“A fala de Bolsonaro é discurso pra gado dormir. Não há expectativa de mudanças”

Bolsonaro foi o 18º líder mundial a discursar na Cúpula do Clima, na manhã de ontem. Desprestigiado, o discurso desconectado da realidade não foi ouvido pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que chamou a reunião online, mas deixou a sala antes do pronunciamento do brasileiro.

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Em sua fala Bolsonaro tentou minimizar a destruição ambiental que tem sido observada no Brasil. Na contramão das práticas do governo, falou em fortalecer as instituições ligadas ao meio ambiente, pediu contribuições internacionais e prometeu eliminar o desmatamento ilegal até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050.

Gilmar Mauro, da coordenação nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), avaliou o discurso.

“Ele passou parte do tempo pedindo dinheiro e outra parte falando dos louros que foram obtidos antes do governo dele.”

“O governo dele acelerou os processos de destruição das queimadas de biomas importantes, mas não só da Amazônia.” “Estamos vivendo uma situação grave no cerrado brasileiro ameaçado de extinção, tivemos todas as queimadas do Pantanal e toda a liberação de venenos proibidos mundo afora. O crime ambiental aqui é muito grave.”

“O governo Bolsonaro não tem preocupação nenhuma com a ciência, com os impactos ambientais, é aquela lógica do Salles (ministro do Meio Ambiente) de abrir a porteira para a boiada passar”, reforçou.

Para o coordenador, o que o governo tem promovido é a destruição das instituições. “É um ataque brutal, todos os órgãos de fiscalização foram praticamente sucateados ou destruídos. Na verdade, as instituições que ele anda fortalecendo são alguns pastores neopentecostais e a milícia”.

Durante o pronunciamento, Bolsonaro disse que a agricultura brasileira é uma das mais sustentáveis do planeta.

“A humanidade precisa caminhar para uma agricultura sustentável, esse tipo de agricultura desenvolvida hoje é extremamente perniciosa e prejudicial ao meio ambiente e ao ser humano.  Na nossa avalição, é possível alimentar toda a humanidade de forma agroecológica, isso não é um discurso. Evidentemente que para isso, além de pensar um outro modelo de produção é necessária uma política que estimule isso e também mudar toda a cultura alimentar”.

O líder do MST lembrou também que é preciso rever toda a concepção de indústria que nos moldes atuais, prejudica enormemente a lógica ambiental em todo o planeta. 

“Precisamos repensar a questão cultural, das cidades e das indústrias, repensar a questão da terra, todos os recursos naturais como patrimônio da humanidade. A lógica do capital é a lógica do lucro, extrair matéria-prima, transformar em mercadoria e devolver em lixo”.

Pra gado dormir

Por fim, Gilmar Mauro avaliou que não é possível esperar mudanças de atitudes deste governo.

“Esse é um discurso pra gado dormir, não tem nenhuma expectativa de mudança. Não crio nenhuma ilusão, é típico de um governo mentiroso e genocida, não surtirá nenhum efeito para o Brasil. Só temos uma alternativa para mudar esse tipo de política, é o ‘Fora Bolsonaro’ e não só pela questão ambiental, vamos chegar a 400 mil mortos pela Covid-19 e isso também é destruição ambiental, a quantidade de pessoas sendo enterradas pode gerar outras crises sanitárias”.