A cada minuto, uma denúncia de violência contra mulheres é recebida

Em 2020, os centros de denúncias receberam um relato por minuto de violência doméstica contra mulheres. A pandemia e a misoginia por parte do presidente agravam ambiente violento

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As notícias da mulher agredida em Recife pelo marido com um pé de cabra e da gaúcha de 19 anos morta com um tiro pelo namorado tomaram as manchetes recentes. Elas se somam ao caso da esposa espancada repetidas vezes pelo DJ Ivis, cujos vídeos das agressões vieram à tona nas últimas semanas e chocaram o país.

Esses casos chamam a atenção para uma ferida aberta cada vez mais profunda no Brasil, mas nem sempre exposta. A violência doméstica aumentou durante a pandemia, mas os dados deixam evidente que nem sempre as agressões são denunciadas.

Violência doméstica

Segundo a nova edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado no último dia 15, no ano passado, a cada minuto, alguém ligava para um centro de denúncias para relatar um caso de violência doméstica contra mulheres. Somente o Disque 190 recebeu 694.131 ligações sobre violência doméstica, total 16,3% maior do que o ano anterior. E a cada dia, mais de 600 vítimas foram à delegacia denunciar.

Porém, enquanto o número de ligações aumentava, os registros em delegacias caiam. Foram 246.664 em 2019 e 230.160 em 2020. Dois fatores na pandemia agravaram essa realidade de violência, o fato de a vítima estar mais tempo exposta ao agressor sob o mesmo teto e ter menos autonomia financeira.

Denunciar os agressores

“É preciso romper com o silêncio e denunciar os agressores. O que temos visto nos últimos anos não é só o aumento da violência, é na realidade o aumento de denúncias. Por muito tempo as mulheres foram silenciadas, mas muitas ainda têm medo de denunciar”, avaliou a coordenadora do Coletivo das Metalúrgicas do ABC, Maria do Amparo Travassos Ramos.

“Todos devem estar atentos para ajudar a qualquer sinal de que algo esteja errado. Nunca é demais repetir que em briga de marido e mulher a gente salva a mulher”, reforçou. 

Amparo também acrescentou que a Lei Maria da Penha completa 15 anos no próximo dia 15 de agosto e que as atitudes misóginas, o discurso de ódio e o incentivo ao uso de armas por parte do presidente Bolsonaro contribuem para esse ambiente de agravamento da violência doméstica.

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Feminicídios

Em 2020, o país registrou 3.913 homicídios de mulheres, dos quais 1.350 foram registrados como feminicídios, ou seja, foram assassinadas por sua condição de gênero — morreram por serem mulheres.

Lesão corporal

Os registros de lesão corporal em decorrência de violência doméstica, por exemplo, caíram 7,4%, passando de taxa de 229,7 crimes por grupo de 100 mil mulheres para uma taxa de 212,7 por 100 mil.

Mulher negra

Entre as vítimas de feminicídio no último ano 61,8% eram negras.

Mãe

A maternidade virou fator de risco para a integridade física da mulher durante a pandemia. Um recorte inédito de um estudo revelou que 60% das mulheres que foram vítimas de violência doméstica na pandemia têm filhos.

Medida protetiva

Em 2020, os Tribunais de Justiça concederam mais medidas protetivas de urgência do que o ano anterior. O isolamento social não protegeu as mulheres dos agressores, elas continuaram buscando proteção judicial. O número de medidas concedidas saltou de 281.941 em 2019 para 294.440 em 2020.

Com informações do site PT.org com base nos dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.