A batalha pela vida continua
Após drama pessoal, a professora Juliana Santos quer continuar a luta para dar uma chance de vida para cerca de 2.400 pessoas que estão na fila do transplante de medula no país
Raquel Camargo
Campanhas pela doação de medula óssea cadastraram mais de 9 mil pessoas
Durante quatro anos, o dia da professora Juliana de Araújo Santos estava voltado aos cuidados do filho Breno, que tinha síndrome mielodisplásica com aplasia medular e sua única chance de cura era o transplante de medula óssea.
Toda semana ela levava o garoto ao Hospital das Clínicas, em São Paulo, onde ela passava por uma bateria de exames que durava o dia inteiro. Mensalmente o garoto recebia transfusão de sangue. Para encontrar um doador compatível para o filho e outros pacientes na fila de espera, Juliana e o marido Alex Moura, trabalhador na Mercedes, junto com a Associação da Medula Óssea (AMEO), realizaram três campanhas em São Bernardo.
Breno morreu no final de maio. Juliana e o marido vão continuar sua luta para aumentar o número de doadores de medula no País e tentar proporcionar uma chance de vida aos cerca de 2.400 pessoas que estão na fila do transplante.
Raquel Camargo
Juliana, Breno e o marido Alex Moura
A retomada de vida
A ausência de Breno é difícil para todos. A rotina em torno dele ocupava todo o meu dia, os horários dos remédios, o que ele ia comer no almoço e na janta. Toda semana passava um dia inteiro no Hospital das Clínicas fazendo exames. Agora estou redirecionando meus dias, que eram em função dele, e me dedicando mais a meus outros filhos, a Rafaela, com dois anos, e o Pedro, com dois meses.
Os últimos dias de Breno
Em julho do ano passado Breno teve um início de pneumonia e um distúrbio metabólico, com infecção generalizada. Ele ficou três meses internado na UTI. Ele conseguiu superar tudo isso, mas saiu do hospital com apenas oito quilos, sem andar e sem falar. Aos poucos, ele se recuperou e ficou melhor do que antes da internação. Estava mais dinâmico, subia na mesa, coisa que antes não fazia. Ele fez tudo aquilo que antes não podia fazer, inclusive estudar, que era um sonho dele.
Ele deixou o hospital não precisando mais do transplante de medula. Ficou nove meses sem transfusão, quando ela era mensal. Mesmo tomando 18 remédios por dia ele acabou ficando com febre alta, foi internado e teve uma parada cardíaca no dia 23 de março.
As campanhas
Fizemos três campanhas, em junho de 2007, março de 2008 e maio de 2009, e conseguimos o cadastramento de mais de nove mil pessoas. Aqui em São Bernardo foram as maiores campanhas já realizadas no Brasil, o que mostra a solidariedade das pessoas da região.
Se as campanhas não ajudaram a encontrar um doador para o Breno, tenho informação que foram localizados pelo menos três doadores compatíveis com outros pacientes.
A militância solidária
Vou continuar esse trabalho, até mesmo em homenagem ao Breno. Ele me ensinou a ser solidária. Senão, vamos contra nossos princípios. Muita crianças precisam e, por falta de transplante, morrem. Mesmo porque a maioria não consegue doador e isso é inadmissível para nossa sociedade.
A lição de Breno
Breno teve uma curta, mas especial. Ele nunca reclamava, deixava o que era ruim para trás e gostava de festa, churrasco e de dançar. Fizemos tudo o que foi possível para ele ser feliz. Mesmo assim, ele dava mais para a gente do que nós para ele.
Ele mostrou que devemos ser felizes em cada momento, aproveitar as coisas boas, ser positivo e solidário e que a dor do outro pode ser amanhã a nossa dor. Ele teve também uma ligação muito forte com os irmãos.