ABC discute integração entre trabalho e educação
(Foto: Adonis Guerra)
No seminário regional “Educação e Trabalho: uma articulação possível”, que teve início ontem e prossegue hoje na Universidade Metodista de São Paulo, os Metalúrgicos do ABC debateram os desafios para integrar educação profissional com as demandas do mercado de trabalho.
O presidente do Sindicato, Rafael Marques, destacou a importância de uma rede nacional articulada entre trabalhadores, instituições de ensino, governo, empresários e sociedade civil.
“É fundamental o trabalhador bem preparado, feliz com sua formação e corajoso para enfrentar adversidades no mercado de trabalho”, destacou.
“O desafio é ampliar e maximizar as oportunidades, inovar, diversificar a economia e atrair investimentos para a região”, prosseguiu.
O evento é organizado pelo Consórcio Intermunicipal Grande ABC e Agência de Desenvolvimento Econômico do Grande ABC.
O secretário especial do Trabalho do Ministério do Trabalho e Previdência Social e ex-presidente do Sindicato, José Lopez Feijóo, fez uma análise sobre os desafios da educação profissional.
Confira os principais tópicos:
Tribuna Metalúrgica – Qual a importância da qualificação profissional?
José Lopez Feijóo – Em 1973, entrei na Ford e não tinha nenhuma qualificação profissional. O que eu tinha que fazer aprendi lá. Assim como eu muita gente aprendeu trabalhando, e não em bancos escolares.
Há um enorme contingente de pessoas que tem qualificação porque aprenderam na prática, mas não tem certificação. Os novos tempos exigem agregar novos conhecimentos e saberes para que possa ter condição de estar no mercado de trabalho em pé de igualdade.
TM – Como ocorreu esse processo de transformação tecnológica?
Feijóo – O impacto das inovações tecnológicas no ambiente de trabalho, com novas formas de gestão, controle de qualidade e evolução, aconteceu, muitas vezes, sem a preocupação de preparar os trabalhadores para essas novidades.
O ambiente impõe novas tarefas e a redução consequente da mão de obra. É pensar no mundo atual com a introdução de novas tecnologias, que faz tudo ficar obsoleto rapidamente.
As pessoas precisam estar em constante atualização em um processo de educação continuada.
TM – Como lidar com as novas formas de trabalho?
Feijóo – Estamos em um período de modificações. É dosar qual a quantidade de trabalho para ter uma vida digna e não se estressar a tal ponto que não consiga fazer mais nada e tenha vida pessoal, amigos e família.
Eu, por exemplo, não desligo o celular a noite toda porque não sei a que horas vão precisar que tome alguma ação que precise ser tomada. Tem pessoas plugadas 24 horas no serviço e é preciso pensar esse novo mundo de trabalho e de como a vida se desenvolve.
Não basta a educação técnica, é preciso pensar a educação humana. E como vão se desenrolar a qualificação no sentido de que as pessoas possam ser produtivas sem perder a sua humanidade e não se tornem apenas uma peça no sistema.
TM – Qual a relação entre qualificação e emprego?
Feijóo – Eu fujo da lógica de que a qualificação te dá emprego. Não é verdade. Conheço pessoas extremamente qualificadas que não conseguem um posto de trabalho. Jogar nas costas do trabalhador o fato de não ter emprego como se fosse culpa dele não faz parte da lógica.
TM – Qual a importância de o ABC articular a criação de um Plano Regional de Qualificação Profissional?
Feijóo – A região é diferente de outras porque pensou que era preciso articular e pensar o conjunto das cidades.
Não fosse a ação do próprio ABC, do movimento sindical, prefeituras e sociedade, a região já teria virado uma Detroit – cidade nos EUA considerada fantasma com a saída das montadoras – faz muito tempo.
Temos fábricas que foram transformadas pela ação e luta dos trabalhadores ao longo do tempo, que encontraram espaço de reposicionamento a partir da negociação e luta dos trabalhadores.
TM – O desenvolvimento da região passa pela educação?
Feijóo – O ABC propõe o desafio correto de que as redes de ensino têm que se articular trazendo as empresas para o debate e levantar as suas demandas para que esteja presente na formação.
A região é privilegiada com uma universidade federal, engenharias, institutos e escolas privadas de qualificação.
Da Redação