A quem interessa a crise?

O Brasil enfrenta mesmo uma crise econômica ou tudo não passa de terrorismo articulado pelos setores que habitualmente são beneficiados quando o País enfrenta algum problema?

Verdadeira ou não?

Trabalhadores na base têm opiniões muito diferentes do que as que são ventiladas da grande mídia sobre o reflexo da crise internacional na economia brasileira. Em quem você confia?


“Eu não vejo o Brasil atravessando essa crise toda que o pessoal está falando. Nos já tivemos momentos muito piores, como em 1998, quando a chamada crise russa atingiu o País. Só a Ford de São Bernardo demitiu 2.800 trabalhadores naquele ano e milhares de postos de trabalho foram fechados. Mesmo assim, em termos de mundo, naquela época os problemas eram menores. Hoje a situação é muito pior e, mesmo assim, a linha da fábrica está rodando normalmente. No setor de caminhões existe uma pequena folga, mas isso acontece sempre no início de ano. Como a maior parte da produção da empresa na cidade é para o mercado interno, e toda essa produção está saindo, podemos concluir que as vendas estão bem dentro do País. Por isso eu acredito que tem gente fazendo terrorismo para tentar tirar proveito da situação”.

João Cayres
Coordenador do SUR da Ford e presidente nacional do Dieese

 

 


“A crise só interessa aos banqueiros, empresários sem consciência e àquela parcela da sociedade que não entende o que está acontecendo e só alimenta as especulações. É muito prematuro falar em crise por aqui. No exterior é outra história, mas no Brasil a situação é diferente. O que precisamos no País é combater a vinda de qualquer crise com muito trabalho. Para que isso aconteça, não pode haver demissões e nem a população parar de comprar. Também seria bom saber como está a verdadeira situação de cada setor econômico.
As autopeças, por exemplo, estão sendo arrochadas pelas montadoras, mas nos últimos cinco anos essas empresas
ganharam muito dinheiro com a excelente situação econômica do Brasil. A sociedade precisa ficar alerta. Nesse meio tempo o País mudou muito e ninguém mais pode ir na contramão do crescimento”.

Evando de Novaes Alves
Comitê Sindical na Proema


“O capitalismo não é pensado como um sistema de inclusão social. Quando surge algum problema, ele procura se reorganizar de maneira a aumentar a exclusão. Assim, se essas dificuldades crescem e se transformam em crise, o capitalismo não procura superá-las com a inclusão na sociedade de um número maior de pessoas, seja pelo consumo, ou pela participação democrática e até pela expansão dos direitos. Ele exclui, e sua primeira atitude nesse sentido é demitir. Como consequência,
diminuem os recursos para o mercado, provocando a queda na produção e mais demissões. É desta forma que o capitalismo se protege. É por isso que empresas, bancos e o sistema financeiro em geral continuam saudáveis durante as crises e, em razão disso, aumenta o sofrimento de toda a sociedade, provocando o crescimento de problemas como pobreza, violência, desemprego etc.”.

Carlos Alberto Gonçalves o Krica
Diretor do Sindicato na Magneti Marelli

 

 


“A crise não interessa a ninguém com consciência. Hoje, a economia de um País é tão encadeada que, se um setor começa a ter dificuldade, o problema acaba se refletindo em cada um dos demais setores da cadeia até atingir toda a sociedade. Essa reação acaba chegando às políticas públicas e prejudica toda a população. É o que está acontecendo em São Paulo, onde o governo do Estado usa a palavra “crise” como desculpa para cortar verbas do orçamento. Quem perde com este gesto é a população, pois haverá menos dinheiro para saúde, sanea-mento, educação. Em vez de fazer o corte, o governador poderia ter adiado o recolhimento do ICMS no Estado por mais 10, 20 ou 30 dias. Isso daria fôlego às empresas, não deixaria cair a arrecadação e não prejudicaria a sociedade. O governo federal agiu desta forma e fez sua parte ao reduzir impostos. E o governo estadual, faz o quê?”

Nelsi Rodrigues da Silva, o Morcegão
Coordenador da Regional Ribeirão Pires