“A melhor religião é a que se adequa às pessoas”
Antonio Carlos de Oliveira, 47 anos, é técnico de produção na Scania e fundador do Grupo Família Negra, que atua na Igreja Católica Nossa Senhora Aparecida, em Vila Nova Iorque, Zona Leste da Capital. “Fundamos o grupo para debater a discriminação do negro na igreja”, explica.
Pietro Felipe Paterna, 23 anos, é estagiário de direito (cursa o 5º ano) e é iniciante do candomblé. “É a religião na qual me encontrei, que me oferece paz de espírito”, disse.
Católico de batismo, Antonio Carlos percebeu que sua religião não tinha abertura para receber as manifestações do povo negro. “Uma parte da comunidade não aceitava nossas manifestações por discriminação”, lembra.
A manifestação, nesse caso, foi a iniciativa do grupo realizar as chamadas missas afro, levando ao altar elementos da cultura africana, entre eles os atabaques, vestes, a comida etc. “Chegaram a dizer que se tratava de macumba”, afirmou Antonio Carlos.
Pietro, batizado católico com primeira comunhão e crismado, que frequentou a igreja até o final da adolescência por influência de uma tia avó freira, confessa que via as religiões afro com preconceito. “Pra mim elas serviam ao mal, por sacrificarem animais”, recorda.
No entanto, foi numa religião afro que se encontrou. “Estava meio atrapalhado no final da adolescência, procurando respostas que não encontrava. Fui à umbanda e descobri uma mediunidade aflorada”, conta.
Atualmente ele se dedica ao candomblé, iniciado por um pai de santo. “Me abriu novas perspectivas e passei a entender o mundo como ele é”, frisa Pietro.
Para Antonio Carlos, o trabalho do seu grupo contribui para resgatar a auto-estima do povo negro e quebrar preconceitos. “Quinze anos do grupo e percebo o resultado em casa, com meus filhos que enfrentam a discriminação sem qualquer submissão e não encontram qualquer dificuldade de relacionamento. Acredito que o mesmo acontece com outras pessoas”, afirma Antonio Carlos.
“Sinto que no candomblé não se faz distinção de raça, apesar de uma certa resistência. Mas, por ser branco, acredito que serei muito mais cobrado”, prevê Pietro, para quem a melhor religião é aquele que se adequa às pessoas.