A violência e suas várias faces

Muito nos chocou o recente acontecimento que
envolveu uma criança de
12 anos encontrada acorrentada
e amordaçada, em
Goiás, na casa da mãe adotiva,
uma empresária que a
torturava há vários meses.
Tão chocante quanto o fato
foi a explicação dada pela
torturadora de que a intenção
era educá-la.

Este pode nos parecer
apenas um caso monstruoso
e isolado, mas quando
nos debruçamos sobre os
dados da violência doméstica
percebemos que, infelizmente,
não se trata de um
episódio raro.

Uma resposta instintiva
à violência é a própria
violência, e recente pesquisa
do Ibope sobre valores e
atitudes da população brasileira
parece apontar que
nós, o Brasil de bem, também
estamos agindo segundo
estes instintos e não de
acordo com os padrões de
civilidade.

Segundo o estudo, divulgado
na última semana,
um em cada quatro brasileiros
defende a prática de
tortura contra suspeitos de
crimes.

Pela transformação

Nesse quadro de selvageria
moral, social e, conseqüentemente,
institucional,
temos que lembrar
que possuímos uma história
na qual reafirmamos a
violência e o autoritarismo
como elementos fundamentais
de um sistema em que
as desigualdades se mantêm
pela opressão. Embora
tais elementos tenham
sido instrumentos para a
dominação e exploração
da classe trabalhadora, foram
por ela absorvidos, penetrando
nas casas, fábricas
e escolas.

O combate às diversas
formas de violência, portanto,
exige de nós uma profunda
reflexão, que passa também
pela autocrítica.

É possível acabar com
a violência nas fábricas, as
práticas de tortura nas delegacias
e a escravidão no
campo, por exemplo, sem
mudarmos a cultura em
casa simultaneamente?

É possível termos uma
sociedade mais justa e
mais humana enquanto
tolerarmos qualquer ação
violenta entre nós?

Departamento de Formação