Abolição em um dia e abandono total no outro

Daniel Calazans. Foto: Paulo de Souza/SMABC

“O que aconteceu no dia seguinte a abolição da escravatura no Brasil, com a assinatura da Lei Áurea pela princesa Isabel, em 13 de maio de 1888?”, pergunta Daniel Calazans, coordenador do Comitê de Igualdade Racial dos Metalúrgicos do ABC e membro do SUR/CSE na Scania. 

“Na manhã seguinte, os negros libertos não tinham para onde ir. Muitos foram deixados na rua à própria sorte, encontrando uma situação de miséria que se arrasta até os dias atuais e são a causa das diversas desigualdades sociais”, diz.

Calazans destaca que passados 125 anos da abolição, ainda encontram-se no País casos de trabalho escravo. “Desde 1995, mais de 42 mil pessoas foram libertadas”, exemplifica.

Ele lembra que há 14 anos tramita no Congresso a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 57, que define medidas para acabar com o trabalho forçado, além de punições para quem utilizar de mão de obra escrava. “Sua aprovação é uma oportunidade de realizar uma segunda libertação”, afirma Calazans.  

Racismo

Apesar de comporem cerca de 50% da população brasileira, a presença de negros nos altos cargos das empresas ainda é muito pequena.

“Esse cenário se repete nas empresas da base”, garante o dirigente. “Mesmo na produção a presença de negros é quase ou totalmente nula”, acentua. 

“O racismo é uma herança da escravidão e ainda nutre a idéia de que o negro é inferior e incapaz de trabalhar em áreas de desenvolvimento e gestão”, considera Calazans.

“A luta contra o racismo também deve estar presente no espaço de trabalho”, concluiu. 

Da Redação