A nova inserção internacional do Brasil é tema de debate nesta sexta-feira, na Sede

Os jornalistas Jamil Chade e Juliana Monteiro participam na sexta-feira, dia 14h, às 18h, das discussões sobre o Brasil no mundo

O Sindicato recebe na sexta-feira, dia 14, às 18h, o debate “A nova inserção internacional do Brasil”, com os jornalistas Jamil Chade, correspondente em Genebra, Suíça, para diversos veículos internacionais, e Juliana Monteiro, jornalista e escritora que mora em Roma, na Itália.

Após o debate, haverá sessão de autógrafos do livro “Ao Brasil, com amor”, uma troca de correspondências entre os dois sobre preocupações, contradições, sonhos e destinos do país no período de setembro de 2021 a julho de 2022. Confira trechos das conversas, feitas separadamente, com a Tribuna.

Tribuna Metalúrgica – Como as preocupações e reflexões no mundo pós-vacina e de democracia ameaçada trouxeram à tona a ideia do livro “Ao Brasil, com amor”?

Jamil – As cartas nasceram da nossa angústia, da tentativa de entender o que acontecia. Também tem o componente de ser um convite ao diálogo. Os espaços de diálogo foram encolhidos ou pelas redes sociais ou por grupos políticos que insistem na tese de verdades absolutas, ou mentiras absolutas.

Juliana – Temos filhos da mesma idade, mesma profissão, moramos fora, usamos a palavra escrita como trincheira de luta e vivíamos a mesma sensação de impotência. Trocar cartas e endereçá-las ao Brasil foi uma maneira de dividir o que estava sentindo.

Foto: Divulgação

TM – Como ficou a imagem do Brasil lá fora no período Bolsonaro?

Jamil – Foi o período mais baixo da história democrática do Brasil no mundo. O Brasil sempre foi um país muito respeitado. Apesar de todos os problemas e crises, era visto como construtivo e propositivo, que buscava soluções para os problemas globais. Disso passou a ser o país que representa os problemas globais, passou a ser tóxico por conta da pandemia, ameaçador por conta da instabilidade democrática, uma ameaça climática por conta da Amazônia e uma ameaça aos direitos humanos. E entender que a imagem positiva é revertida em política pública, em investimentos e desenvolvimento social.

Juliana – A primeira vez que morei fora, de 2000 a 2002, em Londres, no momento da campanha e primeira eleição do Lula, o Brasil era o país mais legal do mundo. Estou na Itália desde 2014 e foi muito assustador ver a imagem do Brasil mudar. A impressão nos quatro anos era que, se o Brasil fosse uma pessoa, seria uma pessoa que surtou. Como explicar um surto? Seria pela via da doença, da saúde mental, e talvez tenha a ver com o adoecimento da sociedade. A política internacional foi por um caminho que nunca antes tinha tomado, contra os direitos das minorias, contra a conciliação, foi devastador. A eleição do presidente Lula manda um sinal importante, mas a mancha fica. Agora o mundo sabe do que somos capazes, que nossa democracia tem fragilidades importantes. O momento é de retomada de credibilidade.

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TM – Durante o processo de envio das cartas, vocês estiveram no Brasil? Como foi lidar com essa cultura de ódio?

Jamil – Não fui para o Brasil. Sobre cultura de ódio, temos que entender que não é espontânea, ela é dirigida e tem o objetivo de minar a capacidade da sociedade em buscar a verdade. Quando um jornalista é atacado, a vítima é a própria sociedade. Era uma ação muito consistente, bem planejada e bem direcionada com objetivo de atacar a democracia.

Juliana – Cheguei ao Brasil no começo de setembro e fui a Esplanada dos Ministérios na fatídica manifestação do ‘imbroxável’ para poder ver de dentro. Frequento manifestações na Esplanada desde os 13 anos e estava muito cheia. Lógico que tinham fascistas pedindo golpe militar, mas também tinham famílias, trabalhadores, povo preto. Voltei muito convencida de que precisamos retomar o diálogo com essas pessoas e diferenciar adversários de inimigos. Ou a gente volta a conversar ou não vai construir uma democracia.

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TM – O que podem destacar sobre a retomada do Brasil no mundo, tema do debate no Sindicato? 

Jamil – Essa transição não era aguardada só pela sociedade brasileira, o mundo precisava e queria um Brasil diferente. É uma volta do Brasil muito importante, que tem o potencial de chacoalhar a estrutura internacional e isso que Lula tem feito, de falar que o sistema não funciona mais, que organizações precisam surgir ou as que existem precisam ser reformadas. Ao mesmo tempo, é um país com vários desafios internos. Tem uma prova grande de reduzir o desmatamento e lidar com problemas estruturais, a desigualdade e garantir desenvolvimento social.

Juliana – Meu sonho é que o mandato do presidente Lula seja radical. Quando nasci, o aborto, por exemplo, era crime no Brasil e hoje ainda é, uma postura da Idade Média, sendo que na Europa é questão superada, é direito conquistado. As balas perdidas continuam encontrando corpos de pessoas pretas, índices de feminicídio nas alturas, falta saneamento básico, creche. É preciso pautar os direitos básicos da população.