“Acordo precisa ser revisto e considerar o que é prioridade para o Brasil”
Presidente Lula disse ter expectativa de concretizar projeto efetivo de integração ainda no primeiro semestre deste ano
A Direção do Sindicato acompanha com atenção o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, uma das pautas do encontro bilateral na última segunda-feira, dia 30, entre o presidente Lula e o chanceler alemão Olaf Scholz, em Brasília. Lula disse ter a expectativa de concretizar um projeto efetivo de integração ainda no primeiro semestre deste ano.
O diretor Administrativo dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Damasceno, deixa claro que a categoria não é contra fazer um acordo de livre comércio, mas a favor de que o mesmo não prejudique o desenvolvimento e o parque industrial da região.
“Temos cobrado que o Mercosul defenda as questões regionais, nossas potencialidades e que seja um acordo justo, que ele permita que a gente possa avançar naquilo que a gente é competitivo, que os europeus possam avançar no que são competitivos, mas que permita que a gente também possa desenvolver tecnologia, indústria e garantir empregos no Brasil. Esse era o grande ponto da discussão”, defendeu.
O dirigente explica que a integração, sobretudo regional, é extremamente importante e estratégica. “O bloco europeu é muito forte e coeso. Daí, a necessidade de fortalecermos o Mercosul para que tenha maior poder de negociação”.
“Internamente, há grande integração na produção e comercialização de bens. Brasil e Argentina, que são os maiores países da América do Sul, possuem indústrias complementares e estão entre os maiores parceiros comerciais um do outro. E a Argentina é o principal comprador de veículos do Brasil, ponto que interessa muito a nossa categoria. Porém, temos grandes dificuldades em exportar para fora do Mercosul”.
“Então, é possível a gente aumentar cada vez mais a integração no sentido de ter uma cadeia produtiva e mais articulada dentro dos países da América do Sul, desenvolver tecnologias e alternativas que olhe para a nossa região”, garantiu.
Para Wellington, a região não irá avançar rapidamente na eletrificação veicular, mas é possível discutir a hibridização, pensar em alternativas de combustível, em desenvolvimento de motores menos poluentes de forma conjunta.
“Isso, quando, tratamos do setor automotivo, mas é possível pensar soluções nos variados seto-res de interesse da região. Essa integração é estratégica do ponto de vista do desenvolvimento econômico, social, da geração de emprego e da melhoria de vida dos nossos povos aqui, o que não impede da gente comercializar e discutir com o mundo inteiro, desde que seja em condições justas e equivalentes, que permitam que os países em ambos os blocos possam crescer sem ter qualquer trava em seu respectivo desenvolvimento”.
Risco
No caso da União Europeia e Mercosul, como explica o diretor Administrativo, a maioria das matrizes que operam no continente sul-americano são de origem europeia. A tendência é que essas empresas concentrem a produção nos países de origem, tirem produção daqui da América do Sul e aumente a sua exportação para cá respectivamente.
“Quando se trata de produtos manufaturados esse é o grande risco já que não temos muitas empresas de capital nacional para fazer desenvolvimento e ter a decisão saindo daqui e, em con-trapartida, a maioria delas está em solo europeu”, alertou Wellington.
“O acordo precisa ser visto com essas premissas e nós precisamos ter maior integração com o mundo, mas sem deixar de levar em consideração aquilo que é prioridade para o nosso país”.
Tempo
Negociado por mais de 20 anos, o acordo teve anúncio da conclusão geral em 2019. Desde então, o tratado precisa ser internalizado e ratificado por cada um dos Estados integrantes de ambos os blocos para funcionar. Isso significa que terá de ser aprovado pelos parlamentos e governos nacionais dos 31 países envolvidos. O acordo, negociado a toque de caixa no governo Temer, entrega a nossa indústria em troca da exportação de commodities.