A origem da TV dos Trabalhadores

O que começou com uma câmera para registrar as greves das décadas de 70 e 80, hoje virou uma emissora de TV

A ideia dos metalúrgicos registarem em vídeo sua história vem desde as greves do final dos anos 1970 e início dos anos 1980 e tomou forma quando, em 1983, Lula, então diretor do Sindicato, voltou de uma viagem à Europa com uma câmara doméstica. De lá pra cá, o que era uma ideia transformou-se numa emissora de televisão a entrar no ar ainda neste mês. O ex-metalúrgico e ex-diretor do Sindicato, Elizeu Marques da Silva (foto), gerente da TV dos Trabalhadores, conta essa história.

A TV dos Trabalhadores estreia no próximo dia 23 de agosto, em evento com a presença do presidente Lula.

Como foi o início?
Lula voltou da Europa com uma câmara doméstica e começamos gravar eventos e ações do Sindicato porque sempre nos preocupamos em registrar a história que fazíamos. Em 1984 criamos um departamento de vídeo. Por meio de um convênio com uma entidade holandesa conseguimos uma câmara profissional, uma ilha de edição e montamos nosso primeiro vídeo móvel. O que nos incomodava era registrar a história mas não mostrá-la aos trabalhadores.

Quando começaram a mostrar?
Montamos um caminhão com o vídeo móvel e criamos um telejornal de oito minutos com notícias da categoria. Era exibido todos os dias em porta de fábrica. Nesse tempo tínhamos uma profissional, a jornalista Regina Festa, que defendia que a TVT deveria ser tocada pelos próprios trabalhadores. Também achávamos que não deveríamos depender de ninguém para nosso trabalho. Ela acreditava mesmo serem nós os donos do traquejo, da forma e da linguagem mais apropriada para se comunicar com os trabalhadores. Também levávamos o telejornal para os bairros e os programas era exibidos num circuito interno de vídeo na Sede do Sindicato.

O trabalho atendia somente ao Sindicato?
Não só. Naquela época a TVT começou a produzir para a CUT, para o PT e outras entidades sindicais. Em 1987 fizemos o primeiro pedido ao governo para a concessão do canal.

Quando a TVT cresce e dá um salto?
Foi na campanha presidencial de 1989. Criamos a TV Povo para a campanha do Lula, que contaminou o Brasil com sua linguagem inovadora. Acho que aquela campanha foi o nosso maior momento.

Mesmo com a negativa do governo a ideia da emissora permaneceu?
Sim, o tempo todo. Em 1994, um grupo de sindicatos criou um programa chamado Olhar Brasileiro. Compramos um horário na TV Record aos domingos pela manhã. Era um programa novo, de variedades. Mas era caro mantê-lo e durou apenas nove meses.

Com o quê a TVT se ocupou depois disso?
Com vídeos para o movimento sindical, produzimos para várias prefeituras, fizemos vídeos para o Sesi e Senai e programas de formação sindical. Esses trabalhos garantiram a manutenção da TVT.

Qual a importância da produtora?
Temos seis mil fitas com os registros dos mais importantes momentos do movimento sindical. Um grande acervo de vídeos, depoimentos que nos garantiu prêmios em festivais e mostras na Suécia, no Peru, na Itália e aqui no Brasil.

O que toda essa experiência de 26 anos pode oferecer à nova fase da TVT, agora com a emissora?
O compromisso com a classe trabalhadora. Para a emissora, veio uma geração de novos profissionais que pode aproveitar esse nosso olhar, o olhar do trabalhador sobre o mundo para fazer algo diferente. O que vamos deixar à emissora é o compromisso com a transformação do Brasil.


Jair Meneguelli, então presidente do Sindicato, com a câmera na mão, e Lula, diretor, com o aparelho de vídeo tape pendurado no ombro, no 4º Congresso dos Metalúrgicos em 1984. Reprodução de TV.