A boa e óbvia camisinha

O número de usuários tem aumentado, mas não como deveria. Todo mundo sabe que preservativo evita doenças, gravidez e aborto indesejados, mas a negligência ainda é grande.

Thaís: “Sem camisinha não rola de jeito nenhum”

Por Cida de Oliveira

Vista com prazer

O número de usuários aumentou, mas a prevenção plena ainda está longe de acontecer

A geração que nasceu na década de 1980 e cresceu junto
com a consciência da necessidade de brecar o avanço da aids é a que
menos faz sexo sem a proteção. É a alternativa para esses jovens que
começam a vida sexual já informados sobre a doença. “Muitos deles não
conhecem nem aceitam o sexo desprotegido”, diz a educadora sexual Maria
Helena Vilela, do Instituto Kaplan, de São Paulo. O Ministério da Saúde
confirma sua tese e aponta um aumento de 50% na prática do sexo com
preservativo entre 1998 e 2005. Levantamento do instituto de pesquisas
Nielsen Company, divulgado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Rio
de Janeiro, revelou que entre 1995 e 2004 as vendas anuais subiram de
87,2 mil para 242,2 mil unidades.

O
massoterapeuta paulistano Luiz Moraes, de 34 anos, é um desses
consumidores. Depois de um relacionamento estável por sete anos, está
solteiro. Sem parceira sexual fixa, procura se relacionar com moças que
já conhece. Mesmo assim, não transa descamisado. “Não dá para
facilitar. Usar camisinha é como escovar os dentes: deve fazer parte da
rotina dos cuidados pessoais”, opina. Em sua casa, “tem mais
preservativos que comida”, brinca.

A
mesma Fiocruz, porém, ressalta que o caminho para a prevenção plena
ainda é longo. Embora 96% da população brasileira sexualmente ativa
saiba que o método é a principal barreira contra a gravidez, o HIV e
outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), só 25% admitem usá-lo
sempre, com parceiros estáveis ou não. Nesse universo, a maioria, 39%,
tem entre 15 e 24 anos. A taxa cai para 22% entre aqueles com 25 a 39
anos e despenca para 16% na faixa dos 40 aos 54 anos. A queda livre é
maior conforme aumenta a idade. Não é à toa que a aids cresce entre os
mais velhos, resistentes a mudanças, que iniciaram a vida sexual há
muito tempo.

Para desespero das
autoridades sanitárias, a proteção cumpre seu papel mais no começo do
relacionamento. À medida que cresce a intimidade, a camisinha se perde
nas gavetas ou nem chega lá. Muitas mulheres, temendo a reação ou perda
do parceiro, concordam passivamente. Há uma década, de cada 100 mil
homens de 50 a 59 anos, 18 tinham o vírus. Em 2005 a proporção subiu
para 29,8 (aumento de 66%). Entre as mulheres, o salto foi de 6 para
17,3 infectadas a cada 100 mil (188%).

Sem planejamento
O mau exemplo, além de agravar estatísticas, desestimula os filhos. A
camisinha esquecida acaba na carteira de meninos como cartão de visitas
da sua virilidade. As meninas passam a utilizar pílulas ou outros
anticonceptivos – quando se lembram. Para aflição de muitos pais, a
atividade sexual é cada vez mais precoce, por volta dos 14, 15 anos. O
resultado da equação é alarmante.

O
Ministério da Saúde registra 485 mil partos anuais em brasileiras
menores de 19 anos. E, como se não bastasse o prejuízo psicológico,
para a menina pobre a gestação e o nascimento do filho a afastam da
escola e da possibilidade de melhores condições de vida. Pior quando a
gestação termina numa clínica clandestina ou em casa, de modo ainda
mais precário – situação que inclui mulheres mais velhas, com filhos
pequenos para criar.

A
Organização Mundial da Saúde (OMS) revela que, anualmente, metade das
gestações do planeta não é planejada. Uma em cada nove grávidas aborta.
E 45 milhões de intervenções realizadas precariamente matam 68 mil
mulheres – e deixam outros milhares delas traumatizadas. Entre as
brasileiras, a medida desesperada constitui a terceira causa de
mortalidade m