“A extrema-direita só será derrotada com mais democracia, com mais direitos”, diz Jamil Chade
Os jornalistas Jamil Chade e Juliana Monteiro debateram os efeitos do discurso do ódio e dos ataques contra a democracia para o Brasil e o mundo
Com o debate “A nova inserção internacional do Brasil”, o Sindicato recebeu na última sexta-feira, dia 14, os jornalistas Jamil Chade, correspondente para diversos veículos internacionais em Genebra, na Suíça, e Juliana Monteiro, jornalista e escritora que mora em Roma, na Itália.
O presidente do Sindicato, Moisés Selerges, destacou a importância do debate. “Precisamos retomar a democracia, ainda ameaçada pela extrema-direita, retomar direitos e dignidade dos trabalhadores. Merecemos e lutaremos o quanto for necessário para que as próximas gerações vivam em uma sociedade melhor, mais justa, fraterna e sem ódio”, defendeu.
Resistência e amor
Juliana ressaltou o papel do amor na luta. “Não sonho e não quero nada menos do que uma revolução. O mundo que construímos e que chamamos de civilizado não contempla a maioria de nós. Qualquer mudança só virá da luta dos que sofrem e daqueles que se importam. Por isso, precisamos falar do amor. E o amor não são as representações fofinhas, inofensivas. O amor ao que me refiro não é paciente, não suporta maus tratos, não coexiste com opressão nem com exploração”.
“O amor mete medo porque não serve aos nossos sistemas de exploração e não tolera privilégios de uns sobre os outros. Minha forma de resistir é continuar defendendo o amor, seja na forma dos direitos humanos, da justiça, do cuidado, do respeito, do compromisso, seja na forma da democracia. É ele que deve estar no centro da nossa ideia de justiça, essa deve ser a moeda corrente entre nós. E isso não tem nada de ingênuo nem de fácil”.
Democracia
Jamil Chade avaliou o avanço da extrema-direita, principalmente após a crise financeira internacional de 2008. “Na Europa, foram tirar dos trabalhadores, dos aposentados, da classe média, recursos para salvar os bancos. Percorri vários países para mostrar o que estava acontecendo e, no pós-crise, os bancos foram salvos e deixou como legado milhões de desiludidos”, explicou.
“Na Espanha, acompanhei vários processos de penhora, a justiça arrancava pessoas de dentro das casas. Na década seguinte, teve o fortalecimento da extrema-direita, que surfa na desilusão em relação à democracia. Se a gente quer vencer e abafar esse movimento que é perigoso e ameaça a democracia, vai ter que fazer a democracia funcionar para todo mundo. Esse é o melhor antídoto. Só vai derrotar a extrema-direita com mais democracia, com mais direitos. O amor não é abraçar criminoso, é justiça, verdade, memória, é amor como política pública. É garantia de direitos”, concluiu.
Ao Brasil
Após o debate, houve sessão de autógrafos do livro “Ao Brasil, com amor”, uma troca de correspondências entre os dois sobre preocupações, contradições, sonhos e destinos do país no período de setembro de 2021 a julho de 2022.