A mídia não faz mais a sua cabeça

A credibilidade dos grandes veículos de comunicação foi colocada em xeque. Segundo o professor Venício de Lima, estudioso dos meios de comunicação, há uma nova consciência cidadã e a sociedade percebeu a falta de isenção da mídia na cobertura das eleições e não se deixou influenciar.

“Cobertura da mídia não foi isenta”

O jornalista e sociólogo Venício de Lima, professor na Universidade Federal de Brasília, disse ontem que a grande mídia não foi isenta na cobertura das eleições, colocando em discussão a sua credibilidade. Ele acrescentou que o fato novo nas eleições foi o aparecimento de uma nova consciência cidadã, que não se contenta com poucas fontes de informação.

Qual sua avaliação da cobertura das eleições feita pela grande mídia?
Instituições independentes mostraram com clareza que a cobertura foi partidarizada, não foi isenta e nem equilibrada. A cobertura da grande mídia partiu da presunção de culpa e não de inocência. Os editoriais, que são o pensamento dos donos dos veículos de comunicação, contaminaram a abordagem jornalística.

Como se deu isso?
Em meu livro Mídia: crise política e poder no Brasil, mostro que a crise política foi construída como um escândalo político midiático. Meu trabalho aponta omissões e distorções nas coberturas feitas pela grande mídia.

O que é um escândalo político midiático?
Um escândalo que não aconteceria sem a mídia. Ela é que tem o poder de tornar as coisas públicas. Essa publicidade, somada à competição entre os veículos de comunicação, faz com que esse escândalo ganhe uma dinâmica própria, fugindo do controle de seus autores.

Essa nova consciência então não se contaminou?
O fato novo, como disse antes, é o aparecimento de uma nova consciência cidadã, que não se contenta com umas poucas fontes de informação e tem condições de buscar, e até criar, fontes alternativas. A população se recusou a seguir a visão da grande mídia, que sempre foi formadora de opinião.

E como se deu isso?
A internet, por exemplo, teve papel decisivo pois, embora de forma ainda reduzida, ela ofereceu a diversidade de opinião que a grande mídia não oferece. A internet rompeu com uma característica da grande mídia, que é ser unidirecional. Isto é, a mídia falava e o leitor escutava, passivo.

A grande mídia aceita ser julgada pela sociedade?
Ela se recusa a discutir seu papel na democracia, confundindo de propósito qualquer proposta de discutir essa responsabilidade. Quando surge uma proposta, a mídia a trata como uma tentativa de censura. Independente disso, acredito que chegou para ficar o debate sobre seu papel e suas responsabilidades.

O que está em jogo?
O que está em jogo é a construção de uma mídia plural e diversa, que priorize o interesse público. A grande mídia terá de se adaptar à nova situação para manter alguma credibilidade e sobreviver. Quem ganha com esse processo é a democracia.

A mídia passada a limpo

Em Mídia: Crise política e poder no Brasil, Venício de Lima reúne textos sobre comportamento e concentração da mídia no Brasil.

No primeiro capít