Ações serão vitais para estimular o mercado interno e garantir a economia no País
Durante encontro mantido ontem com a diretoria dos Metalúrgicos do ABC, o diretor executivo do Fundo Monetário Internacional no Brasil (FMI), Paulo Nogueira Batista Júnior (foto), alertou sobre os reflexos da crise da economia internacional no mercado brasileiro.
Em entrevista à Tribuna, o diretor do Fundo Monetário Internacional declarou que não existe em um horizonte visível o risco de choque abrupto no País, como na crise de 2008 e 2009, mas para o Brasil se manter firme vai depender muito da capacidade própria de resolver os problemas internos, aumentar a competitividade para ganhar mercados externos e gerar empregos. Confira abaixo a análise na íntegra.
Tribuna Metalúrgica – O que é importante para o trabalhador saber dentro do cenário internacional?
Paulo Nogueira Batista Júnior – A situação internacional continua difícil. Houve alguma recuperação na economia americana, inclusive com queda importante na taxa de desemprego, mas grande parte da economia mundial ainda enfrenta problemas graves. A Europa está em fase de estagnação prolongada, com crises muito agudas em alguns países. O Japão não conseguiu se recuperar e até enfrentou um período de recessão recentemente, apesar de ter tomado uma série de medidas. A China, que vinha crescendo a taxas extraordinárias, está sofrendo certa desaceleração.
TM – Como fica a economia do Brasil?
PNB – Vários fatores que determinam a economia brasileira estão evoluindo de maneira adversa. Por exemplo, os preços dos produtos primários que o Brasil exporta, como o minério de ferro e a soja. Muitos deles sofreram queda importante. O Brasil tem seus problemas gerados domesticamente, porém fica mais difícil corrigi-los quando o mercado internacional não está ao nosso favor.
TM – De que forma a crise internacional afeta o País?
PNB – A crise prejudica e dificulta, mas eu não acredito que exista no horizonte visível um risco de choque abrupto, como o que a economia internacional sofreu em 2008 e 2009. Mas é uma situação delicada que vai depender muito da capacidade do Brasil de resolver os seus próprios problemas. Não vai ter muito vento externo a nosso favor.
TM – Este cenário atrapalha o Brasil e as montadoras?
PNB – O Brasil terá de disputar investimentos e mercados. É muito importante ter uma política econômica organizada que apoie as grandes empresas brasileiras e as estrangeiras que operam aqui na busca de mercados. Um fator que atrapalhou muito nos últimos 15 anos é a tendência da moeda muito forte no Brasil. Agora, com certa depreciação da moeda, acho que cada vez mais fará sentido a redução dos custos de produzir no Brasil em moeda estrangeira.
TM – Quais os pontos positivos e negativos da depreciação da moeda?
PNB – Isso implica em maior capacidade de competir no exterior e maior capacidade de substituir a produção internacional por produção doméstica, com empregos gerados aqui. Esse fator depreciação, embora traga custo a curto prazo, que é uma alta da inflação, vai ser positivo para recuperar a competitividade internacional da economia.
TM – E quais outras medidas devem ser tomadas?
PNB – Tem uma série de políticas de crédito, políticas fiscais coerentes, política industrial, política de bancos públicos. É todo um conjunto de políticas que precisa ser mobilizado para conquistar mercados externos e preservar os mercados internos para a produção nacional.
Da Redação