recebe veículos da própria Stellantis ou comprados em leilões — inclusive de outras marcas. Conforme a avaliação técnica, o carro inteiro ou partes dele seguem quatro destinos que a indústria chama de 4Rs: reutilizar, remanufaturar, reparar ou vender o material por peso, para reciclagem. As peças são fotografadas, catalogadas e revendidas em plataformas digitais, no Mercado Livre, por WhatsApp e numa loja física anexa ao galpão.

No Brasil, cerca de dois milhões de veículos chegam ao fim da vida útil todos os anos, mas apenas 1,5% passa por desmontagem formal. É um mercado subaproveitado, como também uma oportunidade para o país desenvolver soluções próprias.

Do Valor Econômico