A Otis, os Sem Terra e os sem governo

Neste início de semana uma notícia do Diário do Grande ABC chamou minha atenção: a Otis, uma fábrica de elevadores que emprega diretamente quase 500 trabalhadores em São Bernardo, tomava as últimas providências para transferir-se para o Paraná. Sob pressão da guerra fiscal implantada no País a empresa teria decido seguir os passos da concorrente para tentar equilibrar-se em termos de mercado.

Na verdade, esta história remonta a janeiro último, quando soubemos da intenção da fábrica. Então, em nome dos empregos ameaçados, procuramos pela primeira vez a prefeitura de São Bernardo pedindo o apoio público para reverter a intenção da empresa. As negociações não avançaram. Com a notícia do Diário, retomamos a iniciativa e, após audiência com o governador Mário Covas no Palácio dos Bandeirantes, na última segunda-feira, parece que surgiu uma luz no fim do túnel. Vamos aguardar para ver o resultado das negociações…

Estados e municípios costumam ter um pouco de sensibilidade até porque seu caixa também depende da localização das empresas em seus territórios. Mas, para o Governo FHC, preocupado apenas com o chamado ajuste fiscal, não faz diferença se trabalhadores ficarão sem emprego, se regiões inteiras do país serão sucateadas. Este governo não tem nenhuma sensibilidade social e, para piorar, resolveu encarar a questão social como caso de polícia.

Em vez de assumir sua responsabilidade de estadista e fazer a reforma agrária, FHC prefere entender a questão da violência no campo como resultado da ação de agitadores do MST. E não se trata de argumentar que foram os Sem Terra quem rompeu o diálogo. Aqui no ABC, nós trabalhadores, também já estamos cansados de tentar dialogar com este governo de surdos.

Um exemplo bem recente? Você, leitor, é testemunha da longa via-sacra que temos percorrido no sentido de conseguir do Governo FHC a aprovação de um Programa de Renovação da Frota Nacional da Veículos. É um projeto de interesse nacional, voltado para o meio ambiente e a segurança no trânsito, de interesse da região e, naturalmente também de interesse dos trabalhadores. Fizemos conferências, seminários, palestras, artigos, manifestações de rua, mobilizamos os trabalhadores, governantes, e todo tipo de apoiadores. A única resposta que ouvimos, depois de muita insistência, foi um não e, ainda assim, muito vacilante.

Este governo é absolutamente insensível e não só aos problemas sociais e a questão do emprego. Depois de seis anos de governo FHC foi incapaz de construir uma política agrícola e implantar uma política industrial capaz de equacionar as diferenças regionais, acabar com a guerra fiscal e impedir que empresas como a Otis tivessem sua vida econômica comprometida pela concorrência predatória da guerra fiscal. Mais ainda, capaz de impedir que setores inteiros da indústria, inclusive o de autopeças, fossem desnacionalizados.

Na verdade nós vivemos em um País sem governo, que só tem ouvidos para as ordens do FMI, que estimula a autofagia entre seus estados e municípios e agora resolveu criminalizar o movimento social. Na semana passada visitei a Casa de Detenção onde estavam presos treze militantes do MST. É triste testemunhar jovens de 20 anos, com mãos calejadas da enxada, aprendendo a desacreditar deste nosso País. Não é este o Brasil que nós queremos para nossos filhos.

Luiz Marinho
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC
e Coordenador do Mova Regional