Acampamento do MST em Minas é alvo de despejo truculento
O acampamento Quilombo Campo Grande, que reúne 450 famílias sem-terra no município de Campo do Meio, sul de Minas Gerais, foi alvo de despejo iniciado na madrugada desta quarta-feira, 12. A ação envolveu dezenas de viaturas e policiais de outras cidades. Na área, estava em construção um polo de conhecimento e tecnologia em agroecologia.
A reintegração de posse, que prevê a retirada da vila de moradores e da estrutura da Escola Popular Eduardo Galeano, foi emitida pela Justiça estadual mesmo sob decreto de calamidade pública devido à pandemia do novo coronavírus. Durante o dia, as famílias seguiam no local tentando negociar a permanência na área.
Integrantes da coordenação do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) denunciaram que a responsabilidade por feridos em decorrência de um conflito direto com as forças policiais é do governador Romeu Zema (Novo), que permitiu o despejo.
Segundo o MST, a decisão descumpre acordo firmado em mesa de diálogo sobre o conflito, para que as famílias permanecessem no local enquanto houvesse necessidade de isolamento social.
Ainda de acordo com o movimento, a truculência policial é frequente contra os acampados. Em 30 de julho, mais de 20 policiais invadiram casas no acampamento e prenderam o sem-terra Celso Augusto, conhecido como Celsão, que foi liberado no mesmo dia.
Conforme relataram os acampados, os agentes entraram nos imóveis armados de fuzis e pistolas, quebrando portas e janelas. O MST denunciou ainda que, no dia anterior ao despejo, a polícia rondou o acampamento com viaturas e drones, intimidando as famílias.
“Toda nossa solidariedade às famílias acampadas que tiram dessa terra seu sustento e seus sonhos. Mais uma vez na história do nosso país, governantes expõem suas práticas cruéis, insensíveis e perversas que afetam a vida da classe trabalhadora. Pessoas que estão dentro de castelos protegidos, inclusive pelos impostos que pagamos, colocam serem humanos na rua em meio à pandemia. Os Metalúrgicos do ABC estão juntos com o MST, nossos irmãos em mais essa luta”, declarou o diretor executivo do Sindicato, Carlos Caramelo.
Referência na produção agroecológica
As famílias do Quilombo Campo Grande ocupam o terreno desde 1998 e são referência na produção agroecológica. A região do sul de Minas, conhecida por ser a maior produtora de café do Brasil, é berço do café orgânico e agroecológico Guaií. Os agricultores também desenvolvem atividades como plantio de cereais, milho, hortaliças e frutas.
Com a iminência da reintegração de posse, o Quilombo recebeu dezenas de vídeos e manifestações de solidariedade. Cartas foram enviadas ao Tribunal de Justiça de Minas Gerais e uma petição online contra o despejo envolveu representantes de 24 países, 32 entidades internacionais e nacionais, e outros 98 coletivos.
Com informações do Brasil de Fato e do MST