A ditadura militar na visão de suas vítimas

Mais de 200 oficiais militares se reuniram terça-feira no Rio de Janeiro para celebrar o golpe de 1964. Saiba porque eles comemoraram, participando do debate que será realizado nesta sexta-feira (3), às 18h, na Sede, com militantes vítimas da repressão.

A maior parte da sociedade brasileira recorda a ditadura militar com horror, mas tem muita gente que lembra do golpe de Estado de 1964 com saudade.

Mais de 200 oficiais militares se reuniram no Clube Militar do Rio de Janeiro, na terça-feira, para celebrar o movimento que manteve o País sob um regime autoritário por 21 anos.


O general Rui Catão, chefe do Comando Militar do Lesta – que abrange os Estados de Rio de Janeiro, Minas Gerias e Espírito Santo – participou do evento.

Outra manifestação do lado de fora, sob olhar tenso dos soldados, cerca de 100 estudantes maquiados como vítimas de torturas recepcionavam os militares citando em um megafone os nomes dos mortos sob tortura durante o regime militar.

Essas duas manifestações diferentes mostram a atualidade do tema. Por isso o Sindicato promove nesta sexta-feira (3), na Sede, a partir das 18h, um debate entre militantes que participaram da resistência ao regime militar.

No mesmo dia será aberta uma mostra fotográfica lembrando algumas das mais marcantes cenas do período.

Participam do encontro deputado federal José Genoino, o padre Rubens Chasseraux, o sindicalista Raphael Martinelli e o procurador da República, Marlon Alberto Weichert.

O fim do parlamentarismo e as reformas de base

 

Implantado para permitir a posse de João Goulart, o Jango, na presidência, que tinha o nome vetado pelos militares, o parlamentarismo brasileiro simplesmente não funcionou.

Três políticos ocuparam o cargo de primeiroministro em menos de dois anos sem conseguir amenizar a grave crise econômica que atingia o País. Na outra ponta, Jango manobrava pela
volta do regime presidencialista. Alegava, com razão, que o parlamentarismo fora adotado de maneira completamente casuística, apenas para agradar os militares e evitar que ele tomasse posse com plenos poderes de presidente.

No final de 1962, Goulart incentivou os sindicatos a organizar greves e manifestações em todo o País em defesa de um plebiscito que definiria o sistema de governo do País. A estratégia teve êxito.

Reformas de base
A consulta popular aconteceu no dia 6 de janeiro de 1963 e o presidencialismo venceu por 9.457.448 votos contra 2.073.582. O resultado não deixou qualquer dúvida sobre o sistema de governo que os brasileiros desejavam.

Com o restabelecimento do presidencialismo e a consequente ampliação dos poderes de Jango, a implantação das reformas de base tornou-se a principal bandeira de seu governo.

Transformação
As reformas eram um conjunto de propostas que visavam alterar as estruturas econômicas, sociais e políticas do País para garantir a superação do subdesenvolvimento e diminuir as
desigualdades sociais no Brasil.

Entre suas principais iniciativas estavam as reformas bancária, fiscal, urbana, administrativa, agrária e universitária.

Pretendia também estender o direito de voto aos analfabetos e aos soldados do baixo escalão (marinheiros, sargentos) e adotar medidas nacionalistas, como a maior intervenção do Estado na vida econômica.

O carro-chefe das reformas era a reforma agrária, considerada a melhor maneira de eliminar os conflitos pela posse da terra e garantir o acesso à propriedade de milhões de trabalhadores rurais.

João Goulart manifestou o apoio oficial do governo à distribuição de terras no I Congresso de Lavradores e Trabalhadores Agrícolas, realizado em Belo Horizonte (MG) em novembro de 1961.

Para destacar esse apoio, o presidente convidou para sentar em sua mesa Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, uma das principais organizações da época na luta pela reforma agrária no Brasil.