A reação ao sistema de fábricas

As lutas operárias no interior das fábricas têm sido objeto de estudo, nas últimas décadas, de vários historiadores e cientistas sociais. A análise de movimentos concretos, como a resistência dos operários ingleses ao sistema fabril nos primórdios da Primeira Revolução Industrial, colocam em destaque questões cujo significado político e cultural nem sempre foi devidamente compreendido.

A quebra de máquinas foi, por muito tempo, interpretada como ação espontânea e atrasada por parte de operários que não tinham consciência do seu momento histórico, seja em relação ao que estava acontecendo no mundo industrial, seja em relação ao papel revolucionário que deveriam desempenhar na transformação da sociedade.

Na realidade, o ludismo, nome através do qual esse movimento ficou conhecido, foi um movimento organizado e disciplinado, com objetivos claros. Os trabalhadores eram artesãos que estavam sendo submetidos ao sistema fabril. Lutavam pela preservação do seu mundo de trabalho, baseado na mão-de-obra qualificada e no controle do trabalhador sobre o próprio trabalho.

Lutavam contra contratação indiscriminada de aprendizes, contra a perda de qualidade do trabalho e o rebaixamento dos salários. Resistiam à nova disciplina fabril, baseada numa rígida subordinação a sistemas de controle e de vigilância do trabalho. Opunham-se à desqualificação dos trabalhadores e à apropriação do seu saber pelo capital. Destruíam as máquinas grandes e preservavam aquelas de menor porte, que podiam ser utilizadas no espaço doméstico.

Ao analisar esse movimento, o historiador inglês E. P. Thompson o caracteriza como conflito de transição entre o período pré-industrial e a indústria. Foi, com certeza, um capítulo importante da história do capitalismo industrial, cuja dinâmica tem sido impulsionada, de um lado, pelos esforços do capital de controlar os trabalhadores e aumentar  a produtividade e, de outro, pela resistência operária às formas inaceitáveis de disciplina fabril.

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