Acordo de livre comércio Mercosul e União Europeia está na contramão do processo de reindustrialização do país

Além da preservação ambiental, acordo precisa valorizar investimentos na produção nacional, com transição justa e que inclua os trabalhadores

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Com o encontro entre o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, na segunda-feira, dia 12, há a expectativa de conclusão do acordo de livre comércio entre os países do Mercosul e da União Europeia ainda neste ano.

O diretor administrativo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, ressaltou que o Sindicato acompanha o desenrolar das negociações desde sua retomada, em 2017, e tem alertado sobre os riscos caso o acordo não contemple a indústria nacional.

Foto: Adonis Guerra

“Agora temos um governo que nos dá a possibilidade de discutir e propor a reindustrialização do Brasil com geração de empregos, que aponte para a nova indústria, que seja menos insalubre, menos poluente, alinhada às boas práticas ambientais, com sustentabilidade econômica, social e ambiental”, destacou.

“Temos condições de fazer uma transição justa, que agregue valor e que contemple os trabalhadores no processo de implantação de novas tecnologias, com capacitação profissional”, defendeu.

Perder oportunidades

Porém, o dirigente alerta que o país pode perder essa oportunidade se o acordo não garantir que o Brasil possa também fazer essa transição.

“O acordo precisa contemplar não só a discussão do meio ambiente, com preservação das nossas matas, mas é fundamental que o Brasil possa se beneficiar de investimentos nessa nova produção menos poluente”.

“Caso contrário, a nossa indústria estará em risco. E, se sobrar algo, o Brasil poderá ficar apenas com a indústria que a Europa não quer, poluente, que paga mal, insalubre, que recolhe pouco tributo e não contribui para a construção da riqueza nacional”, avaliou.

Transição energética

O dirigente também destacou os impactos na transição energética. “Temos como desenvolver os potenciais energéticos do Brasil, com geração de energia solar, eólica, hídrica, energia a partir de etanol e de outros combustíveis. Sem indústria, perderemos também a oportunidade da transição energética”. 

Encontro

Foto: Ricardo Stuckert

Durante encontro em Brasília com a presidenta da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Lula criticou o dispositivo acrescentado ao acordo Mercosul e União Europeia que prevê a aplicação de sanções em caso de descumprimentos de obrigações dos países signatários.

“Expus à presidente von der Leyen as preocupações do Brasil com o instrumento adicional ao acordo, apresentado pela União Europeia em março deste ano, que amplia as obrigações do Brasil e as torna objeto de sanções em caso de descumprimento. A premissa que deve existir entre parceiros estratégicos é da confiança mútua, não de desconfiança e sanções”, disse Lula.

Prejudicial ao país

O acordo é negociado desde 1999. Com a retomada das negociações, em 2017, o Sindicato se posicionou contra o acordo por entender que a União Europeia preserva setores estratégicos da indústria enquanto o Brasil abre mão dessas proteções, isso com base no pouco de informação que existia e da falta de transparência no processo. 

Assinado no meio de 2019, foi comemorado pelo então governo, mesmo que seja extremamente prejudicial ao país. No ano seguinte, os blocos finalizaram os aspectos políticos e de cooperação e, desde então, está em fase de revisão.