“Ações do governo federal estão sendo duramente disputadas”, diz Rafael

Foto: Adonis Guerra

O governo federal anunciou nas últimas semanas im­portantes medidas para o desenvolvimento do Brasil.

A assinatura de 35 acordos com a China, com previsão de mais de R$ 160 bilhões em investimentos de projetos em infraestrutura, e outros R$ 198,4 bilhões para logística de transportes.

O presidente do Sindicato, Rafael Marques (foto), avaliou as medidas divulgadas e criticou a interferência do sistema financeiro, dificultando a retomada do crescimento do País.

Tribuna Metalúrgica – O que estas medidas representam para os traba­lhadores e para o País?

Rafael Marques – Medidas como essas tiram do centro o ajuste fiscal, que está acontecendo, e coloca me­didas de crescimento, com ações que geram emprego, que recuperam a confiança e tiram o pessimismo da sociedade.

TM – Essas medidas serão suficientes?

RM – Essa recuperação será aos poucos. Tivemos um primeiro semes­tre difícil e só estes dois anúncios não são suficientes para dar condições de sair do atoleiro que nós vivemos neste período.

TM – Como você avalia essa posição do governo federal?

RM – É começar a olhar para frente. O governo federal e a presi­denta Dilma Rousseff reestabelecem os compromissos feitos durante a campanha do ano passado e que fez dela vencedora. Esse é um caminho.

TM – O que significa o acordo entre o Brasil e a China?

RM – É uma pena que a imprensa comercial brasileira, tão compro­metida com a agenda negativa, do pessimismo, não tenha divulgado corretamente esse passo tão impor­tante para o País. A China não é problema, é solução. As relações do Brasil com os Estados Unidos não se desfizeram, mas ampliamos as rela­ções comerciais com outras nações e outros continentes e entre esses países está a China.

TM – O que essa relação comercial pode trazer ao País?

RM – A China é uma alternativa positiva. Com o investimento local em logística, em rodovias e até em setores industriais, a China pode fortalecer o nível de relações no próprio Mercosul, foi um acordo tão importante, que a imprensa internacional cobriu o anúncio ao vivo, enquanto a imprensa brasileira não tratou do tema com a profun­didade que ele merece.

TM – O que esse acordo representa para o Brasil nas relações mundiais?

RM – O estreitamento das rela­ções entre os Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) cria um eixo alternativo e muito impor­tante já que, neste momento de crise nos países em desenvolvimento, estamos vendo a volta do G7 (os sete países mais ricos do mundo), com uma agenda de interesses deles.

TM – Como isso afeta os trabalha­dores no Brasil?

RM – A globalização está con­solidada no meio capitalista e não está entre os trabalhadores e é bom que a categoria saiba pela Tribuna, já que não se publica na imprensa comercial, que os bancos manipu­laram a cotação do real frente ao dólar e essa operação durou dois anos e durante esse tempo o Brasil foi extremamente explorado, com as reservas transferidas, produção transferida. Bancos como o J.P. Morgan, como o Barkleys e o City­Bank manipularam artificialmente o real frente ao dólar e estão sendo condenados nos Estados Unidos a pagar multas bilionárias e isso mos­tra como a globalização aconteceu para o grande capital e não aconte­ceu para os trabalhadores.

TM – Como você classifica essa ação do sistema financeiro mundial?

RM – Isso afeta a soberania dos países. O Brasil é governado hoje por um grupo político que afirma a soberania, mas a globalização tirou do País a cotação da nossa própria moeda. Esse processo é corrosivo para a economia, a luta de classes, que se dá na exploração de países contra outros países, os grandes versos aqueles que estão em desen­volvimento.

TM – O que a manipulação da moe­da brasileira provocou na economia?

RM – A nossa indústria empo­breceu, perdeu competitividade, deixou de exportar e o mercado passou a importar e explorar o mercado interno e se apropriou da inclusão de 42 milhões de pessoas que ascenderam à classe média, resultado de uma política de dis­tribuição de renda. Empresas de fora do País exploram o mercado interno, isso é um absurdo.

TM – O que ainda está travando a economia no Brasil?

RM – A taxa de juros que não pode estar nesse patamar, somente justificando o combate a inflação, que é importante, mas não pode inviabilizar as medidas pelo cresci­mento.

TM – O que esta taxa representa para o crescimento?

RM – Empurra o País para a re­cessão. Quem tem dinheiro aplica no sistema financeiro e não consome, aumenta a dívida do governo que tem que remunerar quem compra seus tí­tulos no mercado. Isso é um tiro no pé.

TM – E as medidas de concessões para o setor de logística?

RM – É um caminho importante porque sinaliza a retomada do inves­timento e nós, metalúrgicos do ABC, que temos a reivindicação da Reno­vação da Frota de Caminhões, temos que convencer a incluir esse Programa neste plano de logística. Cabe no plano de logística e precisamos atuar para que isso aconteça. Tem estudo de im­pacto ambiental, de produtividade, de geração de emprego.

TM – O que falta para conquistarmos essas reivindicações?

RM – A agenda do governo está sendo duramente disputada pela ciranda financeira internacional, por nós trabalhadores, pelo setor empresarial. Essas medidas recentes sinalizam que estamos na disputa. As mobilizações que os metalúrgicos do ABC, a CUT e demais centrais realizaram foram por esta disputa, que não é fácil. Isso não é apenas uma decisão da presidenta Dilma Rousseff, mas é um tabuleiro, as peças estão se movimentando. Se fosse deixar pelos empresários e pelo sistema financei­ro, esta crise que estamos vivendo em 2015 já teria acontecido e seria mais grave do que está sendo, que já é grave, mas seria mais ainda. É por isso que não podemos deixar de lutar, temos que continuar na luta porque é isso que fará com que o processo de medidas esteja em sintonia com o que defendemos.

Da Redação.