Airbag obrigatório já mexe com fabricantes, apesar de faltarem cinco anos
Em comum, só a opinião de que o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito será reduzido gradualmente, de acordo com o aumento de utilização do equipamento; obrigatoriedade só começa a valer em cino anos
A obrigatoriedade da instalação dos airbags em automóveis vendidos no Brasil, mesmo que prevista para vigorar em no mínimo cinco anos, já começa a mexer com a indústria automobilística. De um lado as montadoras, que vinham experimentando a aceitação do produto pelo consumidor nos últimos anos. Do outro fornecedores, que se preparam para um crescimento rápido da demanda após a aprovação da legislação. Em comum, a opinião de que o número de vítimas fatais em acidentes de trânsito será reduzido gradualmente, de acordo com o aumento de utilização do equipamento.
Conforme a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, publicada nesta quinta-feira no Diário Oficial da União, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) irá elaborar as especificações técnicas e o cronograma de implementação do airbag para o motorista e passageiro do banco da frente. Após a publicação do órgão, as montadoras terão um ano para se adaptarem às exigências e outros cinco para que toda a frota de automóveis saia de fábrica com o equipamento. A regra vale também para modelos importados, ficando de fora apenas os que serão exportados. A obrigatoriedade do airbag foi aprovada pela Câmara dos Deputados em fevereiro deste ano e pelo Senado Federal em março de 2007.
A nova lei servirá, no mínimo, para obrigar os fabricantes de veículos a rever suas estratégias. Enquanto colocam o airbag em todos os carros produzidos nos seus países de origem – Estados Unidos, Europa e Japão – no Brasil, as montadoras transformaram o equipamento em um item de luxo. O airbag é inexistente nos carros mais simples e opcional nos de médio custo, mas está presente em todos os modelos chamados “top de linha”.
O consumidor mostra que, independentemente da lei, seu interesse nesse tipo de proteção depende do custo. Quando a Fiat reduziu o preço do kit airbag mais freios ABS pela metade, no ano passado , a demanda pelo opcional na linha Palio aumentou de 3% para 8%.
O Centro de Experimentação e Segurança Viária (Cesvi) estima que o airbag está em 4% a 4,7% da frota brasileira de automóveis. O índice ainda é baixo porque o item representa um custo adicional alto no preço dos carros mais simples, que são os mais vendidos. O kit airbag e freios ABS da Fiat custa, em média, R$ 2,7 mil. Isso equivale a menos de 5% do preço no caso de um Stilo, mas 12% num Palio Fire.
Para o analista técnico do Cesvi, André Horta, mesmo que represente um custo adicional, não há dúvidas de que o airbag, em conjunto com o cinto de segurança, reduz o número de vítimas fatais e de feridos em acidentes de trânsito. Um estudo elaborado pelo Cesvi calcula uma economia de R$ 90 milhões por ano em gastos de atendimento e socorro a vítimas de acidentes. O levantamento leva em conta dados do Ministério da Saúde entre 2001 e 2007. No mesmo intervalo, o número de vidas salvas seria de 3,4 mil.
Segundo o diretor de planejamento e estratégia do produto da Fiat, Carlos Eugênio Fonseca Dutra, mesmo sem a lei, a necessidade de equipar os carros com airbag aconteceria naturalmente por volta de 2014 em razão do rigor das normas de segurança. “Seria impossível seguir normas que virão sem colocar airbag nos carros”, afirma.
Hoje o airbag é importado e Dutra não acredita que o custo baixe o suficiente para se tornar acessível nos carros mais baratos mesmo com a perspectiva do início de produção nacional. Ele cita o caso do Uno. Esse modelo precisaria de adaptações para receber o airbag. Para o executivo, não se trata de colocar o equipamento, mas de quanto isso elevará o preço de um carro que hoje tem preço acessível.
O presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Jackson Schneider, sugere a desoneração tributária do item como forma de baixar o custo. “Trata-se de um item voltado à segurança e a partir de agora obrigatório”, destaca.
A TRW pretendia construir uma fábrica para a produção de airbags no país já neste ano, mas em função da retração das vendas congelou o projeto. Agora, com a sanção da Lei, aliada a recuperação das vendas no início do ano, a TRW planeja o investimento na nova unidade para o ano que vem. Segundo Nivaldo Siqueira, gerente de desenvolvimento de negócios da TRW, o valor da fábrica de airbags gira em torno de R$ 15 milhões, e a capacidade inicial será entre 120 e 150 mil peças por ano.
Além da TRW, que hoje importa da Europa os equipamentos, fornecem para os automóveis produzidos no Brasil as fabricantes Autoliv e a Takata-Petri.
Do Valor Econômico