Acordo na Volks garante fábrica por dez anos

Proposta aprovada em assembleia também garante reajuste salarial acima da inflação, PLR negociado por cinco anos e o desenvolvimento e produção de dois novos modelos na planta


Wagnão fala durante a assembleia na Volks. Foto: Raquel Camargo / SMABC

Trabalhadores na Volks aprovaram, durante assembleia nesta quinta-feira (29/3), a proposta que garante a permanência da fábrica em São Bernardo por dez anos, reajuste salarial acima da inflação, PLR negociado por cinco anos e o desenvolvimento e produção de dois novos modelos na planta. O secretário-geral do Sindicato e trabalhador na Volks, desde 84, Wagner Firmino Santana, o Wagnão, falou à Tribuna Metalúrgica sobre o acordo.

Tribuna Metalúrgica – Quais são os principais pontos desta proposta?
Wagner Santana – São quatro. Primeiro, estabelece o formato diferente de negociação para a data-base, que preserva a inflação do período e prevê para 42 meses os aumentos reais, aliados a um abono em 2013 e a garantia de renovação da convenção coletiva por cinco anos. Tudo isso é inédito. São cinco anos de garantia das cláusulas sociais. O segundo ponto é que estamos garantindo uma negociação de PLR maior que em 2011 e reajuste pela inflação do período mais aumentos reais anuais de 2%. Isso também é importante por que nós não sabemos como estará a economia daqui a três, quatro anos. Também estabelece que a fábrica que surgirá desse acordo, manterá a produção próxima dos níveis atuais. Então nós estamos estabelecendo uma PLR maior, que cresce anualmente independente de uma produção sujeita as instabilidades do mercado. Os outros destaques são a garantia de novos produtos que sustentarão está planta pelos próximos dez anos e descartam a possibilidade de uma nova fábrica para esses volumes e produtos. Também, durante a vigência do acordo, com exceção dos aposentados, só sairão trabalhadores da fábrica que quiserem aderir ao pacote de forma voluntária.  

TM – O que significa estabelecer uma política salarial por cinco anos e com isso manter a fábrica funcionando por esse período?
WS – Na verdade, o acordo garante a fábrica por mais que cinco anos, por que não se faz um carro para um ano apenas. A média na Europa é, no mínimo, sete anos. No Brasil é mais. Nós temos aí o Gol, que já está completando 32 anos. Ao lançar esses produtos a partir de 2015, significa dizer que até 2022, mais ou menos, nós teremos produto para essa planta. Os produtos novos geralmente ocupam menos mão-de-obra e é a saída por meio de PDV e aposentadorias a forma de administrarmos essa redução de maneira menos traumática, tirando da empresa o poder da demissão.

TM – Você já viveu muitos períodos para manter essa fábrica, não é uma história nova. Qual análise faz dessa negociação em relação às outras que foram feitas? 
WS – Essa história começa em 94, quando pela primeira vez, a Volks tomou a decisão de fechar a fábrica da Anchieta. A diferença é que nós sempre negociamos em meio à crise e quedas na produção e, desta vez, não existem esses ingredientes, mas vislumbramos outro cenário, que é o da concorrência acirrada que vem ampliando o mercado automobilístico. Neste cenário, quanto mais produtos as montadoras ofertarem, mais chance tem de sobreviver nesse mercado altamente competitivo. Nós estamos falando de sete ou oito empresas que anunciaram a instalação de fábricas no Brasil. Quando uma empresa apenas importa veículos, se limita a dois ou três modelos, quando ela opta em produzir ela aumenta sua capacidade de participação no mercado. Esse é o cenário que nós estamos visualizando, com 20, 30 montadoras. Só para se ter uma idéia, no ano passado, no Brasil, foram licenciados 240 modelos diferentes de carros.

TM – De um modo geral o que é mais importante nesse acordo?
WS – Este acordo é importante não só para os trabalhadores na Volks, mas para toda a região. Aquilo que está em volta dela, toda a cadeia produtiva do ABC, para o setor de autopeças, do polo-petroquímico e químico, do comércio, entre outros. Todos se beneficiam com um acordo desse e a região mantém o poder de consumo e se mantém economicamente forte e ativa. Isso é importante.

Da Redação